Dieta brasileira: mulheres e adultos mais velhos levam alimentação inadequada, aponta estudo

Dieta brasileira: mulheres e adultos mais velhos levam alimentação inadequada, aponta estudo

dieta brasileira
Fonte: Canva.com

Atualmente, o Brasil enfrenta uma dupla carga de má nutrição, onde a obesidade e as doenças crônicas relacionadas à dieta coexistem com a desnutrição, incluindo deficiências de vitaminas e minerais.

Grande parte desta situação ocorre por conta das diversas inadequações na dieta brasileira. Entretanto, para compreender o cenário da alimentação nacional de modo mais assertivo, estudos populacionais são sempre bem-vindos.

De modo a atualizar os conhecimentos sobre a dieta brasileira atual, uma nova pesquisa teve em vista investigar seu consumo médio de macros e micronutrientes, com interesse em diferentes gêneros e grupos etários. Os resultados não foram nada animadores, especialmente para mulheres e adultos mais velhos. Confira a seguir.

Mais de 1.800 brasileiros participaram da pesquisa

Este recente estudo descritivo e transversal foi conduzido utilizando dados do Estudo Brasileiro de Nutrição e Saúde (EBANS), uma pesquisa multicêntrica que visou avaliar o estado nutricional, atividade física e ingestão alimentar de indivíduos em oito países latino-americanos.

A atual investigação focou apenas em indivíduos na fase adulta (19 a 65 anos), de ambos os sexos, totalizando uma amostra final de 1.812 participantes.

Os autores extraíram dados sociodemográficos e antropométricos, obtidos por uma equipe treinada durante duas visitas domiciliares. Tais informações incluíam peso, altura, IMC, idade, sexo, nível educacional e socioeconômico. 

Os participantes também preencheram o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), sendo categorizados como ativos (≥150 min/semana) ou insuficientemente ativos (<150 min/semana).

Já em relação à alimentação, esta foi avaliada por dois recordatórios alimentares de 24 horas. Os participantes também relataram o uso de qualquer tipo de suplemento nutricional.

A tabela abaixo expressa as referências e recomendações utilizadas pelos autores, a fins de comparação com a real dieta dos brasileiros analisados.

Nutriente Referência/recomendação
Macronutrientes Acceptable Macronutrient Distribution Range (AMDR)

  • Carboidratos: 45 a 65% das calorias
  • Gordura: 20 a 35% das calorias
  • Proteína: 10 a 35% das calorias
Fibras Organização Mundial da Saúde (OMS)

  • 25 g/dia para homens e mulheres
Gordura saturada Organização Mundial da Saúde (OMS)

  • < 10% das calorias
Açúcar adicionado Diretrizes Dietéticas para Americanos 2020–2025

  • < 10% das calorias
Micronutrientes (vitaminas e minerais) Metas de ingestão da Dietary Reference Intake (DRI) propostas pelo Institute of Medicine (IOM), considerando a necessidade média estimada (EAR) de cada sexo e faixa etária

Leia também: Novas diretrizes da OMS para gorduras e carboidratos 

Baixo consumo de fibras e micronutrientes, alto consumo de gordura saturada e açúcar

Os resultados mostraram diversas inadequações nutricionais na alimentação brasileira, principalmente para as mulheres e adultos mais velhos. 

Macronutrientes

A contribuição média para a ingestão total de energia de todos os três macronutrientes estava dentro da faixa recomendada, para todas as faixas etárias.

Entretanto, o consumo médio diário de proteínas pareceu diminuir com a idade:

  • Jovens adultos (19–30 anos): 84,3 g/dia
  • Meia-idade (31–50 anos): 78,9 g/dia
  • Adultos mais velhos (51–65 anos): 69,9/dia

Fibras

Mais de 80% dos adultos brasileiros tiveram ingestão de fibras abaixo da recomendação, independentemente da faixa etária. Esse cenário foi ainda pior em mulheres, com a prevalência de inadequação excedendo 90%.

Gordura saturada

As mulheres apresentaram maior prevalência de ingestão excessiva de gordura saturada do que os homens, nas faixas etárias de meia-idade e adultos mais velhos.

Açúcar adicionado 

Houve uma alta prevalência de brasileiros consumindo açúcar adicionado acima do valor de referência, e o consumo excessivo foi ainda maior em mulheres.

Em ambos os sexos, adultos mais jovens apresentaram as maiores frequências de ingestão excessiva, enquanto menores valores foram observados entre adultos mais velhos.

Vitaminas e minerais

Os resultados mostraram uma alta probabilidade de inadequação (acima de 90%) para as vitaminas D e E. Especificamente para a vitamina E, essa teve maior probabilidade de ser consumida inadequadamente entre as mulheres.

Em relação aos minerais, foi encontrada uma alta probabilidade de inadequações de cálcio e magnésio na população. 

A probabilidade de inadequações dos outros minerais aumentou com a idade, com exceção do ferro. Por outro lado, a inadequação de ferro em mulheres foi maior do que em homens, em todas as faixas etárias.

Conclusão

Em  resumo, os resultados mostraram uma proporção relevante de inadequações de nutrientes, sendo que as mulheres e indivíduos mais velhos estavam em maior risco. 

Sendo assim, os autores defendem que estes achados devem ser usados como base para políticas públicas governamentais, programas e intervenções na prática clínica de profissionais de saúde. 

Promover o consumo de alimentos adequados e ricos em micronutrientes, fortalecer a fortificação de alimentos e a suplementação nutricional, especialmente para grupos de risco, são algumas estratégias valiosas para aliviar tais inadequações. 

Para ler o artigo completo, clique aqui.

Se você gostou deste conteúdo, leia também:

Cursos que podem te interessar:

Referência:

Fisberg M, Duarte Batista L, Previdelli AN, Ferrari G, Fisberg RM. Exploring Diet and Nutrient Insufficiencies across Age Groups: Insights from a Population-Based Study of Brazilian Adults. Nutrients. 2024; 16(5):750. https://doi.org/10.3390/nu16050750

Pós-graduação de Nutrição Clínica

Compartilhe este post