Diretriz brasileira para doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD)

Diretriz brasileira para doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD)

doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica
Fonte: Canva.com

A doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MASLD) é definida como a presença de esteatose em mais de 5% dos hepatócitos, na ausência de consumo excessivo de álcool (≥30g/d para homens ou ≥20 g/d para mulheres) ou outras doenças hepáticas crônicas.

Anteriormente, a MASLD era conhecida como “doença hepática gordurosa não alcoólica” (DHGNA). Entretanto, considerando a disfunção metabólica como o principal processo patogênico para a doença, sua nova nomenclatura é amplamente aceita por sociedades de saúde brasileiras e internacionais.

Em nova diretriz, foram estabelecidas 48 recomendações de triagem, diagnóstico e tratamento da MASLD em indivíduos com sobrepeso ou obesidade.

O documento foi realizado sob participação conjunta da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM), da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) e da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). 

A seguir, confira os principais destaques deste novo material. 

MASLD: Triagem e diagnóstico

A triagem para MASLD deve ser considerada em todos os indivíduos adultos com índice de massa corporal >25 kg/m², ou >23 kg/m² para a população asiática. A prevalência da doença pode chegar a até 80% em indivíduos com obesidade.

Em pacientes com sobrepeso/obesidade, recomenda-se a ultrassonografia abdominal, por ser um método não invasivo, fácil e barato. Contudo, embora a ultrassonografia detecte a presença de esteatose, pode subestimá-la e não quantifica seu grau, além de gerar uma avaliação pouco confiável naqueles com IMC ≥35 kg/m².

Por isso, a ressonância magnética com fração de gordura com densidade de prótons (RM-PDFF) pode ser considerada no rastreamento e quantificação MASLD. Este método possui maior acurácia em pacientes com obesidade e maior sensibilidade para detecção de esteatose hepática ≥ 5%.

Para pacientes com excesso de peso, gordura no fígado e/ou nível aumentado de transaminases, outras doenças hepáticas também devem ser descartadas antes de diagnosticar a MASLD, tais como hepatites, doença celíaca e uso crônico de medicamentos e álcool.

Em pacientes com confirmação da doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica, recomenda-se a aplicação do índice Fibrosis-4 (FIB-4) para investigar fibrose avançada. Métodos alternativos incluem a elastografia transitória controlada por vibração (VCTE), teste aprimorado de fibrose hepática ou biópsia hepática.

Acompanhamento da esteatose hepática metabólica

Na presença de doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica, o acompanhamento dos pacientes deve ser frequente, avaliando a progressão da doença e resposta ao tratamento. A frequência será definida pela presença de condições associadas, sendo que:

  • Pacientes sem fibrose avançada: realizar a cada 2 ou 3 anos, utilizando escores clínicos/laboratoriais;
  • Pacientes com fibrose em estágios 2 e 3: reavaliar a cada 12 meses;
  • Pacientes com cirrose hepática: reavaliar a cada 6 meses (rastrear carcinoma hepatocelular por ultrassonografia).

Em pacientes com sobrepeso/obesidade, biomarcadores séricos e VCTE podem ser considerados para monitorar a progressão da fibrose. Além disso, a biópsia hepática para acompanhamento da MASLD pode ser considerada a cada 5 anos (ou antes, se houver suspeita de progressão da doença).

Tratamento nutricional da doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica

No tratamento da esteatose hepática metabólica, mudanças no estilo de vida visando a perda de peso são consideradas uma estratégia primária para retardar o desenvolvimento e progressão da doença. Nesse sentido, uma redução maior que 7% do peso corporal deve ser o objetivo. 

Independente da perda de peso, a dieta mediterrânea é considerada um bom padrão dietético, com estudos mostrando redução na infiltração de gordura e na rigidez hepática.

Em termos de macronutrientes, a substituição de carboidratos por proteínas, e de gorduras saturadas por insaturadas pode ser eficaz na diminuição da gordura hepática. Os especialistas não recomendam substituir gorduras por carboidratos. 

Para evitar a progressão da MASLD, o consumo regular de 1 a 3 xícaras de café por dia é uma estratégia associada a um risco reduzido de fibrose hepática e cirrose. O tratamento com vitamina E (800 UI/d) também é considerado para a melhora da doença, em pacientes não diabéticos.

Ademais, os autores não recomendam o consumo excessivo de frutose na forma de açúcar livre e bebidas açucaradas, nem o consumo de alimentos ultraprocessados. O consumo seguro de álcool não foi estabelecido, com resultados científicos controversos.

Outros tratamentos

Em consonância à alimentação, recomenda-se a adesão ao exercício físico aeróbico e resistido, de intensidade moderada a alta, pelo menos 3x por semana.

Além das recomendações de estilo de vida, a terapia farmacológica foi indicada, orientando o uso de análogos do GLP-1 ou agonistas do receptor do GLP-1 para reduzir a esteatose. Em pacientes com DM2, sugere-se o uso de inibidores de SGLT2. Metformina e orlistat não são recomendados.

Por fim, em indivíduos com obesidade classe 2 ou 3, a cirurgia bariátrica parece ser eficaz na redução da esteatose, melhorando os resultados hepáticos a longo prazo.

Para saber mais sobre a diretriz e suas recomendações, leia o material na íntegra clicando aqui. 

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Referência:

Moreira RO, Valerio CM, Villela-Nogueira CA, Cercato C, Gerchman F, Lottenberg AMP, Godoy-Matos AF, et al. Brazilian evidence-based guideline for screening, diagnosis, treatment, and follow-up of metabolic dysfunction-associated steatotic liver disease (MASLD) in adult individuals with overweight or obesity: A joint position statement from the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism (SBEM), Brazilian Society of Hepatology (SBH), and Brazilian Association for the Study of Obesity and Metabolic Syndrome (Abeso). Arch. Endocrinol. Metab. 2023;67(6):e230123.

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