Principais erros na gestão dietética da síndrome do intestino irritável

Principais erros na gestão dietética da síndrome do intestino irritável

A síndrome do intestino irritável (SII) é uma condição clínica ainda sem causa definida que provoca dor abdominal, inchaço, diarreia e obstipação. O manejo dietético é parte importante do tratamento, e a redução de glúten e de monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e polióis fermentáveis (FODMAPs) é recomendada por diversas diretrizes. Contudo, muitos erros têm sido observados em relação a essa conduta. A partir de publicações recentes e da prática clínica de especialistas na área, um grupo de profissionais desenvolveu uma lista com 10 erros cometidos no gerenciamento da SII. Confira:

ERRO 1 – Desconsiderar as expectativas do paciente e estabelecer metas inalcançáveis

A conduta nutricional deve estar alinhada com a realidade do paciente e seus interesses. Ouvir as preocupações e expectativas do paciente aumenta o interesse e autonomia para fazer mudanças na alimentação. Para que o plano alimentar traga os efeitos esperados, o profissional deve estar alinhado com as necessidades e possibilidades do paciente.

ERRO 2 – Excluir alimentos com base em testes imunológicos

Não existe uma relação direta entre a SII e maior ocorrência de reações alérgicas a alimentos. Testes de imunidade podem apresentar resultados falso-negativos devido à baixa especificidade dos exames e, por isso, não há necessidade de realizar esses testes sem que haja outros sinais de alergia.

ERRO 3 – Utilizar apenas dieta baixa em histamina

Apesar de haver relação entre atividade dos receptores de histamina e a hipersensibilização do intestino, não há evidências de que a dieta com baixo teor dessa substância possa interferir beneficamente no tratamento da SII.

ERRO 4 – Usar teste respiratório para detectar intolerância alimentar

Esses testes ajudam a identificar intolerância alimentar à lactose ou frutose, mas na SII há necessidade de uma análise nutricional para identificar sintomas relacionados a determinados alimentos antes de eliminá-los da dieta.

ERRO 5 – Escolher as fibras erradas

Em pacientes com SII, pode haver maior sensibilidade a fibras dietéticas, aumentando a produção de gases. Na SII o ideal é conscientizar pacientes sobre quais alimentos apresentam fibras com maior facilidade de digestão e produzem menor fermentação bacteriana, como o psyllium.

ERRO 6 – Considerar o glúten em si como gatilho para SII

A exclusão de glúten pode reduzir sintomas intestinais mesmo em pacientes não-celíacos, mas nem sempre sua exclusão traz efeitos em todos os pacientes. É importante que o profissional avalie caso a caso, com testes de exclusão temporária para perceber as reações de cada paciente.

ERRO 7 – Focar apenas em uma dieta low FODMAPs

A dieta low FODMAPs é uma conduta eficaz no tratamento da SII, mas esta não deve ser considerada a única estratégia alimentar. Nem todos os pacientes possuem indicação para esta intervenção dietética, especialmente pacientes em risco de desnutrição, que não possuem segurança alimentar, que consomem poucos alimentos gatilho e aqueles com transtorno alimentar ou transtorno psiquiátrico não controlado são maus candidatos a intervenções com este tipo de dieta restritiva. Para os que forem candidatos, recomenda-se adaptações graduais e, conforme os sintomas forem amenizados, deve-se propor a reintrodução dos alimentos. Outras dietas eficazes e menos restritivas podem ser utilizadas, como a aconselhada pelo National Institute for Health and Care Excellence (NICE).

ERRO 8 – Desconsiderar os efeitos em longo prazo da dieta low FODMAPs

A dieta low FODMAPs pode reduzir os sintomas da SII em curto prazo, mas há necessidade de reintrodução sistemática e gradual dos alimentos após 4-6 semanas de intervenção. A realização desta dieta por períodos mais longos deve ser desencorajada pois pode alterar a composição da microbiota intestinal com redução de bifidobactérias e desequilíbrio de bactérias associadas à disbiose.

ERRO 9 – Desconhecer os efeitos da restrição alimentar

Restrição e compulsão andam lado a lado. Ao considerar uma dieta restritiva, há necessidade de entender se há risco de desenvolvimento de transtornos alimentares, como a compulsão.

ERRO 10 – Tratar a SII como uma condição padronizada

A SII é uma condição heterogênea com apresentação variada de sintomas. Reações adversas podem ser individuais e não é coerente considerar um tratamento único para todos os indivíduos. A dietoterapia deve ser conduzida de acordo com as especificidades de cada paciente.

Conclusão A SII é uma condição complexa que necessita de abordagem especializada. Precisa ser compreendida em diversos contextos e possíveis resultados de curto e longo prazo devem ser avaliados antes de iniciar a intervenção dietética.

Referências

Mujagic Z, Brouns J, Keszthelyi D and Muris JWM. Mistakes in dietary management of IBS and how to avoid them. UEG Education 2022; 22: 1–4.

Chey WD, Hashash JG, Manning L, Chang L. AGA Clinical Practice Update on the Role of Diet in Irritable Bowel Syndrome: Expert Review. Gastroenterology. 2022 May;162(6):1737-1745.e5.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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