Qual o impacto do consumo de frutose em pessoas com intolerância hereditária?

Qual o impacto do consumo de frutose em pessoas com intolerância hereditária?

A intolerância hereditária à frutose (IHF) é um distúrbio metabólico hereditário que afeta o metabolismo de carboidratos, causado por uma mutação genética na enzima aldolase B, necessária para metabolizar a frutose. IHF geralmente se expressa em bebês logo após o desmame, ocasião em que se inicia a introdução de vários alimentos e sabores na dieta. Nessa população, o consumo de pequenas quantidades de frutose (derivada do açúcar de frutas e do xarope de milho) causam hipoglicemia, vômitos, disfunção renal e hepática agudas. Previamente, pesquisadores europeus identificaram que portadores heterozigotos para IHF apresentaram um aumento significativo na concentração pós-prandial de ácido úrico após testar uma refeição experimental com pequena quantidade de frutose (~25g total). Mais recentemente, o grupo de pesquisa investigou, de forma randomizada e controlada, a resposta metabólica do ácido úrico, glicose e lipídios em portadores de IHF após o consumo de dietas testes contendo uma maior quantidade de frutose (~35 – 60g total). Participaram do estudo 6 adultos heterozigotos para IHF (4 mulheres e 2 homens) e 6 participantes controle pareados por idade, sexo e peso. Todos os participantes não usavam medicamentos e não possuiam histórico de diabetes, dislipidemia ou insuficiência renal. Cada participante recebeu 2 dietas diferentes, durante um período de 7 dias (do dia 0 ao dia 6, e do dia 8 ao dia 14). As dietas foram administradas em ordem aleatória e consistiram em 2 tipos: 1) dieta com baixo teor de frutose (BF: < 10 g/dia) e 2) dieta enriquecida em frutose (AF) através do consumo de bebidas contendo 0,1 g glicose/kg/d e 1,4 g de frutose/kg/d. Nos dias 7 e 15, as concentrações plasmáticas de ácido úrico, glicose e insulina foram avaliadas em jejum, e 2 h pós-prandial (após refeição contendo 0,7 g kg -1 de glicose e 0,7 g kg -1 de frutose). Antes de iniciar os testes, a análise do consumo alimentar, por meio do registro alimentar de 3 dias, mostrou que os participantes do grupo IHF e controle não apresentaram alterações significativas na ingestão diária de energia, e nos teores de carboidratos, lipídios e proteínas. Após início das dietas experimentais, foi encontrado maior ingestão calórica e de ingestão de carboidratos e frutose no grupo IHF durante o consumo de dieta rica em frutose (p < 0,001). Em ambos os grupos, o consumo de dieta AF – rica em frutose, aumentou significativamente a concentração de ácido úrico e reduziu a sensibilidade à insulina (HOMA), quando avaliados em jejum. No período pós-prandial, as concentrações de glicose não foram diferentes entre os grupos. Contudo, o grupo IHF, após consumo de dieta AF apresentou aumentos pós-prandiais significativos de ácido úrico plasmático, insulina e do índice de resistência à insulina hepática. Esses resultados sugerem que o maior consumo de frutose em adultos heterozigotos para IHF pode conferir uma suscetibilidade aumentada no metabolismo do ácido úrico e na sensibilidade à insulina hepática. Referência: Debray FG, Seyssel K, Fadeur M, Tappy L, Paquot N, Tran C. Effect of a high fructose diet on metabolic parameters in carriers for hereditary fructose intolerance. Clin Nutr. 2021 Jun;40(6):4246-4254. doi: 10.1016/j.clnu.2021.01.026. Epub 2021 Jan 27. PMID: 33551217.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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