Conteúdo
Internações prolongadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) associada a uma baixa oferta nutricional pode ser uma das causas para o aparecimento de complicações neuromusculares bilaterais e simétricas, denominadas “fraqueza muscular adquirida na UTI” (FMAUTI).
Muitos pacientes ficam suscetíveis a fraqueza muscular. Os motivos são vários e estão interligados: alto estresse metabólico, catabolismo muscular, presença de desnutrição, e manejo inadequado da nutrição enteral (NE) por instabilidade hemodinâmica.
Como consequência, a fraqueza muscular prejudica a autonomia do paciente, prolonga a ventilação mecânica, aumenta o tempo de desmame e da internação hospitalar.
Fraqueza muscular e nutrição enteral: novo estudo investigou essa relação
Para investigar a associação entre a FMAUTI e o manejo da nutrição enteral, pesquisadores realizaram um estudo de coorte multicêntrico em 69 UTI’s na Espanha.
O objetivo foi avaliar a incidência e os determinantes de FMAUTI em pacientes adultos com NE durante os primeiros 7 dias de internação na UTI, e em ventilação mecânica por pelo menos 48 horas. Ao todo, foram incluídos 319 pacientes, correspondendo a 1595 dias de NE.
As metas de ingestão de energia e proteína foram estabelecidas de acordo com a Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN) e Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN).
Alta incidência de fraqueza muscular
A incidência de FMAUTI foi de 68,9% nos pacientes investigados. Nesses indivíduos, a mobilidade ativa fora da cama foi inferior aos que não adquiriram FMAUTI (p<0,001). Além disso, eles receberam maiores dosagens de drogas vasoativas (p=0,029), mais dias de VM (P=0,032) e mais sedativos.
Em ambos os grupos, com e sem FMAUTI, houve uma grande predominância de pacientes que não alcançaram as recomendações de calorias e proteínas, sendo um fator que pode contribuir para a obtenção do desfecho estudado.
Em função do estado crítico dos pacientes internados em UTI, estudos sugerem que somente o aporte nutricional é insuficiente para reduzir o catabolismo muscular precoce, além de efeitos derivados da VM, que pode implicar uma perda de massa muscular 1-2% por dia.
Portanto, pode-se concluir que a mobilização precoce está associada a menor incidência de FMAUTI e a ingestão proteica e calórica isoladamente foi um fator insuficiente para explicar o aparecimento deste desfecho.
Clique aqui para ler o estudo completo.
Se você gostou deste conteúdo, leia também:
- Protocolo de alimentação baseada em volume de infusão para nutrição enteral em pacientes críticos
- Interrupções da Nutrição Enteral e Déficits de Macro e Micronutrientes na UTI
- ASPEN/ESPEN/SCCM – 10 dicas de especialistas sobre nutrição enteral em UTI
Referência:
Zaragoza-García I, Arias-Rivera S, Frade-Mera MJ, Martí JD, Gallart E, San José-Arribas A, Velasco-Sanz TR, Blazquez-Martínez E, Raurell-Torredà M. Enteral nutrition management in critically ill adult patients and its relationship with intensive care unit-acquired muscle weakness: A national cohort study. PLoS One. 2023 Jun 7;18(6):e0286598. doi: 10.1371/journal.pone.0286598. PMID: 37285356; PMCID: PMC10246809.