Gastroplastia é a abordagem cirúrgica mais bem-sucedida na perda sustentada de peso em pacientes com obesidade grave. Contudo, os candidatos a cirurgia da obesidade possuem várias comorbidades crônicas que podem aumentar o risco de complicações perioperatórias. A presença de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) está associada a maior incidência de complicações devido à visibilidade prejudicada da junção gastroesofágica, e maior risco de sangramentos. Nesse sentido, estratégias para reduzir o volume hepático devem fazer parte do pré-condicionamento da cirurgia abdominal para minimizar suas complicações perioperatórias e melhorar o desfecho clínico.
Em estudos clínicos controlados, a intervenção nutricional pré-operatória com dieta de muito baixa caloria (DMBC) pareceu ser satisfatória na redução do volume do fígado e na maior segurança durante o procedimento cirúrgico. Recentemente, Lange e colegas realizaram um estudo prospectivo e randomizado comparando duas dietas DMBC que se diferem na composição de macronutrientes. No estudo, 90 adultos de ambos os sexos, com índice de massa corporal (IMC) ≥40 kg/m2 ou ≥35 kg/m2 e pelo menos uma comorbidade, foram selecionados para realização de bypass gástrico em Y de Roux laparoscópico ou gastrectomia vertical laparoscópica. Todos receberam acompanhamento perioperatório multidisciplinar com endocrinologista, cirurgião, psicólogo, anestesista e nutricionista.
Aleatoriamente, 33 pacientes foram selecionados para receberem a dieta DMBC 1, contendo 75g de proteína, 28g de gordura e 80g de carboidrato, com total de 913 kcal/dia. Trinta e seis pacientes receberam a dieta DMBC 2, contendo 58g de proteína, 19g de gordura e 111g de carboidrato, com total de 841 kcal/dia. A dieta pré-operatória foi instituída por 2 semanas, através do consumo de sopas, shakes, barras proteicas e bebidas isentas de calorias.
Antes e após a intervenção nutricional, foram avaliadas medidas antropométricas, a composição corporal por impedância bioelétrica, exames laboratoriais (glicose, insulina, enzimas hepáticas, triglicerídeos, colesterol e frações, proteína C reativa) e exames tomográficos para avaliação do volume do fígado e do tecido adiposo visceral e subcutâneo.
Resultados mostraram que ambas as dietas de baixa caloria propiciaram a redução significativa de peso, com perda média de excesso de peso de 8,2Kg [7,4–9,1]%, e do IMC (-1,81kg/m2 [1,63-1,99]). Em todos os pacientes, o volume hepático foi estatisticamente reduzido, em média 397ml [329–466], o que correspondeu a aproximadamente 15% de seu tamanho. No tecido adiposo visceral, foi encontrado redução de 202ml de volume, cerca de 3% do tamanho (p<0,001). A proporção de gordura hepática foi 18,35% menor, em concordância a redução significativa de circunferência do quadril/cintura, da proporção de gordura corporal e da massa livre de gordura. Laboratorialmente, identificou-se aumento de enzimas hepáticas aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT) e diminuição significativa de triglicerídeos, LDL-colesterol e da hemoglobina glicada (HbA1c). Parâmetros inflamatórios, incluindo proteína C reativa e contagem de número de leucócitos foram significativamente reduzidos após intervenção nutricional.
Entre as dietas DMBC 1 e 2 não houve diferença significativa entre os parâmetros avaliados. Os autores concluíram que independentemente da composição de macronutrientes, a dieta de muito baixa caloria foi bem tolerada e eficaz na diminuição significativa de peso corporal, redução do volume hepático e melhora de marcadores nutricionais, metabólicos e inflamatórios.
Referência
Lange UG, Moulla Y, Schütz T, Blüher M, Peter V, Shang E, Dietrich A. Effectiveness and Tolerability of a Two-Week Hypocaloric Protein-Rich Diet Prior to Obesity Surgery with Two Different Diet Interventions: a Prospective Randomized Trial. Obes Surg. 2022 Jul 18. doi: 10.1007/s11695-022-06180-z. Epub ahead of print. PMID: 35851679.