A intervenção nutricional sempre foi um aspecto central nos cuidados pré-operatórios de cirurgias de grande porte. Desde o final da década de 90, acreditava-se que a imunonutrição reduzia as complicações pós-operatórias, e as primeiras diretrizes para nutrição enteral em cirurgia publicadas em 2006 pela Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN) recomendaram o uso de nutrientes imunomoduladores (IM) por 5 a 7 dias após grandes cirurgias.
Pesquisas posteriores mostraram que não só o produto, mas também o tempo e o período de utilização, importavam. No perioperatório, suplementos imunomoduladores pareciam ser a melhor opção para pacientes submetidos a cirurgia eletiva para câncer gastrointestinal. Em 2017, a ESPEN alterou suas recomendações, e aconselhou o uso de nutrientes IM antes da cirurgia para pacientes desnutridos.
Estudos recentes questionaram a validade dessa recomendação e observa-se que a ingestão perioperatória de proteínas tem ganhado cada vez mais atenção devido seu valor clínico. Para comparar o efeito clínico de suplementos imunomoduladores e proteicos (HP) no pré-operatório, um estudo recente foi conduzido em dois centros cirúrgicos terciários.
Foram incluídos 299 candidatos a cirurgias abdominais com bom estado nutricional (130 mulheres e 169 homens) e idade média de 60,8 anos. Ambos os grupos foram comparáveis quanto à idade, sexo e tipo de cirurgia. Os pacientes foram randomizados para ingerir 474 mL de dieta IM (Impact, Nestlé) ou 250 mL de dieta HP (Nutridrink Protein, Nutricia) por 7 dias consecutivos anteriores a cirurgia. Um nutricionista clínico foi responsável pelo processo, que começou com aconselhamento dietético durante a visita inicial e ingestão foi monitorada diariamente por telefone.
Não houve diferenças significativas na duração média de internação entre os dois grupos (grupo IM: 8 dias [variação, 6 -12 d]; Grupo HP: 7 dias [intervalo, 6 -10 d]). A taxa de complicações foi de 21,3% no grupo IM e 17,8% no grupo HP. O risco de readmissão foi comparável, com 5,1% para o grupo IM e 4,9% para o grupo HP. A prevalência de náuseas e vômitos no pós-operatório ocorreu em 21 pacientes que receberam nutrientes IM (15,4%) e 17 pacientes que receberam suplementos HP (10,4%; P = 0,195).
Os dois suplementos escolhidos eram diferentes com relação aos ingredientes. O Impact contém arginina, TCM, ácidos graxos W-3 e nucleotídeos e o Nutridrink Protein não possui imunonutrientes. Ambas as dietas são comparáveis em termos de micronutrientes.
No volume consumido, os suplementos administrados no pré-operatório parecem apresentar efeitos similares sobre os indicadores de tempo de internação hospitalar e prevalência de náuseas e vômitos no pós-operatório. Assim, de acordo com os parâmetros avaliados e com a recomendação da ESPEN de 2017, este tipo de intervenção não parece trazer benefícios para todos os pacientes cirúrgicos que apresentem bom estado nutricional.
Referência
Klek S, Kret K, Choruz R, Pisarska-Adamczyk M, Salowka J, Cegielny T, Welanyk J, Wilczek M, Pedziwiatr M. Immunomodulating versus high-protein oral preoperative supplement in surgical patients – A two-center, prospective, randomized clinical trial. Nutrition. 2022 Sep;101:111701. doi: 10.1016/j.nut.2022.111701. Epub 2022 Apr 27. PMID: 35700588.