Irregularidades no metabolismo proteico pode acarretar em prejuízos do estado nutricional de pacientes com Doença Renal Avançada (DRA). Sendo a insulina um hormônio anabólico com importante papel no metabolismo proteico, Deger e sua equipe investigaram a ação da insulina no turnover proteico de pacientes em tratamento de hemodiálise de manutenção (HDM) e comparou com indivíduos sem doença renal (grupo controle).
A ação da insulina foi avaliada pelo clamp de glicose, técnica que avalia a resistência à insulina através da infusão periférica de glicose em diferentes concentrações. Nesse estudo, foram instituídos dois protocolos de clamp de glicose, sendo um clamp hiperglicêmico (CH) com infusão de insulina e dextrose; e um clamp duplo euglicêmico e normoproteico (CEN), com infusão de insulina, dextrose e uma mistura de aminoácidos. Também foram realizadas biópsias musculares nos períodos antes e após os testes de clamp de glicose.
Foram recrutados 33 pacientes com DRA que realizavam hemodiálise três vezes por semana e 17 indivíduos controles. Ambos grupos eram semelhantes na idade, gênero e etnia. Amostras de sangue e da respiração foram coletadas nos tempos zero (antes da intervenção), após 120 minutos (T120) e após 150 minutos (T150) para avaliar síntese proteica. Para avaliação de composição corporal foi realizado exame de DEXA.
No início do estudo (tempo 0), a síntese de proteína muscular e a taxa de degradação protéica foram semelhantes em pacientes em HDM. Durante o clamp hiperglicêmico (CH), os controles apresentaram maior síntese de proteína muscular e menor degradação proteica em comparação com pacientes em HDM, resultando no balanço proteico significativamente mais positivo (2,0 vs 1,68mg/kg de massa magra/min para controles que para pacientes em HDM, respectivamente, p <0,001).
Durante o clamp duplo (CEN), a síntese proteica muscular aumentou mais significativamente no grupo controle em comparação com pacientes renais em HDM (p=0,03), enquanto que a degradação proteica diminuiu em ambos os grupos. O balanço proteico foi significativamente mais positivo no grupo controle (67,3 vs 15,4 μg/100 ml/min, respectivamente, p = 0,03). No grupo controle, mas não em pacientes em HDM, a biópsia muscular mostrou correlação positiva entre as taxas de eliminação de glicose, leucina, marcadores mitocondriais musculares e da relação P-AKT para AKT, proteínas envolvidas no metabolismo proteico.
Com esses achados, os autores concluíram que pacientes renais em HDM possuem anormalidades no metabolismo da insulina. A ausência de resposta celular apropriada a utilização de nutrientes em pacientes em HDM pode ser uma das explicações no insucesso de intervenções nutricionais nestes pacientes. A resposta diminuída às ações anabolizantes da insulina pode levar a perda progressiva de massa muscular e aumentar risco de sarcopenia em pacientes em HDM.