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Durante a doença crítica, ocorre uma perda acelerada de proteínas ao mesmo tempo em que sua demanda aumenta. Este cenário leva à um balanço proteico corporal negativo.
Diversos organismos internacionais, como a Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN) e a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN), sugerem aumentar a ingestão de proteínas “acima do normal” em pacientes gravemente enfermos.
Enquanto a ASPEN recomenda 1,2–2 g/kg/dia, a ESPEN sugere um mínimo de 1,3 g/kg/dia. No entanto, existem vários dados conflitantes relacionados a essas recomendações. Por isso, uma revisão científica buscou responder: em pacientes graves, como atingir a meta proteica proposta em diretrizes pode afetar desfechos clínicos?
16 pesquisas foram analisadas
O objetivo principal da revisão foi comparar um grupo com alta ingestão proteica (≥ 1,2 g/kg/dia) com um grupo com menor ingestão proteica (< 1,2 g/kg/dia).
Os desfechos primários foram a mortalidade em qualquer momento, o tempo de internação na UTI e o tempo de internação hospitalar. Já os desfechos secundários incluíram, entre outros, a duração da ventilação mecânica, presença de efeitos adversos, e parâmetros de massa e força muscular.
Ao todo, 16 ensaios clínicos randomizados (ECRs) com pacientes adultos graves, recebendo nutrição enteral e/ou parenteral, foram selecionados de acordo com critérios de elegibilidade pré-especificados.
Todos os estudos foram conduzidos em UTIs neurológicas, médicas ou cirúrgicas em diversos hospitais ao redor do mundo.
Principais resultados
Em relação aos desfechos primários, o grupo com maior teor de proteína resultou em pouca ou nenhuma diferença na mortalidade, uma vez que esta variou de uma redução de 11% a um aumento de 14%.
Contudo, houve um provável ligeiro aumento na duração da internação na UTI (em um terço de um dia) e na internação hospitalar (em um dia e meio).
Para os desfechos secundários, descobriu-se que o grupo com maior teor de proteína provavelmente não reduz a duração da ventilação mecânica.
Já para os efeitos adversos, o maior consumo proteico pode reduzir a ocorrência de diarreia, as medições de maior volume residual gástrico e a ocorrência de constipação (com diferentes níveis de certeza).
Pouca ou nenhuma diferença foi encontrada entre os grupos em termos da ocorrência de vômitos, pneumonia, escaras e infecções de feridas, sendo a maioria desses resultados de evidência de baixa ou muito baixa certeza.
Por fim, resultados para o grupo de proteína mais alta indicam um aumento no balanço de nitrogênio (g/dia) no maior ponto de tempo em pacientes críticos, mas com evidências de baixa certeza.
Conclusão
Os resultados da revisão sugerem que a ingestão de proteína recomendada pelas diretrizes (≥ 1,2 g/kg/dia) tem pouco impacto na mortalidade média no período mais longo, mas pode ser benéfica para certos desfechos. No entanto, estes podem não ser tão significativos quanto sugerido anteriormente.
Além disso, não parece haver danos significativos associados ao grupo com maior ingestão de proteína.
Portanto, os autores corroboram a noção de que médicos e nutricionistas devem aderir às recomendações atuais (conscientes dos grupos de alto risco e das necessidades individuais), especialmente porque existem discrepâncias significativas entre a ingestão prescrita e a ingestão real.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
The impact of guideline recommended protein intake on mortality and length of intensive care unit and hospital stay in critically ill adults: A systematic review. Blaauw, Liezel et al. Clinical Nutrition ESPEN, Volume 61, 356 – 368