Proteína para paciente crítico: altas doses são sempre benéficas?

Proteína para paciente crítico: altas doses são sempre benéficas?

proteína para paciente crítico Fonte: Canva.com

Frequentemente, as doenças graves são acompanhadas por proteólise, catabolismo proteico e perda de massa muscular. Tais processos são ainda mais evidentes na lesão renal aguda (LRA), com um sério risco de desnutrição protéico-energética. Hipoteticamente, altas doses proteicas para o paciente crítico com LRA poderiam reverter estes desfechos. Entretanto, será que a prática sempre condiz com a teoria?

Em um recente estudo científico, pesquisadores investigaram o impacto de doses elevadas de proteína neste público. Continue lendo para descobrir os resultados.

Qual a recomendação proteica de um paciente em estado crítico?

Segundo a ASPEN (Sociedade Americana de Nutrição Enteral e Parenteral), pacientes críticos com LRA que recebem terapia renal substitutiva devem receber 2,5 g/kg de proteína por dia.

Para a ESPEN (Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo), uma faixa de 1,0 a 2,0 g/kg de proteína por dia está recomendada para pacientes hospitalizados com LRA (sem terapia renal substitutiva).

Em geral, tais doses podem ser consideradas altas. Entretanto, segundo os autores da pesquisa, faltam evidências de alta qualidade que apoiem a alta ingestão de proteína para o paciente crítico com LRA.

Metodologia: alta proteínas vs dose habitual

O estudo “EFFORT Protein” é um ensaio internacional, prospectivo, randomizado e simples-cego, realizado em 85 UTIs em 15 países diferentes.

A partir do EFFORT, conduziu-se uma análise secundária exploratória, com objetivo de comparar o efeito de doses proteicas baixas vs altas para pacientes críticos com LRA.

Os participantes incluídos eram todos adultos, com um dos seguintes fatores de risco nutricional:

  •   IMC  ≤ 25 ou ≥ 35 kg/m2;
  •   Desnutrição moderada a grave;
  •   Escala de fragilidade clínica ≥5;
  •   SARC-F ≥ 4;
  •   Ventilação mecânica >4 dias.

Ao total, os autores incluíram 312 pacientes críticos com LRA, que foram randomizados em dois grupos de intervenção:

  1. Grupo de alta dose proteica (n=163): receberam 1,5 ± 0,5 g/kg/peso/dia;
  2. Grupo de dose proteica habitual (n=149): receberam 0,9 ± 0,3 g/kg/peso/dia.

Alta dose de proteína prolongou a internação e aumentou a mortalidade

Após a intervenção, os pesquisadores encontraram dois resultados surpreendentes.

Em primeiro lugar, os pacientes que receberam doses elevadas de proteína tiveram um tempo mais lento para “alta hospitalar com vida”. Em outras palavras, o tempo de internação prolongou-se. Além disso, a alta dose proteica foi associada à uma maior mortalidade em 60 dias.

Ao buscar explicações para estes desfechos, os estudiosos ressaltaram que pacientes críticos podem estar com uma capacidade comprometida de utilizar e transportar proteína (apesar da digestão e absorção relativamente normal).

Por si só, a alta ingestão proteica seria incapaz de reverter o catabolismo, considerando as causas multifatoriais deste estado.

Além disso, a proteína administrada exogenamente poderia aumentar o estresse metabólico.

Terapia renal substitutiva pode proteger desfechos negativos

Curiosamente, ambos os desfechos negativos encontrados na pesquisa não persistiram em pacientes sob terapia renal substitutiva, embora essa associação não tenha sido significativa.

Para os estudiosos, essa relação pode ter sido provocada pela remoção do excesso de proteína. De fato, quando contínua, a diálise provoca a perda de quase 20 g de proteínas por dia.

O que podemos concluir?

Em suma, a investigação descobriu que uma alta dose de proteína para paciente crítico com lesão renal aguda pode acarretar desfechos negativos, como maior tempo de internação e mortalidade.

Sendo assim, tais resultados comprovam a necessidade de uma administração proteica mais cuidadosa para esse público, especialmente para aqueles que não recebem terapia renal substitutiva.  Assim, esse estudo justifica a demanda por uma revisão das atuais diretrizes para a lesão renal aguda.

Portanto, podemos dizer que as altas doses de proteína para paciente crítico nem sempre são benéficas, podendo acarretar malefícios consideráveis.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

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Referência:

Stoppe C, Patel JJ, Zarbock A, Lee ZY, Rice TW, Mafrici B, Wehner R, Chan MHM, Lai PCK, MacEachern K, Myrianthefs P, Tsigou E, Ortiz-Reyes L, Jiang X, Day AG, Hasan MS, Meybohm P, Ke L, Heyland DK. The impact of higher protein dosing on outcomes in critically ill patients with acute kidney injury: a post hoc analysis of the EFFORT protein trial. Crit Care. 2023 Oct 18;27(1):399. doi: 10.1186/s13054-023-04663-8. PMID: 37853490; PMCID: PMC10585921.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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