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A pneumonia grave representa uma ameaça significativa para pacientes em unidades de terapia intensiva (UTIs) devido à sua alta taxa de mortalidade, inúmeras complicações e prognóstico ruim.
Com frequência, pacientes com pneumonia grave necessitam de ventilação mecânica e outros tratamentos que aumentam o risco de desnutrição, levando à perda de músculo esquelético. Embora alguns estudos observacionais apontam benefícios para uma maior ingestão proteica nestes casos, ensaios clínicos randomizados produzem resultados conflitantes.
Portanto, uma recente investigação buscou avaliar os efeitos da nutrição enteral com diferentes concentrações de proteína na massa muscular em pacientes com pneumonia grave. Confira os detalhes adiante.
Metodologia: alta proteína vs. proteína padrão
Em um estudo clínico prospectivo, duplo-cego, randomizado, controlado e unicêntrico, pesquisadores convocaram 120 pacientes com pneumonia grave e idade média de 61 anos.
Todos eles foram admitidos na UTI do Hospital Central de Dazhou entre 2022 e 2023, e atendiam aos critérios diagnósticos de acordo com as “Diretrizes de diagnóstico e tratamento de pneumonia adquirida na comunidade adulta chinesa”. Além disso, tinham uma permanência esperada na UTI de mais de 10 dias.
Os pacientes foram aleatoriamente designados em dois grupos:
- Grupo de alta proteína (n = 60): receberam nutrição enteral com a proteína alvo de 1,8 g/kg/d.
- Grupo de proteína padrão (n = 60): receberam nutrição enteral com uma proteína alvo de 1,2 g/kg/d.
O suprimento de energia foi calculado com base no Peso Corporal Ideal (IBW). Nos primeiros 10 dias de admissão na UTI, o suprimento de energia foi definido em 25 kcal/kg/d.
Ambos os grupos de pacientes foram submetidos ao tratamento padrão de UTI, incluindo o gerenciamento de doenças primárias, correção de desequilíbrios de fluidos e eletrólitos e ventilação mecânica.
Os desfechos da intervenção foram monitoradas nos dias 1, 5 e 10 de admissão na UTI, incluindo espessura do quadríceps e diafragma (obtido por ultrassom), estado nutricional (como pré-albumina e albumina) e eventos adversos, como diarreia e constipação.
Grupo de alta proteína apresentou os melhores resultados
No 5º dia, a espessura do quadríceps diminui aproximadamente 11% em ambos os grupos. Especificamente, houve uma diminuição de 0,267 ± 0,735 cm no grupo de proteína padrão, e 0,246 ± 0,693 cm no grupo de alta proteína. Entretanto, essa diferença não foi significativa.
No dia 10, a espessura do quadríceps continuou a diminuir nos grupos de alta proteína (-0,315 cm) e proteína padrão (-0,429 cm). Portanto, o declínio foi mais lento no grupo de alta proteína, com uma diferença estatisticamente significativa.
Sendo assim, o grupo de alta proteína exibiu uma menor taxa de atrofia do quadríceps (13,97%) em comparação com o grupo de proteína padrão (18,96%).
Em relação à espessura diafragmática, nenhuma diferença significativa foi encontrada entre os grupos e ao longo do tempo. Apesar disso, o grupo de alta proteína mostrou relativamente menos atrofia do diafragma em comparação ao grupo padrão.
Por fim, os índices nutricionais foram significativamente melhores no grupo de alta proteína, com diminuição menos pronunciada da albumina e da pré-albumina.
Ambos os grupos apresentaram intolerância nutricional enteral manifestada como diarreia, constipação, mas nenhum dos grupos de pacientes apresentou eventos adversos graves.
Insights a partir da pesquisa
Os resultados destacam que a nutrição enteral rica em proteínas foi capaz de retardar a taxa de atrofia do músculo quadríceps em pacientes com pneumonia grave em ventilação mecânica, especialmente ao longo do tempo. Essa diferença se torna mais evidente no 10º dia de intervenção, sugerindo que o efeito protetor ocorre gradualmente.
No entanto, o impacto na espessura do diafragma não foi significativo, o que pode estar relacionado à complexidade de fatores que influenciam a atrofia diafragmática, como o modo de ventilação mecânica.
Estudos anteriores indicam que a atrofia diafragmática tende a ser mais acentuada na primeira semana de ventilação controlada, reforçando a necessidade de estratégias específicas para preservar esse músculo.
Esses achados confirmam estudos prévios que demonstraram a segurança e a eficácia de doses elevadas de proteína em nutrição enteral, sem aumento significativo de eventos adversos.
Conclusão
Em resumo, a nutrição enteral de alta proteína melhorou significativamente a espessura do quadríceps, melhorou indicadores nutricionais e demonstrou boa segurança em pacientes com pneumonia grave. Esta intervenção pode ser uma medida importante para prevenir ou melhorar a atrofia muscular.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Liu C, He L, Zhang JH, He J, Tian L, Zheng X. Impact of high-protein enteral nutrition on muscle preservation in mechanically ventilated patients with severe pneumonia: a randomized controlled trial. J Health Popul Nutr. 2024 Sep 28;43(1):152. doi: 10.1186/s41043-024-00633-0. PMID: 39342405; PMCID: PMC11439213.