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Pacientes internados em UTIs tendem a apresentar altos níveis de deficiências imunológicas. Por exemplo, durante o estado crítico, há uma diminuição significativa da L-arginina, o que pode acarretar consequências graves.
Infelizmente, a suplementação enteral com L-arginina pode causar alguns efeitos prejudiciais, especialmente em pacientes com sepse ou choque séptico. Uma alternativa para aumentar a arginina plasmática é o uso da citrulina enteral, uma vez que a L-citrulina converte-se em L-arginina no organismo.
Em uma recente pesquisa, estudiosos investigaram os efeitos da administração de citrulina enteral para melhorar a condição de pacientes graves, especialmente a disfunção orgânica e os parâmetros imunológicos. Será que essa estratégia trouxe resultados? Confira a seguir!
Metodologia: citrulina enteral vs placebo
Em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e multicêntrico, os pesquisadores recrutaram 120 pacientes adultos graves, sob ventilação mecânica invasiva e recebendo nutrição enteral.
Os participantes foram randomizados em dois grupos:
- Citrulina enteral (n=60): pacientes receberam 5 g de L-citrulina enteral a cada 12 horas durante 5 dias, administrada por sonda nasogástrica em 30 segundos.
- Placebo (n=60): pacientes receberam uma preparação isocalórica e isocalórica de aminoácidos não essenciais, em um volume correspondente, usando as mesmas técnicas nos mesmos momentos.
A gravidade da disfunção orgânica foi avaliada pela pontuação SOFA (Sequential Organ Failure Assessment), juntamente com uma avaliação de aminoácidos selecionados e expressão do antígeno leucocitário humano monocítico-DR (mHLA-DR). A avaliação foi realizada nos dias 3 e 7.
Para investigação de parâmetros imunológicos, avaliou-se a concentração plasmática de IL-6; o número de células supressoras derivadas de mieloides monocíticas circulantes (M-MDSCs); contagem total de linfócitos; e atividade de indoleamina-pirrol 2,3-dioxigenase (IDO).
Maiores níveis de arginina, mas sem resultados práticos
Após a análise dos resultados, os pesquisadores descobriram que a administração de citrulina enteral aumentou significativamente a concentração plasmática de L-arginina no 3º dia, em comparação ao grupo placebo (75,3 μmol/l vs 42,4 μmol/l). Esse resultado, porém, não se manteve no 7º dia.
Além disso, essa estratégia também não resultou em melhoras na pontuação SOFA ou nos parâmetros imunológicos. Outros resultados adicionais, como duração da ventilação mecânica, incidência de infecção ou duração da internação também não apresentaram diferenças.
O aumento da arginina plasmática, por si só, sugere a administração de citrulina enteral como uma terapia interessante para pacientes em deficiência do aminoácido. Isso porque essa deficiência tem sido associada ao aumento da mortalidade, e sua capacidade de síntese endógena é insuficiente em condições críticas.
Entretanto, os autores hipotetizam que este aumento pode ter sido muito transitório para induzir alterações significativas na melhora da imunidade. Ademais, seus achados estão de acordo com outros ensaios clínicos, que não conseguem demonstrar quaisquer efeitos biológicos de dietas imunomoduladoras em pacientes gravemente enfermos.
O que podemos concluir?
Em resumo, a administração de citrulina enteral não resultou em diferenças significativas na disfunção orgânica ou na imunidade de pacientes de UTI.
Sendo assim, tais dados não sugerem nenhum efeito benéfico da L-citrulina em indivíduos gravemente enfermos tratados com ventilação mecânica invasiva.
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Referências:
Tadié JM, Locher C, Maamar A, Reignier J, Asfar P, Commereuc M, Lesouhaitier M, Gregoire M, Le Pabic E, Bendavid C, Moreau C, Diehl JL, Gey A, Tartour E, Le Tulzo Y, Thibault R, Terzi N, Gacouin A, Roussel M, Delclaux C, Tarte K, Cynober L. Enteral citrulline supplementation versus placebo on SOFA score on day 7 in mechanically ventilated critically ill patients: the IMMUNOCITRE randomized clinical trial. Crit Care. 2023 Oct 3;27(1):381. doi: 10.1186/s13054-023-04651-y. PMID: 37784110; PMCID: PMC10546668.