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A doença crítica pode trazer sérias consequências para os indivíduos afetados. Dentre elas, a perda de massa muscular é uma das condições mais comuns no ambiente da UTI, aumentando as complicações e a morbimortalidade.
Nesse cenário, uma nova revisão científica propôs uma estratégia para os pacientes graves que enfrentam a perda da massa magra: a combinação da dose certa de proteína, com a suplementação de ácidos graxos ômega-3.
A seguir, entenda porque essa junção pode ser benéfica, à luz das atuais evidências científicas até o momento. Confira!
Em pacientes graves, inflamação gera perda de massa muscular
Nos indivíduos saudáveis, a musculatura esquelética representa cerca de 40% da massa corporal. Sua preservação depende do equilíbrio dinâmico entre a síntese e a degradação de proteínas musculares.
Já na doença crítica, pode-se haver uma perda de 21% da massa muscular no 10º dia de internação. Dentre outros fatores, a inflamação é uma das grandes responsáveis por essa perda. Mas por que?
De modo geral, a inflamação apresenta duas fases distintas: a iniciação e a resolução. Na doença grave, a fase da resolução pode estar prejudicada. Como consequência, a inflamação se torna crônica, inibindo as vias que promovem a síntese de proteínas musculares.
Assim, a inflamação favorece a resistência anabólica, ou seja, a incapacidade do músculo em manter sua massa protéica por estimulação da síntese e inibição da degradação proteica.
Em outras palavras, a inflamação não resolvida pode ser um fator chave da condução do catabolismo persistente do paciente crítico.
Proteínas para pacientes graves: recomendações
Neste cenário inflamatório e catabólico, as proteínas surgem como um nutriente chave, já bem estabelecido pela ciência.
Diversas diretrizes recomendam a oferta adequada de proteínas na UTI. Por exemplo, a ESPEN (Sociedade Europeia de Nutrição Enteral e Parenteral) indica o fornecimento de 1,3 g/kg/dia. Já a ASPEN (Sociedade Americana de Nutrição Enteral e Parenteral) orienta o valor de 1.2 a 2 g/kg/dia.
Ambas recomendam o uso de nutrição enteral (NE) como a primeira opção para atingir metas de energia e proteína ao longo de 48 a 72 horas, e, eventualmente, alcançá-las dentro de 3 a 7 dias.
Com base nestas informações, os autores da revisão propuseram um esquema de fornecimento de proteínas, de acordo com a fase da doença e os dias da UTI:
Apesar das diretrizes, a dose e o momento ideal de proteína permanecem em debate. Algumas pesquisas, como o estudo NEED, sugere uma ingestão média de proteínas (0,8 ± 0,18 g/ kg/dia) para as melhores taxas de sobrevivência no paciente crítico.
Ômega-3 pode melhorar massa muscular de pacientes críticos
Em conjunto às proteínas, os ácidos graxos poliinsaturados do tipo ômega-3 vêm se mostrando benéficos no tratamento de pacientes graves na UTI, particularmente na preservação da massa muscular.
Isso acontece por conta da resolução da inflamação associada à doença grave, o que pode ajudar a diminuir a proteólise e a perda muscular.
Antigamente, a crença era que a segunda fase da inflamação (a fase de resolução) era um processo passivo. Hoje, já se sabe que ela acontece ativamente, através de compostos sintetizados a partir de ácidos graxos poliinsaturados, como EPA e DHA. São os mediadores pró-resolução especializados (SPMs), tais como as resolvinas, as maresinas e as protetinas.
Resumidamente, os SPMs atuam:
- Inibindo o recrutamento adicional de neutrófilos;
- Promovendo a secreção de citocinas pró-resolução;
- Atenuando citocinas pró-inflamatórias;
- Aumentando a depuração de micróbios e detritos celulares.
Embora não estejam presentes na dieta, os SPMs podem ter a sua síntese aumentada a partir da suplementação de ômega-3.
Nesse sentido, há evidências de que doses orais de EPA + DHA na faixa de 2,5 a 5 g/dia aumentam a síntese e diminuem a degradação de proteínas musculares, preservando a massa muscular de pacientes graves.
Em resumo…
Tomados em conjunto, os dados atuais sugerem um potencial promissor da combinação de proteínas e ômega-3 na preservação muscular de pacientes graves.
A suplementação de ômega-3 pode aumentar a síntese de mediadores pró-resolução especializados, que, por sua vez, ajudam a resolver a inflamação (um dos grandes fatores de perda muscular na UTI).
Sendo assim, a junção destes nutrientes pode ter um impacto fisiológico e clínico maior do que sua administração isolada. Entretanto, essa combinação ainda precisa ser mais investigada, e os autores abrem margem para que novas pesquisas sobre o tema sejam desenvolvidas.
Para ler o artigo completo, clique aqui.
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- ESPEN – Diretriz de Nutrição Clínica na Unidade de Terapia Intensiva
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