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Nos últimos tempos, a ciência nutricional mostrou que determinados padrões alimentares podem oferecer proteção contra o declínio cognitivo em idosos. Nesse sentido, uma destas possíveis estratégias é a dieta MIND – “Intervenção Mediterrânea-DASH para Atraso Neurodegenerativo”.
Mas afinal, a dieta MIND realmente pode prevenir o declínio cognitivo? Continue lendo para descobrir os resultados de um novo estudo.
O que é a dieta MIND?
A dieta MIND é um padrão alimentar híbrido entre as dietas mediterrânea e DASH, mas com modificações para incluir alimentos que supostamente previnem as demências, como o Alzheimer, e o declínio cognitivo no geral.
Sendo assim, a dieta MIND enfatiza o consumo de alimentos vegetais, como folhas verdes, nozes e frutas vermelhas, além de peixes e azeite de oliva.
Por outro lado, ela limita a ingestão de alimentos altos em gordura saturada e açúcar, como carne vermelha ou processada, manteiga e margarina, queijo integral, doces e tortas e alimentos fritos.
Em novo estudo, dieta MIND foi posta a prova
Um recente ensaio clínico randomizado e controlado buscou testar os efeitos cognitivos da dieta MIND com restrição calórica leve, em comparação com uma dieta controle com restrição calórica leve.
Para isso, os pesquisadores recrutaram 604 adultos mais velhos (>65 anos) sem comprometimento cognitivo, mas com histórico familiar de demência, acima do peso (IMC > 25 kg/m²), e uma dieta subótima, conforme determinado por meio de um questionário de 14 itens.
Em seguida, os participantes foram divididos em dois grupos:
- Grupo MIND com restrição calórica leve (n=301): receberam aconselhamento dietético para perda de peso, além de orientação profissional para seguir a dieta MIND. Receberam suprimentos mensais de mirtilo, nozes mistas e azeite de oliva extra virgem.
- Grupo controle (n=303): receberam aconselhamento dietético para perda de peso, seguindo a sua dieta usual com modificações para restrição calórica leve.
Além disso, os participantes também puderam se conectar com outros membros de seus grupos para apoio social. As sessões de grupo incluíram educação sobre sua dieta designada, dicas para promover perda de peso leve e outras atividades motivacionais, como sessões de culinária, competições, etc.
O desfecho primário da pesquisa foi a mudança em uma pontuação global de cognição e quatro pontuações de domínio cognitivo, todas derivadas de uma bateria de 12 testes.
As pontuações brutas de cada teste foram convertidas em pontuações z, para criar a pontuação global de cognição e em todos os testes de componentes para criar as quatro pontuações de domínio; pontuações mais altas indicam melhor desempenho cognitivo.
O desfecho secundário foi a mudança nas medidas derivadas de ressonância magnética (RM) do volume cerebral total, volume do hipocampo e volume de lesões hiperintensas da substância branca.
Dieta MIND não trouxe proteção cognitiva relevante, em comparação à dieta controle
Da linha de base até o ano 3, a mudança média estimada na pontuação de cognição global foi de 0,205 unidades padronizadas no grupo da dieta MIND e 0,170 unidades padronizadas no grupo da dieta de controle. A mudança média na pontuação não diferiu significativamente entre os grupos.
Ademais, os participantes de ambos os grupos perderam peso durante o acompanhamento: −5,0 kg no grupo da dieta MIND, e −4,8 kg no grupo da dieta de controle.
Um total de 201 participantes passaram por imagens cerebrais na linha de base e no ano 3. No final do teste, os volumes hiperintensos da substância branca aumentaram tanto no grupo da dieta MIND quanto no grupo da dieta de controle, enquanto os volumes do hipocampo e do cérebro total diminuíram em ambos os grupos.
Nenhum efeito apreciável da dieta MIND, em comparação com a dieta de controle, foi observado com relação às mudanças no volume hiperintenso da substância branca, volume do hipocampo, e volume total da substância cinzenta e branca.
Em resumo, os participantes que seguiram a dieta MIND tiveram pequenas melhorias na cognição, que foram semelhantes àqueles que seguiram uma dieta de controle com restrição calórica leve.
Conclusão
Em idosos sem comprometimento cognitivo e com histórico familiar de demência, a dieta MIND pode não trazer resultados significativos para a prevenção do declínio cognitivo, em comparação à uma dieta de controle com restrição calórica leve.
Embora outras pesquisas observacionais indiquem o contrário, vieses de confusão podem ter interferido nesse resultado. Além disso, também é possível que diferenças na duração do acompanhamento e na presença de condições médicas preexistentes desempenhem um papel.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Barnes LL, Dhana K, Liu X, Carey VJ, Ventrelle J, Johnson K, Hollings CS, Bishop L, Laranjo N, Stubbs BJ, Reilly X, Agarwal P, Zhang S, Grodstein F, Tangney CC, Holland TM, Aggarwal NT, Arfanakis K, Morris MC, Sacks FM. Trial of the MIND Diet for Prevention of Cognitive Decline in Older Persons. N Engl J Med. 2023 Aug 17;389(7):602-611. doi: 10.1056/NEJMoa2302368. Epub 2023 Jul 18. PMID: 37466280; PMCID: PMC10513737.