Microbiota intestinal e demência: existe relação?

Microbiota intestinal e demência: existe relação?

microbiota intestinal e demência
Fonte: Canva

 

Estima-se que a microbiota intestinal contenha cerca de 1.014 micróbios, responsáveis por diversos papéis na homeostase fisiológica e no metabolismo humano. Nos últimos anos, estudos apontaram a influência dos desequilíbrios da microbiota no desenvolvimento de doenças, dentre elas, a demência.

Até o momento, os mecanismos de como a microbiota pode afetar o início da demência permanecem obscuros. Contudo, sugere-se a mediação das citocinas circulantes.

Para preencher essa lacuna científica, um novo estudo de randomização mendeliana buscou explorar os efeitos causais da microbiota intestinal e das citocinas no desenvolvimento dessa doença. Afinal, existe mesmo uma relação entre microbiota intestinal e demência? Confira a resposta a seguir.

Metodologia: cinco tipos de demências foram analisadas

A pesquisa em questão tratou-se de uma análise secundária de dados resumidos de estudos de associação genômica ampla (GWAS) em larga escala, disponíveis publicamente.

De modo geral, o estudo contou com três partes:

  1. Análise dos efeitos causais de 211 microbiotas intestinais em cinco demências
  2. Análise dos efeitos causais de 41 citocinas em cinco demências 
  3. Análise de mediação de citocinas no caminho da microbiota intestinal para demências 

Nesse sentido, os cinco tipos de demência analisados foram:

  • Doença de Alzheimer 
  • Demência frontotemporal 
  • Demência com corpos de Lewy 
  • Demência vascular 
  • Demência da doença de Parkinson 

A randomização mendeliana (MR) foi o método escolhido para investigar as relações causais entre a microbiota intestinal, as citocinas e as demências. Os autores utilizaram a ponderação de variância inversa como o principal método estatístico.

Microbiota influencia aumento ou diminuição no risco de demência

De modo geral, os resultados mostraram que algumas microbiotas intestinais eram fatores de risco, enquanto outras eram fatores de proteção para cada subtipo de demência.

Nesse sentido, houve 20 efeitos causais positivos e 16 negativos entre a responsabilidade genética na microbiota intestinal e a demência. Na tabela abaixo, estão as microbiotas com predição genética relacionadas ao aumento ou a diminuição no risco de demência, segundo os achados dos autores. 

Aumento no risco de demência  Diminuição no risco de demência 
Doença de Alzheimer – Gênero Allisonell

– Gênero Lachnospiracea grupo FCS020 

– Família Defluviitaleace

– Ordem Bacillales

Demência frontotemporal  – Classe Melainabacteria

– Gênero desconhecido id.826

– Ordem Rhodospirillales

–  Gênero Desulfovibrio
Demência com corpos de Lewy – Classe Alphaproteobacteria

– Ordem Bacillales

– Gênero Lachnospira

– Gênero Ruminococcus gnavus

– Filo Cyanobacteria

Demência vascular – Gênero Ruminococcus gauvreauii 

– Gênero Slackia

– Gênero Veillonella

– Gênero Prevotella

– Filo Lentisphaerae

Demência da doença de Parkinson – Gênero Romboutsia

– Gênero Roseburia

–  Classe Lentisphaeria

– Gênero Lachnoclostridium

– Ordem Victivallales

– Filo Lentisphaerae

Os cientistas também encontraram cinco efeitos causais positivos e quatro negativos entre citocinas circulantes e demências. Por exemplo, o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) aumentou significativamente a incidência de demência frontotemporal. Entretanto, as citocinas não pareceram ser os fatores mediadores no caminho da microbiota intestinal para a demência.

Por que a microbiota pode afetar o desenvolvimento da demência?

A microbiota intestinal auxilia em muitas funções diárias do cérebro, incluindo a regulação do estado de ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e a ativação dos nervos vago e adrenérgico.

Além disso, as próprias bactérias intestinais podem sintetizar e liberar muitos neurotransmissores e neuromoduladores, ou estimular as células endócrinas intestinais a sintetizar e liberar neuropeptídeos.

Desse modo, sugere-se que o desajuste do eixo cérebro-intestino-microbioma pode influenciar o desenvolvimento e a progressão da demência de diversas maneiras. 

Ademais, o microbioma intestinal também pode desempenhar um papel em doenças metabólicas. Estudos mostraram que o metabolismo do colesterol está relacionado ao mecanismo de desenvolvimento da demência.

Na pesquisa apresentada, os mecanismos de como a microbiota intestinal afetou o início das demências não foi elucidado, considerando que as citocinas não atuaram como um fator mediador. Mais pesquisas sobre o tópico precisam ser endereçadas.

Conclusão

Afinal, existe relação entre a microbiota intestinal e a demência? Sim! Este estudo recente mostrou que a composição da microbiota pode influenciar o risco de desenvolvimento de diferentes tipos de demência, embora os mecanismos exatos ainda não sejam totalmente compreendidos.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

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Referência:

Ji D, Chen WZ, Zhang L, Zhang ZH, Chen LJ. Gut microbiota, circulating cytokines and dementia: a Mendelian randomization study. J Neuroinflammation. 2024 Jan 4;21(1):2. doi: 10.1186/s12974-023-02999-0. PMID: 38178103; PMCID: PMC10765696.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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