Variações da dieta cetogênica no tratamento de epilepsia

Variações da dieta cetogênica no tratamento de epilepsia

Quadros de epilepsia podem ser considerados como resistentes a medicamentos quando não há controle da doença com o uso adequado de 2 drogas antiepléticas como monoterapia ou em uso combinado. Esta condição frequentemente requer intervenção de outras terapias, que podem incluir cirurgia, estimulação do nervo vago e terapia nutricional. A dieta cetogênica clássica (DC), que é rica em gordura, pobre em carboidratos e apresenta quantidades normais de proteínas vem se mostrando eficaz para tratamento da epilepsia resistente, apesar de dificuldades de adesão. Recentemente, um estudo randomizado comparou a eficácia da dieta de Atkins modificada (DAM) e da dieta de terapia de baixo índice glicêmico (LGIT) em comparação com a DC, particularmente na melhora de convulsões. O estudo foi realizado em um centro de referência de cuidados terciários na Índia, teve duração de 24 semanas e incluiu 170 crianças de 1 a 15 anos com epilepsia resistente a drogas, que apresentaram manifestação de 4 ou mais convulsões por mês, não responderam a 2 ou mais medicamentos anticonvulsivantes ou não foram submetidas a tratamento com terapia nutricional.

As crianças foram aleatoriamente designadas para receber dieta DC, DAM ou LGIT, em associação com a terapia com medicamentos anticonvulsivantes já em andamento. Prescrições de dieta personalizadas foram desenvolvidas para cada paciente, com base nas preferências alimentares e na dieta básica da família. Um protocolo de iniciação gradual sem jejum foi usado para a introdução da DC. Este protocolo envolveu a administração de 75% das necessidades calórica diárias no início do estudo, e o aumento gradual foi realizado ao longo de 2 a 4 semanas para atingir a meta calórica, conforme a tolerância.

A DC clássica foi iniciada na proporção de 1: 1 (lipídios: não-lipídeos) e este teor foi gradualmente aumentado para 2: 1, 2,5: 1, 3: 1 e 4: 1 a cada 48 horas, enquanto a cetose urinária e a tolerância eram monitoradas. Os pacientes do grupo DAM seguiram o Protocolo Johns Hopkins (até 10g de carboidratos/dia inicialmente) e a dieta LGIT foi iniciada com restrição de alimentos com alto índice glicêmico (> 55) e conteúdo de carboidratos limitados a aproximadamente 10% das calorias diárias. Todas as famílias foram informadas sobre a dieta e receberam um plano detalhado.

A aderência dietética média foi significativamente melhor na dieta LGIT (94,3% [2,6%]) em comparação com a DC (91,4% [2%]) ou DAM (90,6% [2,4%]). Todos os pacientes tiveram mais que 80% de adesão ao longo do estudo. Após 24 semanas de terapia dietética, houve mudança do percentual de frequência das crises ao comparar a coorte DAM com a DC e a coorte LGIT com a DC.

Um total de 158 crianças completaram o ensaio: DC (n = 52), DAM (n = 52) e LGIT (n = 54). A análise de intenção de tratar mostrou que, após 24 semanas de intervenção, a mudança mediana (intervalo interquartil [IQR]) na frequência das crises foi semelhante (P = 0,39) (DC: -66%; IQR, -85% a -38%; DAM: -45% ; IQR, -91% a -7%; e dieta LGIT: -54%; IQR, -92% a -19%). A diferença média na redução de convulsões entre DC e DAM foi de -21 pontos percentuais (IC 95%, -29 a -3 pontos percentuais) e entre DC e LGIT foi de -12 pontos percentuais (IC de 95%, -21 a 7 pontos percentuais). Os eventos adversos relacionados ao tratamento foram semelhantes entre a DC (31 de 55 [56,4%]) e a DAM (33 de 58 [56].

A DC apresentou efeito superior na redução de episódios de convulsão e a dieta LGIT apresentou equilíbrio entre a redução das convulsões e a diminuição dos eventos adversos em comparação com a DC e a DAM. Os autores concluíram que os potenciais benefícios das dietas DC, DAM e LGIT sugerem que as três intervenções são possibilidades que devem ser individualizadas com base na avaliação de riscos x benefícios.

Por Patrícia Morais

Referência

Sondhi, V. et al. (2020) ‘Efficacy of Ketogenic Diet, Modified Atkins Diet, and Low Glycemic Index Therapy Diet Among Children With Drug-Resistant Epilepsy’, JAMA Pediatrics, 174(10), p. 944. doi: 10.1001/jamapediatrics.2020.2282.

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