Padrões de cuidados em diabetes: diretrizes ADA atualizadas

Padrões de cuidados em diabetes: diretrizes ADA atualizadas

cuidados em diabetes
Fonte: Canva

O Diabetes Mellitus é uma condição crônica que afeta uma parcela significativa da população. Recentemente, a Associação Americana de Diabetes (ADA) revisou suas recomendações para cuidados em diabetes, detalhando as estratégias ideais para diagnóstico e tratamento. Confira as principais recomendações a seguir.

Classificação do diabetes

De acordo com a ADA, o diabetes pode ser dividido nas seguintes categorias:

  • Diabetes tipo 1: caracterizado pela destruição autoimune das células β, o que geralmente resulta na deficiência absoluta de insulina. Essa categoria inclui também o diabetes autoimune latente em adultos.
  • Diabetes tipo 2: decorre de uma diminuição progressiva e não autoimune da produção adequada de insulina pelas células β, normalmente associada à resistência insulínica.
  • Diabetes mellitus gestacional (DMG): diagnóstico realizado no segundo ou terceiro trimestre da gestação, em mulheres que não apresentavam sinais claros de diabetes antes da gravidez. Inclui, ainda, outros tipos que surgem durante a gestação, como o diabetes tipo 1.
  • Outros tipos: abrange o diabetes decorrente de outras causas, como síndromes monogênicas, e doenças que afetam o pâncreas exócrino.

Como diagnosticar o diabetes?

A avaliação de risco para pré-diabetes e diabetes tipo 2 deve ser iniciada em adultos assintomáticos a partir dos 35 anos, utilizando uma análise de fatores de risco ou uma calculadora validada. Para pessoas com sobrepeso ou obesidade, o rastreamento pode ser considerado em qualquer idade, caso haja um ou mais fatores de risco presentes.

O diagnóstico do diabetes baseia-se em critérios que envolvem a hemoglobina glicada ou a glicose plasmática. Os testes de glicose plasmática incluem:

  • Glicose plasmática de jejum (FPG);
  • Glicose plasmática medida 2 horas após a ingestão de 75 g de glicose (teste oral de tolerância à glicose – OGTT);
  • Glicose plasmática em teste aleatório, quando acompanhada de sintomas típicos de hipoglicemia ou episódios de hiperglicemia.

Na ausência de hiperglicemia clara, é necessário confirmar o diagnóstico por meio de testes adicionais.

Esses mesmos exames são utilizados tanto para rastreamento quanto para o diagnóstico de pré-diabetes e diabetes. Os parâmetros definidos para cada condição estão resumidos na tabela a seguir:

Pré-diabetes Diabetes
Hemoglobina glicada HbA1c 5.7 a 6.4% (39 a 47 mmol/mol) ≥ 6.5% (48 mmol/mol)
Glicemia em jejum 100 a 125 m/dL (5.6 a 6.9 mmol/L) ≥ 126 mg/dL (7.0 mmol/L)
Glicose plasmática de 2 horas durante OGTT de 75 g 140 a 199 mg/dL (7.8 a 11.0 mmol/L) ≥ 200 mg/dL (11.1 mmol/L)
Glicose plasmática aleatória ≥ 200 mg/dL (11.1 mmol/L)

Estratégias para prevenir o diabetes

A prevenção deve ser priorizada, especialmente para indivíduos com alto risco, como aqueles com sobrepeso ou obesidade, níveis elevados de glicose ou histórico de diabetes gestacional.

Mudanças no estilo de vida podem reduzir o risco de diabetes tipo 2 em até 58% em três anos. Por isso, a ADA recomenda um programa intensivo de modificação comportamental que inclua:

  • Adoção de uma dieta equilibrada;
  • Redução do peso corporal em, pelo menos, 7%;
  • Realização de 150 minutos ou mais de atividade física moderada por semana.

Além disso, o sono é destacado como elemento crucial no controle do pré-diabetes e do diabetes tipo 2. Dormir em torno de 7 horas por noite é o ideal, pois a má qualidade do sono pode aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2 entre 40 e 84%.

Para intervenções farmacológicas, a terapia com metformina é indicada para adultos em alto risco para o desenvolvimento de DM2, especialmente para aqueles que:

  • Têm idade entre 25 e 59 anos;
  • Apresentam IMC ≥35 kg/m²;
  • Possuem glicemia de jejum elevada (por exemplo, ≥110 mg/dL);
  • Têm hemoglobina glicada elevada (por exemplo, ≥6,0%);
  • Tiveram diabetes gestacional anterior.

A metformina é a opção com maior respaldo de segurança para prevenção, embora o uso prolongado possa ocasionar deficiência de vitamina B12. Assim, é importante realizar avaliações periódicas desse nutriente, especialmente em pacientes que utilizam doses elevadas (por exemplo, ≥1.500 mg/dia), têm tratamento prolongado ou apresentam fatores de risco para essa deficiência.

Cuidados em diabetes: como deve ser o tratamento? 

O foco principal da intervenção nutricional em adultos com diabetes é incentivar e manter hábitos alimentares saudáveis, promovendo uma dieta variada, rica e em porções adequadas. Essa abordagem auxilia na prevenção de complicações e na conquista dos objetivos relacionados ao peso, controle glicêmico, pressão arterial e perfil lipídico.

A ADA orienta que os profissionais de saúde ofereçam ferramentas práticas para a construção de padrões alimentares saudáveis, ao invés de se concentrarem exclusivamente na contagem de macronutrientes, micronutrientes ou na escolha de alimentos específicos.

Em termos de metas glicêmicas, os alvos sugeridos são:

Hemoglobina glicada HbA1c <7,0% (53 mmol/mol)
Glicemia capilar pré-prandial   80–130 mg/dL (4,4–7,2 mmol/L)
Pico de glicose plasmática capilar pós-prandial   <180 mg/dL (10,0 mmol/L)

Embora esses sejam os alvos gerais, as metas devem ser individualizadas considerando:

  • Tempo de evolução do diabetes;
  • Idade e expectativa de vida;
  • Presença de comorbidades;
  • Doenças cardiovasculares ou microvasculares avançadas;
  • Outras particularidades de cada paciente.

Por exemplo, uma meta de HbA1c <8% pode ser mais adequada para indivíduos com expectativa de vida reduzida ou quando os riscos do tratamento superam os benefícios, permitindo uma abordagem menos agressiva para evitar episódios de hipoglicemia.

Obesidade e diabetes

Para indivíduos com sobrepeso ou obesidade, o rastreamento para diabetes é recomendado quando há fatores adicionais, tais como:

  • História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau;
  • Antecedentes de doença cardiovascular;
  • Presença de hipertensão;
  • Níveis de colesterol HDL abaixo de 35 mg/dL ou triglicerídeos superiores a 250 mg/dL;
  • Síndrome dos ovários policísticos;
  • Sedentarismo;
  • Outras condições relacionadas à resistência insulínica.

A redução de peso é fundamental para retardar a progressão da doença. Perdas modestas de 3 a 7% do peso corporal já proporcionam melhorias na glicemia e em parâmetros cardiovasculares, enquanto reduções superiores a 10% oferecem benefícios mais expressivos, incluindo a possibilidade de remissão do diabetes tipo 2.

O déficit energético sugerido é de 500 a 750 kcal/dia, alcançado por meio de aconselhamento nutricional (mínimo de 16 sessões em seis meses), prática regular de atividades físicas e estratégias comportamentais. 

Em casos específicos, a intervenção nutricional com refeições estruturadas de muito baixa caloria (800 a 1.000 kcal/dia) pode ser indicada, mas somente para indivíduos criteriosamente selecionados e sob rigoroso acompanhamento médico.

Além disso, a farmacoterapia para controle de peso deve ser considerada para pacientes com diabetes e sobrepeso ou obesidade. Nessa perspectiva, as opções de tratamento preferenciais incluem semaglutida ou tirzepatida, especialmente devido aos seus efeitos benéficos que vão além da perda de peso, como a melhora do controle glicêmico e dos fatores cardiometabólicos.

Outras Recomendações

A ADA também aborda aspectos relacionados às tecnologias disponíveis para o manejo do diabetes, orientações específicas para retinopatia, neuropatia diabética, cuidados com os pés, além de recomendações direcionadas a gestantes, crianças, idosos e pacientes hospitalizados.

Com essas diretrizes direcionadas aos profissionais da saúde atuantes na atenção primária, espera-se aprimorar tanto a prevenção quanto o tratamento do diabetes, uma condição que impacta a vida de inúmeras pessoas.

Para acessar as diretrizes completas, clique aqui.

Se você gostou deste conteúdo, leia também:

Cursos que podem te interessar:

Referência:

American Diabetes Association Professional Practice Committee; Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care 1 January 2025; 48 (Supplement_1): S1–S5. https://doi.org/10.2337/dc25-SINT.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

Compartilhe este post