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Em pacientes graves, a nutrição enteral é a via de alimentação preferencial. Particularmente, a nutrição enteral precoce (NEP) tem sido objeto de estudo devido à sua potencial capacidade de reduzir complicações infecciosas e preservar a imunidade em pacientes críticos. Entretanto, existem controvérsias.
Sabendo disso, uma nova pesquisa investigou a relação entre a NEP e a síndrome de inflamação, imunossupressão e catabolismo persistente (PICS). Essa é uma condição que pode surgir após doenças críticas prolongadas, podendo causar infecções recorrentes e um mau prognóstico.
Segundo a hipótese dos autores, a nutrição enteral precoce poderia prevenir o desenvolvimento da PICS na UTI. Mas será que essa teoria se confirmou? Confira detalhes a seguir.
Nutrição enteral precoce vs tardia
Em um estudo de coorte retrospectivo japonês, utilizou-se um banco de dados com aproximadamente 190.000 episódios de internação na UTI.
Ao total, 27.561 pacientes foram incluídos na análise, que dividiram-se entre os grupos:
- Nutrição enteral precoce (NEP): 19.537 pacientes, que receberam NE nos primeiros 3 dias
- Nutrição enteral tardia (NET): 7.988 pacientes, que receberam NE entre os dias 3 e 7 após a hospitalização.
Os autores incluíram diversas covariáveis na análise, como idade, sexo, IMC, ventilação mecânica, comorbidades e dados laboratoriais.
O desfecho primário de interesse foi a mortalidade e a incidência de PICS no dia 14. Embora não haja critérios clínicos consensuais para PICS, os autores consideraram:
- Hospitalização >14 dias
- CRP >2,0 mg/dL
- Albumina <3,0 g/dL
- Contagem de linfócitos <800/μL
Por fim, os desfechos secundários incluíram a mortalidade ou a incidência de PICS no dia 28.
Nutrição enteral precoce diminuiu a incidência de PICS
Como principal resultado da pesquisa, os estudiosos notaram que a síndrome de inflamação, imunossupressão e catabolismo persistente (PICS) foi significativamente menor no grupo de NEP nos dias 14 e 28.
Contudo, este resultado diferiu entre os participantes. A NEP se correlacionou com menor incidência de PICS em pacientes com diagnóstico pulmonar (-7,1%), neurológico (-6,6%), ou de trauma (-7,2%).
Enquanto isso, nenhuma diferença significativa foi observada entre os grupos NEP e NET de pacientes com diagnóstico séptico, cardiovascular, metabólico, digestivo ou outros. Além disso, a mortalidade não diferiu entre os grupos.
Segundo os autores, com base nestes resultados, pode ser vantajoso iniciar a NE o mais rápido possível para pacientes elegíveis. Os profissionais de saúde podem maximizar seus benefícios ao gerenciar a intolerância gastrointestinal e evitar contraindicações à NE.
Por que a nutrição enteral precoce protege contra a PICS?
Embora ainda não se compreenda totalmente como a nutrição enteral precoce contribui para a prevenção da PICS, estudos anteriores sugerem várias maneiras pelas quais ela pode exercer seus efeitos benéficos. São exemplos:
Imunidade e controle da inflamação: Ao preservar a função imunológica do trato gastrointestinal, a NEP ajuda a controlar a produção de citocinas pró-inflamatórias.
Preservação da diversidade microbiana: A NEP mantém um equilíbrio saudável de bactérias no intestino, o que impede o crescimento de microrganismos prejudiciais que podem desencadear inflamação (patobioma).
Conclusão
Em resumo, a nutrição enteral precoce pode reduzir a incidência da síndrome de inflamação, imunossupressão e catabolismo persistente (PICS) nos dias 14 e 28, em pacientes críticos.
Esses achados destacam a importância de considerar a nutrição precoce como parte integrante do tratamento em UTIs. Mais pesquisas são necessárias para entender completamente os efeitos da NEP em pacientes com PICS.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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