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O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição neurológica que afeta o comportamento, as interações sociais e os interesses. Sua causa é principalmente genética, mas fatores ambientais precoces também desempenham um papel.
Pessoas com TEA também podem enfrentar problemas gastrointestinais. Aproximadamente 25% das crianças diagnosticadas com TEA têm pelo menos uma síndrome persistente do trato digestivo.
Diferentes estratégias alimentares foram exploradas para aliviar os sintomas do TEA levando em conta a relação entre microbiota, saúde intestinal e funções cerebrais.
Uma recente revisão científica buscou investigar a relação entre nutrição e TEA, explorando novas intervenções dietéticas considerando o eixo microbiota-intestino-cérebro. Confira os resultados a seguir.
Nutrição e TEA: quais são as dificuldades alimentares?
Estudos indicam que entre 13% e 80% das crianças com TEA apresentam dificuldades alimentares.
Estas dificuldades afetam negativamente os hábitos alimentares, o crescimento, a socialização e o psicológico dos indivíduos, devido à incapacidade ou falta de disposição para consumir a quantidade necessária de nutrientes, líquidos ou calorias.
Entre os problemas mais frequentes, destacam-se a seletividade alimentar, a variedade limitada de alimentos e o comportamento alimentar perturbado.
Os distúrbios gastrointestinais, pica (ingestão repetida de itens não alimentares e não nutritivos) e doenças de ruminação são comuns entre indivíduos com TEA, com a maioria dos casos envolvendo dificuldades com a alimentação e o consumo restrito de alimentos.
A presença de problemas alimentares também pode resultar em sérias consequências para a saúde, incluindo desnutrição, atraso no crescimento, deficiências nutricionais e até o desenvolvimento de doenças como osteoporose.
Os problemas alimentares também estão associados a dificuldades sensoriais. Estudos indicam que a sensibilidade aumentada a certos sabores, texturas e cheiros pode contribuir para as preferências alimentares restritas e os comportamentos alimentares seletivos observados em indivíduos com TEA.
Tratamento nutricional no TEA
Dieta Cetogênica
A dieta cetogênica, com baixo carboidrato e alto teor de gordura, tem mostrado benefícios em indivíduos com TEA.
Alguns estudos com animais e humanos indicam que ela pode ajudar a:
- Reduzir movimentos repetitivos
- Promover interações sociais
- Melhorar desatenção, dificuldades de fala e problemas de olhar
Em uma pesquisa, uma criança que sofreu convulsões e TEA foi colocada em um dieta cetogênica com uma proporção de gordura de 1,5 para proteína e carboidratos. Vários benefícios foram observados após a dieta, incluindo melhorias nas características comportamentais.
Após aderir a uma dieta semelhante por alguns anos, o QI da criança aumentou em 70 pontos, e sua classificação de TEA grave mudou para uma condição não autista. As convulsões também cessaram após seguir a dieta por 14 meses.
A realização de mais pesquisas sobre a eficácia da dieta cetogênica para TEA ajudará a estabelecer a correlação entre os dois.
Probióticos
O uso de probióticos para melhorar a microbiota intestinal tem ganhado atenção, com alguns estudos sugerindo que eles podem reduzir inflamações intestinais e melhorar sintomas do TEA.
Descobriu-se que a disbiose intestinal em pacientes com TEA é indicada por uma queda em Lactobacillus e Clostridium spp. e um aumento em Candida spp. invasiva. Essa disbiose aumenta a permeabilidade intestinal e tem uma relação significativa com a intensidade dos sintomas do TEA.
Sugere-se que os probióticos podem combater a disbiose intestinal, reduzindo a geração de endotoxinas, o que diminui a inflamação e previne danos ao sistema nervoso central, levando à melhora comportamental em crianças com TEA.
Um estudo envolveu a administração de probióticos a crianças com TEA com idade entre 2 a 9 anos. Os resultados mostraram uma diminuição na inflamação intestinal e restauração do microbioma GI anormal.
Mais pesquisas são necessárias para entender completamente o papel dos probióticos como uma opção terapêutica para TEA.
Dieta de Carboidratos Específicos (DCE)
O objetivo da DCE é restringir a ingestão de carboidratos complexos, amidos e dissacarídeos, como lactose, maltose e sacarose, para reduzir os sintomas de supercrescimento microbiano intestinal e digestão de carboidratos. Alimentos como grãos e batatas, açúcar, laticínios e alimentos refinados são exemplos de alimentos restritos.
Em vez disso, a dieta recomenda alimentos ricos em monossacarídeos, como glicose, frutose e galactose, incluindo frutas, vegetais, mel, carnes, ovos, nozes e certas leguminosas.
Estudos mostrando disbiose e absorção e digestão reduzidas de carboidratos em indivíduos com TEA fornecem suporte para o uso dessa dieta. Acredita-se que possa contribuir para os sintomas GI coexistentes e possivelmente até mesmo para os sintomas comportamentais.
No entanto, há uma falta de dados publicados que apoiem a sua segurança ou eficácia. Além disso, há preocupações sobre potenciais deficiências nutricionais que podem surgir de terapias dietéticas restritivas.
Suplementos dietéticos
Vitamina A: a deficiência de vitamina A é comum em crianças com TEA. Entretanto, a suplementação para tratar uma deficiência de vitamina A não demonstrou ser uma terapia eficaz para os sintomas do TEA em pesquisas recentes.
Vitamina C: devido à seletividade alimentar, crianças com TEA podem ter deficiência de vitamina C. Além disso, o escorbuto tem sido frequentemente demonstrado nessa população. Foi levantada a hipótese de que níveis aumentados podem ser vantajosos no tratamento do estresse oxidativo.
Complexo B: as vitaminas B6, B12 e o folato são importantes para o neurodesenvolvimento. Deficiências nessas vitaminas podem contribuir para desequilíbrios nos neurotransmissores no TEA. No entanto, estudos sobre a suplementação com B6 e magnésio são inconclusivos. A Associação Psiquiátrica Americana alerta contra o uso de megadoses de vitaminas para tratar o TEA.
O que podemos concluir?
Ainda faltam evidências científicas robustas para recomendar dietas específicas no tratamento do TEA. Suplementos nutricionais mostram resultados promissores, mas sua eficácia é inconsistente devido à falta de estudos controlados e amostras maiores.
Mais pesquisas são necessárias para entender melhor os efeitos dessas abordagens e desenvolver terapias que complementem os tratamentos convencionais.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Almohmadi NH. Brain-gut-brain axis, nutrition, and autism spectrum disorders: a review. Transl Pediatr. 2024 Sep 30;13(9):1652-1670. doi: 10.21037/tp-24-182. Epub 2024 Sep 20. PMID: 39399706; PMCID: PMC11467238.