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O envelhecimento é uma questão crescente de saúde pública, com um aumento significativo da população idosa. O envelhecimento pode ser saudável ou patológico, sendo que pessoas centenárias frequentemente envelhecem sem doenças graves.
Na velhice, ocorre um desequilíbrio na microbiota intestinal, com diminuição de bactérias benéficas e aumento de espécies prejudiciais. Assim, a microbiota pode ser um alvo para regular o processo de senescência.
Uma revisão bibliográfica buscou resumir as características da microbiota intestinal associada à senescência, além de descrever os fatores dietéticos com potencial para mitigar o envelhecimento por meio da modificação da microbiota intestinal. Confira os achados a seguir.
Qual é a relação entre microbiota intestinal e envelhecimento?
A figura abaixo ilustra as principais mudanças na microbiota com o envelhecimento.
Diversidade alfa e beta: Embora antes se acreditasse que a diversidade alfa da microbiota intestinal diminuía com a idade, estudos recentes indicam que essa diferença pode não ser significativa entre diferentes faixas etárias. Em centenários, observa-se até um aumento na diversidade alfa, especialmente na uniformidade das espécies, mas não necessariamente na riqueza.
A diversidade beta não apresenta variações significativas entre jovens e idosos, mas há diferenças marcantes quando se comparam centenários com outros grupos etários, sugerindo uma reorganização na composição da microbiota com o envelhecimento extremo. Além disso, a redução da diversidade alfa tem sido associada a doenças metabólicas e inflamatórias, sendo observada em idosos não saudáveis.
Mudança de composição: No envelhecimento saudável, há uma perda de táxons comensais dominantes (como Faecalibacterium, Lachnospira, Prevotella, Coprococcus, Eubacterium rectale, Bifidobaterium), que são substituídos por espécies patogênicas (como Eggerthela, Biophila, Fusobacteria, Streptococcus e Enteroberiaceae) e microbiota presumivelmente benéfica (como Akkermansia, Christensenellacea, Butyrisimonas, Odoribacter e Butyriciccus).
No envelhecimento patológico, a perda de táxons comensais dominantes é substituída por bactérias patogênicas e a microbiota presumivelmente benéfica é perdida.
Metabolismo das espécies microbianas: Reduz-se os níveis de AGCC, a produção de triptofano, indol e espermidina. Enquanto isso, a produção de metabólitos tóxicos, como LPS, aumenta. Na microbiota idosa, tende-se a acumular mais metabólitos relacionados a doenças relacionadas à idade, como colina, trimetilamina e N8-acetilspermidina.
Como visto, o risco de desequilíbrio da microbiota intestinal aumenta, levando a uma coleção de alterações patológicas e inflamatórias, como danos à integridade da barreira intestinal e aumento do vazamento intestinal.
Modulação da microbiota para um envelhecimento saudável
Nos últimos anos, diversos estudos têm investigado o uso de estratégias dietéticas para modular a microbiota intestinal e suas alterações metabólicas causadas pelo envelhecimento ou doenças relacionadas, com o objetivo de aliviar esses distúrbios fisiológicos.
Restrição calórica
Estudos experimentais em animais mostraram que a restrição calórica ao longo da vida pode equilibrar a estrutura da microbiota intestinal e facilitar o desenvolvimento de uma microbiota intestinal com predominância de Lactobacillus e, assim, promover a saúde do hospedeiro.
Em geral, a restrição calórica pode estender a vida útil ou melhorar doenças relacionadas ao envelhecimento, regulando as mudanças na microbiota intestinal e seus metabólitos causados pelo envelhecimento ou doenças relacionadas ao envelhecimento.
No entanto, sua aplicação na vida real ainda é desafiadora devido a restrições comportamentais, psicológicas e sociais.
Padrões alimentares
A dieta mediterrânea demonstrou mitigar o envelhecimento e melhorar a função cognitiva, alterando beneficamente a microbiota intestinal e promovendo a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs).
A dieta cetogênica, embora possa restaurar a microbiota intestinal, regular os marcadores neuroinflamatórios e melhorar a função cognitiva, também pode ter efeitos negativos. Estes incluem a redução da diversidade de espécies intestinais e micróbios benéficos, aumento de bactérias patogênicas e metabolismo intestinal alterado.
Mais estudos são necessários para demonstrar se a dieta cetogênica, em combinação com jejum intermitente ou outros padrões alimentares, pode ser utilizada de forma mais eficaz em pacientes com doenças neurodegenerativas.
Probióticos, prebióticos e pós-bióticos
Os probióticos mais amplamente usados em pesquisas antienvelhecimento são Bifidobacterium e Lactobacillus. Eles retardam o envelhecimento ou promovem o envelhecimento saudável aumentando o número de bactérias benéficas no intestino, incluindo Lactobacillus, Faecalibulum, Bifidobacterium e Lachnospiracae, além de inibir o aumento de bactérias patogênicas oportunistas.
Porém, alguns probióticos, como Lactobacillus casei BL23 e Bifidobacterium breve DSM20213, podem até ter efeitos negativos em determinados modelos de estudo.
Já os prebióticos, como inulina e galactooligosacarídeos, podem restaurar o desequilíbrio na microbiota intestinal, inibir a inflamação sistêmica e manter a integridade da barreira intestinal regulando a composição da microbiota intestinal, aumentando as bactérias benéficas enquanto inibe as bactérias patogênicas, desencadeando a produção de metabólitos benéficos como os AGCCs e, assim, promovendo o envelhecimento saudável.
Embora os simbióticos, tenham ganhado atenção por melhorar a saúde gastrointestinal, ainda há poucos estudos sobre seu impacto no envelhecimento e eficácia clínica.
Finalmente, os pós-bióticos, compostos bioativos como AGCCs e poliaminas, têm mostrado benefícios, incluindo a melhoria de doenças neurodegenerativas, função imunológica e estabilidade do ambiente intestinal.
Comparados aos probióticos, os postbióticos têm maior estabilidade e segurança, podendo ser mais eficazes em longo prazo. No entanto, seus efeitos geralmente são temporários e necessitam de mais pesquisa para compreender seus impactos no envelhecimento e nas doenças relacionadas.
O que podemos concluir?
Em conclusão, a microbiota intestinal é um alvo promissor para promover um envelhecimento saudável.
A suplementação com probióticos ou outros fatores dietéticos pode aumentar a abundância de espécies microbianas e substâncias benéficas.
Futuras pesquisas devem adotar abordagens de genômica microbiana para analisar a capacidade metabólica de probióticos específicos, orientando o desenvolvimento de alimentos direcionados à microbiota.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referências:
Xiao Y, Feng Y, Zhao J, Chen W, Lu W. Achieving healthy aging through gut microbiota-directed dietary intervention: Focusing on microbial biomarkers and host mechanisms. J Adv Res. 2025 Feb;68:179-200. doi: 10.1016/j.jare.2024.03.005. Epub 2024 Mar 9. PMID: 38462039; PMCID: PMC11785574.