Conteúdo
A ingestão de proteína desempenha um papel importante na meia-idade. Seus diversos benefícios incluem diminuição na taxa de perda muscular, risco de fraturas e massa óssea; melhora geral do desempenho físico; e manutenção da função cognitiva.
Por outro lado, com relação às fontes de proteína, as proteínas animais já foram associadas a um risco aumentado de mortalidade por doenças cardiovasculares. Já a ingestão de proteína vegetal se associou-se a um menor risco de fragilidade, e melhor probabilidade de atingir um envelhecimento saudável.
Até o momento, poucos estudos epidemiológicos haviam examinado a ingestão de proteína na meia-idade em relação ao envelhecimento saudável. Contudo, uma nova pesquisa buscou preencher essa lacuna. Confira a seguir.
3.721 enfermeiras participaram da pesquisa
Em um recente estudo longitudinal, os pesquisadores utilizaram bases de dados da pesquisa anterior Nurses’ Health Study (NHS) para avaliar a associação da ingestão de proteína em enfermeiras de meia-idade nos Estados Unidos com a probabilidade de envelhecimento saudável.
Ao total, foram incluídas 3.721 participantes, com idade entre 30 a 55 anos no momento da inscrição (1984).
As participantes responderam questionários de frequência alimentar expandido para 131 itens, a cada 4 anos para obter informações dietéticas atualizadas. A partir daí, os pesquisadores calcularam as ingestões de proteína total, além de:
- Proteína animal: carne bovina, frango, leite, peixe/frutos do mar e queijo
- Proteína láctea (subconjunto de proteína animal): leite, queijo, pizza, iogurte e sorvete
- Proteína vegetal: pão, vegetais, frutas, pizza, cereais, itens assados, purê de batata, nozes, feijão, manteiga de amendoim e macarrão
O envelhecimento saudável foi definido como estar livre de 11 doenças crônicas importantes, ter boa saúde mental e não ter deficiências na função cognitiva ou física, conforme avaliado nos questionários de participantes do NHS de 2014 ou 2016.
A lista de 11 doenças crônicas incluiu câncer (exceto câncer de pele não melanoma), diabetes tipo 2, infarto do miocárdio, cirurgia de revascularização do miocárdio ou angioplastia coronária transluminal percutânea, insuficiência cardíaca congestiva, derrame, insuficiência renal, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença de Parkinson, esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica.
Por fim, os autores utilizaram regressão logística multivariada ajustada para estilo de vida, dados demográficos e estado de saúde para estimar as razões de chances (ORs) e intervalos de confiança de 95% para ingestão de proteínas em relação ao envelhecimento saudável.
Proteína vegetal promove envelhecimento saudável
O consumo total médio de proteína como porcentagem de energia foi de 18.3%, incluindo 13.3% de proteína animal, 3.6% de proteína láctea e 4.9% de proteína vegetal.
Nesse sentido, a ingestão de proteínas foi significativamente associada a maiores chances de envelhecimento saudável, mas a proteína vegetal obteve o maior destaque.
Cada incremento de 3% de energia na ingestão de proteína animal ou láctea foi associado a 7% e 14% maiores chances de envelhecimento saudável. Enquanto isso, a associação para cada incremento de 3% de energia de proteína vegetal foi associada a 38% maiores chances de envelhecimento saudável.
Proteína animal e proteína vegetal foram associadas a 5% e 41% maiores chances de estar livre de limitações físicas. No entanto, apenas proteína vegetal foi significativamente associada a maiores chances de ter bom estado mental.
Ademais, a ingestão de proteína láctea e proteína vegetal foi associada a maiores chances de ausência de doenças crônicas. Por outro lado, a ingestão total e de proteína animal foi significativamente associada ao maior risco destas enfermidades.
Em análises de substituição, observou-se associações positivas significativas para a substituição isocalórica de proteína animal ou láctea, carboidrato ou gordura, pela proteína vegetal.
Qual é a explicação para estes resultados?
Os mecanismos que explicam as associações entre a ingestão de proteínas e o envelhecimento saudável são complexos e ainda não completamente compreendidos. No entanto, algumas evidências fornecem pistas valiosas.
No que diz respeito à função física, a ativação do complexo mTOR, essencial para a síntese de proteínas musculares, tende a diminuir com a idade. A ingestão de proteínas, especialmente associada à prática de exercícios, estimula esse mecanismo, promovendo a manutenção da massa muscular e, consequentemente, uma melhor função física.
Por outro lado, os benefícios específicos das proteínas vegetais parecem estar relacionados a seus efeitos sobre a saúde cardiometabólica. Estudos associam o consumo de proteínas vegetais a níveis mais baixos de colesterol LDL, pressão arterial reduzida, melhor sensibilidade à insulina e menores níveis de marcadores inflamatórios.
Em contraste, proteínas animais têm sido associadas a níveis mais elevados de IGF-1, que pode estar ligado ao crescimento de células malignas em tecidos como mama e próstata. Além disso, embora proteínas animais possam promover ganhos de massa magra em curto prazo, os resultados a longo prazo sugerem associações mais consistentes entre proteínas vegetais e menor risco de fragilidade.
Outro ponto importante é que as proteínas vegetais são ricas em fibras, micronutrientes e polifenóis. Esses componentes podem potencializar os benefícios observados, especialmente quando substituem carboidratos refinados.
O que podemos concluir?
Ao que parece, a ingestão de proteína na meia-idade, especialmente proteína vegetal, está associada a maiores chances de envelhecimento saudável e a vários domínios de um estado de saúde positivo.
Esses achados reforçam a importância de priorizar fontes variadas e equilibradas de proteínas, com destaque para as proteínas vegetais, na promoção da longevidade.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
Se você gostou deste artigo, leia também:
- Suplementos multivitamínicos aumentam a longevidade?
- Impacto da proteína animal e vegetal no risco cardiometabólico
- O consumo de proteína vegetal tem impacto sobre a mortalidade?
Cursos que podem te interessar:
Referência:
Dietary protein intake in midlife in relation to healthy aging – results from the prospective Nurses’ Health Study cohort. Ardisson Korat, Andres V et al. The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 119, Issue 2, 271 – 282.