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Fonte: shutterstock.com
O câncer gastrointestinal é a neoplasia maligna mais comum em todo o mundo, sendo a sexta causa mais frequente de morte associada ao câncer. Esses pacientes geralmente apresentam o estado nutricional deteriorado, e mais de 70% dos doentes já estão desnutridos no momento do diagnóstico primário.
Um recente estudo clínico randomizado avaliou uma intervenção nutricional especializada em pacientes com câncer gastrintestinal sob tratamento quimioterápico. O principal objetivo foi investigar o efeito da terapia nutricional no estado nutricional e na qualidade de vida dos participantes. Continue lendo para descobrir os resultados!
Metodologia: foram 5 etapas de intervenção nutricional
Inicialmente, foram selecionados 176 adultos recém-diagnosticados com câncer gastrointestinal, tanto câncer gástrico quanto câncer colorretal.
Da amostra inicial, foram excluídos os participantes com intolerância a intervenções nutricionais, presença de metástases hepáticas ou múltiplas, dados clínicos incompletos ou morte. Ao final, os pacientes restantes foram divididos em:
- Grupo de intervenção (n = 40): receberam terapia nutricional especializada;
- Grupo controle (n = 38): receberam tratamento nutricional de rotina.
O esquema de quimioterapia para câncer gástrico foi: oxalipla estanho + capecitabina (4-6 ciclos), oxaliplatina/irinotecano + Tongao + fluorouracil (4–6 ciclos de quimioterapia). No câncer colorretal, foram realizados de 4 a 6 ciclos dos quimioterápicos oxaliplatina/irinotecan+Tongao+fluorouracil.
Além disso, o estado nutricional foi avaliado pela Avaliação Subjetiva Global Gerada pelo Paciente (ASG-PPP) e triagem de risco nutricional (NRS-2002), além de antropometria e testes laboratoriais. Na avaliação nutricional inicial, 50% dos pacientes apresentavam desnutrição leve a moderada, 29,5% apresentavam desnutrição grave, enquanto apenas 20,5% apresentavam bom estado nutricional.
A intervenção nutricional de cinco etapas foi realizada por uma equipe multidisciplinar que incluía o oncologista, uma nutricionista e uma enfermeira. As etapas são descritas a seguir:
- Etapa 1 – educação nutricional;
- Etapa 2 – orientação da dieta e suplementação nutricional oral (SNO);
- Etapa 3 – nutrição enteral exclusiva;
- Etapa 4 – nutrição parenteral suplementar;
- Etapa 5 – nutrição parenteral exclusiva.
A terapia nutricional iniciou-se no primeiro dia da quimioterapia. Depois da alta, os pacientes foram acompanhados 1x/semana, com alteração das etapas do programa nutricional conforme necessidade. A oferta energética alvo foi de 25–30 kcal/kg/dia e de 1,2 g de proteína/kg/dia, para pacientes com função renal e hepática adequados.
A evolução para a etapa seguinte da TN era realizada quando o paciente não atingia 60% das necessidades nutricionais durante o período de 3-5 dias.
Melhorias visíveis no grupo de intervenção
Após 10 semanas de estudo, o estado nutricional e a qualidade de vida foram reavaliados. O peso corporal do grupo de intervenção nutricional aumentou de 64,3 ± 4,2 kg para 68,5 ± 3,3 kg, enquanto o peso do grupo controle diminuiu de 65,8 ± 4,7 para 63,2 ± 2,3 kg.
Índice de massa corpórea (IMC) no grupo de intervenção não mudou significativamente após 10 semanas, enquanto o IMC no grupo controle diminuiu de 22,5 ± 3,0 a 19,1 ± 3,4 kg/m2.
O escore de ASG-PPP no grupo de intervenção mostrou uma redução significativa de 9,2±2.4 (semana 0) para 8,3±2,6 (semana 10), e no grupo controle mostrou aumento de 9,5±2,9 para 9,9±2,8 (semana 10). O risco nutricional pela NRS-2002 foi significativamente menor no grupo intervenção após 10 semanas.
Não houve mudança significativa na força do aperto de mão (FAM) no grupo de intervenção, enquanto no grupo controle significativamente diminuiu de 25,2 ± 3,3 para 21,9 ± 3,1 kg.
O grupo de intervenção apresentou melhora significativa na medida da dobra cutânea tricipital (DCT), área muscular do braço (AMB) e circunferência da panturrilha (CP). Por outro lado, o grupo controle apresentou diminuição de AMB, sem alteração significativa em DCT e CP.
Dos dados laboratoriais, após 10 semanas de quimioterapia, a albumina não diminuiu significativamente no grupo de intervenção, mas diminuiu de 36,8 ± 3,3 para 33,7 ± 2,2 g/L no grupo controle.
A análise da qualidade de vida foi realizada usando o questionário QLQ-C30. Após 10 semanas, a qualidade de vida (QV) do grupo de intervenção aumentou, mas não significativamente, enquanto a QV do grupo controle diminuiu de 62,7 ± 10,1 para 48,7 ± 15,9.
Quanto à escala funcional, o grupo de intervenção nutricional teve efeitos significativos na melhora de sintomas da fadiga, dor, anorexia e constipação.
O que podemos concluir?
Em conclusão, a terapia nutricional multidisciplinar de cinco etapas melhorou o estado nutricional e os sintomas relacionados à qualidade de vida nos pacientes em tratamento quimioterápico para o câncer gastrintestinal.
Com isso, podemos concluir que o cuidado abrangente à pacientes oncológicos, incluindo educação nutricional e TN, trouxe benefícios significativos para a melhora do quadro destes pacientes, devendo ser incentivado.
Por: Priscila Garla
Referência:
Chen L, Zhao M, Tan L, Zhang Y. Effects of Five-Step Nutritional Interventions Conducted by a Multidisciplinary Care Team on Gastroenteric Cancer Patients Undergoing Chemotherapy: A Randomized Clinical Trial. Nutr Cancer. 2023;75(1):197-206. doi: 10.1080/01635581.2022.2104329. Epub 2022 Jul 28. PMID: 35903847.