Atualmente não existem recomendações ou diretrizes para pacientes com doença celíaca, mas é certo que intervenções nutricionais que excluem o glúten são opções eficientes para o tratamento em casos de sintomas persistentes. Apesar disso, nem todos os casos se resolvem com este tipo intervenção. Outras alternativas terapêuticas têm sido estudadas, e a aplicação de uma dieta pobre em oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis (FODMAPs) também tem sido proposta para estes pacientes. Esta dieta é considerada um tratamento bem estabelecido para a síndrome do intestino irritável (SII), e resulta em melhora importante dos sintomas intestinais, além de impacto positivo no quadro geral.
Um estudo controlado avaliou a eficácia de uma dieta com quantidades moderadamente baixas de FODMAPs sobre os sintomas persistentes em pacientes celíacos tratados. Foram estudados 70 adultos com doença celíaca comprovada por biópsia, considerando sintomas gastrintestinais persistentes definidos por uma escala de classificação de sintomas gastrointestinais (GSRS)-IBS de 30 ou mais, adesão à dieta sem glúten por 12 meses ou mais, remissão sorológica e avaliação da mucosa.
Os participantes foram randomizados em grupo intervenção (n=34) que recebeu uma dieta sem glúten pobre em FODMAPs (21g para 8 g/d) ou grupo controle (n=36) que recebeu dieta sem glúten habitual. A pontuação GSRS-IBS foi registrada na linha de base e nas semanas 1 a 4, e o Índice de Sintomas Celíacos na linha de base e na semana 4.
Os resultados foram positivos com a dieta moderadamente baixa em FODMAP de curto prazo. Houve melhora dos sintomas, incluindo redução da dor, inchaço, diarreia e saciedade e apenas para constipação as mudanças não foram significantes. O tempo de desenvolvimento dos escores totais do GSRS-IBS (que refletem os últimos 3 dias) também diferiu significativamente entre os grupos, sendo melhor no grupo intervenção em todos os períodos avaliados. A adesão autorrelatada à dieta pobre em FODMAPs foi excelente e houve melhora da saúde em relação a doença celíaca, além da redução da fadiga relatada no início do estudo.
Os autores concluíram que em curto prazo a dieta pobre em FODMAPs pode ser uma alternativa interessante para pacientes celíacos, pois pode promover redução dos sintomas gastrintestinais e auxiliar no manejo de sintomas persistentes na doença celíaca. Com o acompanhamento nutricional adequado, a dieta pobre em FODMAPs pode ser mais fácil de ser cumprida no dia a dia.
Referência
Frida van Megen, Gry I. Skodje, Simon Lergenmuller, Stephanie Zühlke, Lars Aabakken, Marit B. Veierød, Christine Henriksen, Knut E.A. Lundin, A Low FODMAP Diet Reduces Symptoms in Treated Celiac Patients With Ongoing Symptoms–A Randomized Controlled Trial, Clinical Gastroenterology and Hepatology, 2022, ISSN 1542-3565, https://doi.org/10.1016/j.cgh.2022.01.011.
