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Em meio ao ambiente complexo e desafiador das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a avaliação do estado nutricional ganha uma importância vital para garantir a recuperação e a sobrevida dos pacientes em situações críticas.
Novas descobertas têm mostrado que medidas simples e não invasivas, como a antropometria, podem ser promissoras para prever desfechos clínicos e riscos de mortalidade no contexto da UTI.
Em um novo estudo, pesquisadores abordaram essa relação. Continue lendo para descobrir seus resultados.
Como avaliar o estado nutricional na UTI?
Pacientes hospitalizados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) apresentam um alto risco de desnutrição devido ao hipermetabolismo e síndrome inflamatória. Desse modo, a avaliação do estado nutricional é essencial para manutenção e melhora dos desfechos clínicos.
As medidas antropométricas são importantes ferramentas para avaliação do estado nutricional, por serem de baixo custo e de fácil aplicabilidade, rápidas e não invasivas. Medidas como circunferência da panturrilha (CP) e do braço (CB), podem predizer risco de mortalidade, depleção muscular e reinternação hospitalar em pacientes não críticos e desnutrição em pacientes críticos, respectivamente.
Metodologia: 249 pacientes críticos foram avaliados
Para avaliar a competência das circunferências na UTI, um estudo de coorte com 249 pacientes positivos para COVID-19 foi realizado.
O objetivo foi avaliar a mudança no estado nutricional destes pacientes, por meio de medidas antropométricas seriadas, além de validar CP e CB reduzidas na predição de mortalidade.
Vale ressaltar que a doença do Coronavírus 2019, em sua forma crítica, contribui para um alto catabolismo energético e proteico, além de instabilidade hemodinâmica, sendo um fator que dificulta o alcance de metas nutricionais, devido infecção, anorexia, perda de paladar e olfato, vômitos e diarreia.
CP e CB realmente predizem o risco de mortalidade na UTI?
Ao que indica a pesquisa, sim.
Como principais resultados, dos 249 pacientes avaliados, 22.7% e 39.1% apresentaram redução da CB e CP na admissão da UTI. A frequência de pacientes com CP reduzida foi significativamente maior em não sobreviventes do que em sobreviventes.
Além disso, análises multivariadas evidenciaram que a CB reduzida aumentou o risco de morte na UTI em 2.11 vezes, enquanto a CP reduzida aumentou esse risco em 2.63 vezes.
Embora essas alterações sejam expressivas e possam impactar no desfecho clínico, não houve associação direta entre a redução das circunferências e mortalidade.
Conclusão
Os autores concluíram que as medidas antropométricas reduzidas de CP e CB podem ser um preditor de risco aumentado de morte na UTI em pacientes críticos com COVID-19, em mais de 2 vezes.
Deste modo, a avaliação do estado nutricional pode ser uma estratégia importante para identificar precocemente os pacientes que apresentam maiores riscos de mortalidade, contribuindo para otimizar o atendimento nessa população.
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Referência:
Santer D, Schneider N, de Carvalho YSS, de Souza Bortolini RV, Silva FM, Franken DL, da Silva Fink J. The association between reduced calf and mid-arm circumferences and ICU mortality in critically ill COVID-19 patients. Clin Nutr ESPEN. 2023 Apr;54:45-51. doi: 10.1016/j.clnesp.2023.01.006. Epub 2023 Jan 11. PMID: 36963893; PMCID: PMC9831974.