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Fonte: shutterstock.com
A lesão renal aguda (LRA) é uma condição frequente em pacientes graves, caracterizada pela rápida perda da função renal, ou queda abrupta da taxa de filtração glomerular, mensurada através da creatinina sérica e/ou débito urinário. A adequada terapia nutricional é parte fundamental no tratamento desses pacientes.
Sabe-se que a disfunção renal aguda interfere no metabolismo dos macro e micronutrientes, no aumento da inflamação e do catabolismo. As principais alterações nutricionais no paciente com LRA são o hipercatabolismo, hiperglicemia, hipertrigliceridemia e alto risco de depleção do estado nutricional. Em estudos clínicos, a desnutrição em pacientes com LRA tem sido associada a maior incidência de complicações, maior tempo de internação e maior mortalidade na UTI.
A terapia renal de substituição contínua (do inglês, CRRT) é a modalidade de escolha para o tratamento clínico de pacientes renais graves, especialmente naqueles hemodinamicamente instáveis. Comparado com a hemodiálise intermitente, CRRT é melhor tolerada hemodinamicamente, e permite um melhor controle do equilíbrio de fluidos.
Terapia renal substitutiva contínua (CRRT): recomendação nutricionais
Recentemente, especialistas revisaram as recomendações nutricionais em pacientes graves com LRA tratados com CRRT. Continue lendo para conhecê-las.
Como determinar o gasto energético?
Para determinação do gasto energético, a calorimetria indireta é o método padrão ouro nestes doentes. Na impossibilidade de utilizar a calorimetria, a oferta energética irá depender da fase em que o paciente se encontra, sendo:
- Fase catabólica: 20–25 kcal/kg/dia;
- Fase anabólica: 25–35 kcal/kg/dia.
Qual deve ser a oferta proteica?
Para oferta proteica, deve-se considerar que durante a CRRT, ocorrem perdas de aminoácidos (aproximadamente 15–20 g/dia), e perdas de proteína (entre 5-10 g/dia).
A suplementação a partir de 1,7 até 2,5 g de proteínas/kg/dia tem sido associada a um balanço nitrogenado mais positivo, e menor incidência de deficiência de aminoácidos em estudos clínicos.
Qual deve ser a oferta lipídica?
Os lipídios, além de fonte energética, contêm ácidos graxos essenciais ao organismo e auxiliam o metabolismo de vitaminas lipossolúveis.
Os especialistas sugerem a oferta de 0,7–1,5 kcal de lipídeos/kg/dia. A monitorização dos níveis séricos de triglicerídeos se faz necessária em pacientes submetidos à CRRT. Na presença de hipertrigliceridemia, a alteração na prescrição lipídica deve ser realizada.
E os micronutrientes?
Micronutrientes como oligoelementos, vitaminas e eletrólitos são substâncias essenciais que participam de várias vias metabólicas e contribuem para reações do sistema imunológico, da atividade antioxidante e do processo de cicatrização de feridas.
Oligoelementos e vitaminas hidrossolúveis são parcialmente filtrados e eliminados durante a CRRT, ou podem ainda ser influenciados pelo estado inflamatório do paciente.
Portanto, é importante monitorar níveis séricos desses nutrientes, em especial o selênio, zinco e cobre, e das vitaminas C, folato e tiamina. A deficiência deve ser periodicamente investigada, e a suplementação intravenosa é recomendada, em dose duplicada da formulação da nutrição padrão, a fim de compensar a perda desses efluentes durante a CRRT.
Mensagem final
Em conclusão, pacientes graves com distúrbios renais em tratamento de CRRT frequentemente apresentam alto risco de prejuízo nutricional.
Até o momento, não há diretrizes clínicas para recomendação nutricional em pacientes graves sob tratamento CRRT, contudo, os especialistas recomendam o tratamento individualizado, com frequente monitorização sérica de nutrientes, e de parâmetros do estado nutricional.
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Referência:
Guy Fishman, Pierre Singer. Metabolic and nutritional aspects in continuous renal replacement therapy. Journal of Intensive Medicine, 2023. ISSN 2667-100X, https://doi.org/10.1016/j.jointm.2022.11.001.