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A influência dos minerais na fertilidade masculina já foi intensamente investigada. Entretanto, seu papel na saúde reprodutiva e no ciclo menstrual das mulheres é pouco abordado na ciência, muitas vezes apenas no contexto de patologias reprodutivas específicas.
Preenchendo essa coluna, uma recente revisão bibliográfica se concentrou em explorar os papeis de minerais na regulação hormonal, ovulação, estresse oxidativo e saúde do endométrio ao longo do ciclo menstrual. Confira os achados a seguir.
Zinco
O zinco é essencial para diversas funções hormonais e reprodutivas. Ele atua no metabolismo da insulina, na síntese de testosterona e na regulação dos receptores de hormônios esteroides, influenciando os processos de ação dos hormônios androgênicos, estrogênio e progesterona.
Em mulheres, níveis adequados de zinco são fundamentais para manter o equilíbrio hormonal, contribuindo para a maturação dos folículos, a ovulação e a regulação da libido.
Além disso, os níveis séricos de zinco variam ao longo do ciclo menstrual – sendo mais elevados na ovulação e mais baixos durante a menstruação – o que destaca sua importância na função reprodutiva.
A deficiência de zinco pode afetar a síntese de FSH e LH, levar a desenvolvimento ovariano irregular, distúrbios na ovulação e até contribuir para condições como pré-eclâmpsia e síndrome dos ovários policísticos, associadas à resistência à insulina.
O zinco também exerce um papel antioxidante crucial, protegendo os oócitos e o embrião contra danos oxidativos e modulando processos inflamatórios, o que pode inclusive influenciar o desenvolvimento de endometriose e o surgimento de cistos endometriais.
Selênio
O selênio é fundamental para a conversão do hormônio tireoidiano T4 em T3, processo essencial para regular o metabolismo e várias funções celulares. Uma tireoide saudável é crucial para manter o equilíbrio hormonal no sistema reprodutivo feminino, e distúrbios como hipotireoidismo ou hipertireoidismo podem afetar o ciclo menstrual, causando anovulação e reduzindo a fertilidade.
Além disso, o selênio atua como antioxidante, principalmente através da enzima glutathione peroxidase (GPx), protegendo os ovários contra danos oxidativos e garantindo a qualidade dos oócitos e o funcionamento adequado da ovulação.
Estudos indicam que níveis ótimos de selênio são importantes em todas as fases do ciclo menstrual e podem contribuir para melhores resultados reprodutivos, inclusive na redução da gravidade de condições como a endometriose.
Iodo
Assim como o selênio, o iodo é crucial para a função tireoidiana, participando da síntese dos hormônios T4 e T3.
A deficiência de iodo é uma causa comum de hipotireoidismo e está associada à anovulação, infertilidade e complicações gestacionais, devido à redução da capacidade de ligação do SHBG e à alteração dos níveis de hormônios.
Estudos em animais indicam que infusões intrauterinas de iodo podem melhorar a regeneração endometrial e a implantação embrionária, embora doses excessivas sejam tóxicas.
Manter níveis adequados de iodo ao longo do ciclo menstrual é fundamental para a saúde reprodutiva.
Ferro
O ferro é essencial para o transporte de oxigênio via hemoglobina, vital para o funcionamento dos ovários, maturação dos oócitos e desenvolvimento embrionário. Além disso, o ferro participa de processos como a síntese de DNA e o funcionamento mitocondrial, sendo crucial para a atividade de enzimas envolvidas no metabolismo de hormônios esteroides.
A deficiência de ferro, frequentemente manifestada como anemia, pode levar a ciclos menstruais irregulares e reduzir o potencial de fertilidade, comprometendo a qualidade dos oócitos e a receptividade endometrial, o que pode afetar a implantação embrionária.
Estudos também associaram alterações no metabolismo do ferro – como níveis elevados de ferritina – a condições como a endometriose.
Por outro lado, o excesso de ferro pode aumentar a produção de radicais livres, desencadeando estresse oxidativo e prejudicando a qualidade dos oócitos, especialmente com o avanço da idade, além de agravar processos inflamatórios.
Cálcio
O cálcio, além de seu papel conhecido na saúde óssea, é crucial na regulação hormonal e na função reprodutiva. Ele influencia a liberação de neurotransmissores que estimulam o GnRH, desencadeando a liberação de LH e FSH, hormônios essenciais para ovulação e produção de estrogênio e progesterona.
No ovário, o cálcio participa de vias de sinalização intracelular (como SOCE, CaMKII e PLC), que são fundamentais para o desenvolvimento folicular, a maturação do oócito e a liberação do óvulo.
Durante a fertilização e os estágios iniciais do desenvolvimento embrionário, níveis adequados de cálcio garantem a ativação do oócito e a divisão celular, além de favorecer a implantação do embrião no endométrio.
Ainda, a deposição de cálcio na camada endometrial, modulada pelo estrogênio e por canais específicos (BK(Ca)), é decisiva para a receptividade uterina e o sucesso da gestação.
Magnésio
O magnésio é um mineral essencial que atua como cofator em inúmeras reações enzimáticas, incluindo a atividade da aromatase, responsável pela conversão de andrógenos em estrogênios.
Isso o torna crucial na regulação hormonal e na manutenção da fertilidade feminina, especialmente em condições como a SOP, onde níveis séricos de magnésio tendem a ser mais baixos.
Além disso, o magnésio possui importantes propriedades antioxidantes, contribuindo para a proteção do DNA e a preservação da qualidade dos oócitos, o que é vital para uma ovulação saudável e para o bom funcionamento do endométrio.
Estudos também sugerem que o magnésio pode ajudar a relaxar o músculo liso, potencialmente beneficiando mulheres com endometriose ao reduzir contrações irregulares nas trompas e níveis de VEGF.
Manter níveis adequados de magnésio durante todo o ciclo menstrual é, portanto, fundamental para o equilíbrio hormonal e a saúde reprodutiva.
Cobre
O cobre é fundamental na defesa contra o estresse oxidativo, atuando como cofator da enzima Cu, Zn-SOD e modulando outros sistemas antioxidantes, além de influenciar a transdução de sinais e a expressão gênica.
Na reprodução feminina, suas propriedades antioxidantes protegem os oócitos e garantem a integridade celular, enquanto sua ação no endotélio assegura um fluxo sanguíneo adequado para o útero e ovários, beneficiando a fertilidade. Contudo, o excesso de cobre pode ter efeitos pró-oxidantes.
O que podemos concluir?
Com base na revisão, ficou claro que cada mineral desempenha um papel significativo nos processos biológicos que sustentam a saúde reprodutiva. As interações desses minerais com determinantes-chave da fertilidade, como regulação hormonal, função ovariana, ovulação, estresse oxidativo e implantação endometrial, são complexas e críticas.
Coletivamente, esses insights ressaltam o imperativo para os clínicos recomendarem suplementação mineral com precisão, adaptada aos perfis de saúde individuais, padrões alimentares e aspirações reprodutivas, para promover o bem-estar reprodutivo ideal.
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Referência:
Kapper C, Oppelt P, Ganhör C, Gyunesh AA, Arbeithuber B, Stelzl P, Rezk-Füreder M. Minerals and the Menstrual Cycle: Impacts on Ovulation and Endometrial Health. Nutrients. 2024 Mar 29;16(7):1008. doi: 10.3390/nu16071008. PMID: 38613041; PMCID: PMC11013220.