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A extubação é um procedimento fundamental na unidade de terapia intensiva (UTI) durante a recuperação de uma doença crítica. Contudo, como a disfunção orofaríngea pode durar várias horas após a remoção do tubo traqueal que protege as vias aéreas, o procedimento de extubação está associado ao risco de aspiração do conteúdo gástrico.
Para favorecer a vacuidade gástrica, muitos profissionais impõem um período de jejum em pacientes na UTI, interrompendo a nutrição enteral e, às vezes, aspirando o conteúdo gástrico através do tubo gástrico, antes da extubação.
Essa prática é parcialmente baseada em diretrizes para cirurgia programada, mas nunca foi avaliada entre pacientes que são extubados na UTI após doença crítica que requer ventilação mecânica invasiva.
Além disso, o jejum antes da extubação não é isento de danos potenciais, como extubação tardia e ingestão nutricional reduzida com distúrbios metabólicos associados, bem como potencial carga de trabalho extra de enfermagem.
Sendo assim, uma nova pesquisa teve como objetivo comparar a nutrição enteral contínua até a extubação, com o jejum antes da extubação em pacientes na UTI. Confira os detalhes a seguir.
Metodologia
Em um recente ensaio aberto, randomizado por cluster, de grupos paralelos e de não inferioridade, pesquisadores recrutaram pacientes de 22 unidades de terapia intensiva na França.
Os centros foram aleatoriamente designados (1:1) para nutrição enteral contínua até a extubação, ou jejum de 6 horas com aspiração gástrica concomitante antes da extubação, a ser aplicada a todos os pacientes dentro da unidade.
Os pacientes eram elegíveis para inscrição se tivessem:
- 18 anos ou mais
- Recebido ventilação mecânica invasiva por pelo menos 48h na UTI
- Recebido nutrição enteral pré-pilórica por pelo menos 24h no momento da decisão de extubação
Ao total, 1.130 pacientes foram inscritos e incluídos na população com intenção de tratar e 1.008 foram incluídos na população por protocolo.
O desfecho primário foi falha de extubação (critérios compostos de reintubação ou morte) dentro de 7 dias após a extubação, avaliados em ambas as populações. Além disso, pneumonia dentro de 14 dias da extubação foi um desfecho secundário importante.
Principais descobertas
Na população com intenção de tratar, a falha de extubação ocorreu em 106 (17,2%) de 617 pacientes designados para receber nutrição enteral contínua até a extubação, versus 90 (17,5%) de 513 designados para jejum.
Na população por protocolo, a falha de extubação ocorreu em 101 (17,0%) de 595 pacientes designados para receber nutrição enteral contínua versus 74 (17,9%) de 413 designados para jejum.
Em relação ao desfecho secundário, a pneumonia dentro de 14 dias da extubação ocorreu em 10 (1,6%) pacientes designados para receber nutrição enteral contínua e 13 (2,5%) designados para jejum.
Ademais, os pacientes que receberam nutrição enteral contínua até a extubação foram extubados mais cedo, e tiveram menor permanência na UTI.
O que podemos concluir?
Em suma, a nutrição enteral contínua até a extubação não foi inferior ao jejum antes da extubação, em termos de falha de extubação (reintubação ou morte em 7 dias). Sendo assim, a nutrição enteral apresenta-se como uma alternativa potencial nesta população.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência
Landais, M., Nay, M. A., Auchabie, J., Hubert, N., Frerou, A., Yehia, A., … & DARWICHE, W. (2023). Continued enteral nutrition until extubation compared with fasting before extubation in patients in the intensive care unit: an open-label, cluster-randomised, parallel-group, non-inferiority trial. The Lancet Respiratory Medicine, 11(4), 319-328.