A caquexia pode ser caracterizada por um consumo proteico-calórico reduzido, que ocasiona um balanço energético-proteico negativo associado a alterações metabólicas (aumento do catabolismo, resistência anabólica, aumento do gasto energético e desregulação neuro-hormonal), muitas vezes não responsiva a terapia nutricional convencional.
Na caquexia, as citocinas pró-inflamatórias liberadas pelo tumor favorecem a diminuição do apetite, o aumento de proteínas de fase aguda negativa e aceleram o catabolismo proteico.
Dessa forma, pesquisadores desenvolveram uma diretriz com o objetivo de reunir recomendações para melhorar os cuidados nutricionais e metabólicos em pacientes com câncer que apresentam caquexia. Vamos conhecer estas recomendações?
Estágios da caquexia
A caquexia pode ser dividida em 3 estágios:
1 – Pré-caquexia: ≤ 5% de perda de peso nos últimos 6 meses. Cursando com anorexia e alterações metabólicas.
2 – Caquexia: >5% de perda de peso nos últimos 6 meses ou > 2% de perda de peso nos últimos 6 meses e IMC < 20 kg/m 2 ou > 2% de perda de peso nos últimos 6 meses e sarcopenia. Aqui, a ingestão reduzida de alimentos e inflamação sistêmica são comuns.
3 – Caquexia refratária: Doença pró-catabólica, não responsiva ao tratamento anticancerígeno, baixa pontuação de desempenho e sobrevida esperada < 3 meses.
Oncologia, desnutrição e caquexia
Nos pacientes oncológicos, é de extrema importância a análise da composição corporal, além do peso e índice de massa corporal (IMC).
A aferição do peso de forma isolada não explica as possíveis alterações que podem ocorrer na diminuição de massa muscular e tecido adiposo. Além disso, o peso não permite a diferenciação da caquexia e desnutrição relacionada à fome, uma vez que nem todos os pacientes desnutridos são caquéticos, embora todos os pacientes caquéticos são invariavelmente desnutridos.
Além disso, grandes estudos têm conseguido expressar a relação entre a toxicidade do tratamento antineoplásico e a quantidade de massa muscular nos pacientes oncológicos, na qual os que apresentam baixa quantidade de massa muscular, tem maior propensão a superdosagem da quimioterapia, reforçando a importância da avaliação da caquexia nesses pacientes.
Nos pacientes oncológicos cirúrgicos, a caquexia está associada a maiores complicações cirúrgicas, deiscências de anastomoses, septicemia, disfunção renal, insuficiência hepática e mortalidade.
Para otimizar resultados nesses pacientes, uma das estratégias a serem consideradas é a pré-habilitação multimodal, que consiste em treinamento físico, suplementos nutricionais, cessação do tabagismo e suporte psicológico.
Tratamento nutricional da caquexia
O tratamento nutricional na caquexia deve ser baseado em 5 pilares:
- Multimodalidade;
- Intervenção precoce;
- Manejo individualizado de acordo com a etiologia e gravidade da desnutrição e caquexia;
- Cuidado integral;
- Colaboração multidisciplinar.
Por fim, a utilização de suplementos enriquecidos com ácidos graxos ômega-3 está associada ao aumento do peso corporal e redução da perda muscular em comparação com controles isocalóricos.
Nos pacientes que não alcançam suas necessidades nutricionais por via oral, a nutrição enteral está indicada. Para aqueles que não podem utilizar o trato gastrointestinal, a terapia nutricional parenteral pode ser uma alternativa.
Referência:
Jann Arends, Maurizio Muscaritoli, Stefan Anker, Riccardo Audisio, Rocco Barazzoni, Snezana Bosnjak, Paolo Bossi, Jacqueline Bowman, Stefan Gijssels, Željko Krznarić, Florian Strasser, Matti Aapro,Overcoming barriers to timely recognition and treatment of cancer cachexia: Sharing Progress in Cancer Care Task Force Position Paper and Call to Action,Critical Reviews in Oncology/Hematology, Volume 185, 2023, 103965, ISSN 1040-8428,
