Intolerância à nutrição enteral em pacientes graves: fatores de risco

Intolerância à nutrição enteral em pacientes graves: fatores de risco

intolerância à nutrição enteral
Fonte: Canva


Segundo a Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN), a dieta enteral é a primeira escolha de suporte nutricional para pacientes graves. Entretanto, cerca de 30 a 65% dos pacientes críticos sofrem com intolerância à nutrição enteral, apresentando diarreia, distensão abdominal, náusea, vômito, retenção gástrica, entre outros sintomas.

Quando essa intolerância está presente, a suspensão da NE prejudica o aporte suficiente de energia e nutrientes, agravando o estado nutricional.

Nesse cenário, uma nova revisão sistemática visou analisar os fatores de risco da intolerância à nutrição enteral em pacientes graves. O objetivo foi fornecer suporte para os profissionais de saúde que desejam prevenir e gerenciar esse quadro. 

Ao total, os pesquisadores incluíram 18 estudos com 5.564 pacientes sob nutrição enteral. Confira os achados a seguir.

Quais os fatores de risco para intolerância à nutrição enteral em pacientes críticos?

Após a análise dos estudos, foram os fatores de risco de intolerância alimentar em pacientes graves sob NE:

  • Idade < 2 anos
  • Idade > 60 anos
  • Escore APACHE II ≥ 20
  • Hipocalemia
  • Tempo de início da nutrição enteral > 72 horas
  • Nenhuma fibra alimentar
  • Pressão intra-abdominal > 15 mmHg
  • Pressão venosa central > 10 cmH2O 
  • Ventilação mecânica 

Por outro lado, hiperglicemia, hipoproteinemia, uso de sedativos, uso de drogas vasoativas, uso de agentes acidogênicos e purificação do sangue não se associaram à intolerância alimentar.

A seguir, confira os motivos que justificam esses parâmetros como fatores de risco, segundo os autores.

Idade

A função gastrointestinal de crianças pequenas não está totalmente desenvolvida. 

Já em idosos, o relaxamento do esfíncter esofágico é propenso a sintomas como refluxo alimentar e retenção gástrica. 

Devido à diminuição da função gastrointestinal e à gravidade da doença, a maioria dos pacientes fica na cama por muito tempo e reduz sua atividade independente, resultando em peristaltismo gastrointestinal ruim, o que retarda o esvaziamento gástrico.

Portanto, para pacientes com menos de 2 anos ou mais de 60 anos, deve-se avaliar completamente a função gastrointestinal e formular um plano de intervenção nutricional razoável e eficaz.

Pontuação APACHE II

A pontuação APACHE II é um índice importante para avaliar a gravidade da doença. Quando a pontuação é alta, indica-se que a condição do paciente é grave e a resposta ao estresse do corpo é aumentada, o que leva a sérios danos à função gastrointestinal e à deterioração da tolerância gastrointestinal. 

Portanto, durante a NE, esse tipo de paciente não tolera a infusão de solução nutritiva e tem complicações gastrointestinais correspondentes. 

Assim, para os pacientes com pontuação APACHE II acima de 20, deve-se fortalecer o monitoramento da NE, avaliando se os pacientes apresentam sinais de intolerância, e evitar ou reduzir a sua ocorrência.

Pressão intra-abdominal

O aumento da pressão intra-abdominal leva a uma diminuição do fluxo sanguíneo gastrointestinal, resultando em danos à integridade e à função gastrointestinal.

Anteriormente, foi relatado que ajustar a velocidade da infusão de NE de acordo com o nível de pressão intra-abdominal pode prevenir a ocorrência de intolerância.

No entanto, como a medição da pressão intra-abdominal é afetada pelo julgamento subjetivo artificial, ventilação mecânica e outros fatores, pode haver erros. Portanto, deve-se haver um treinamento de enfermeiros sobre o monitoramento da pressão intra-abdominal, garantindo sua eficácia e precisão.

Nutrição enteral tardia

Com a extensão do tempo de jejum, a capacidade de autorreparação gastrointestinal e a capacidade bactericida diminuem. Isso resulta em distúrbio da função intestinal e, possivelmente, intolerância à nutrição enteral.

Desse modo, a nutrição enteral precoce em pacientes graves ajuda a proteger a função da barreira da mucosa intestinal e a reduzir a translocação bacteriana, reduzindo a incidência de complicações como infecção. 

De fato, as diretrizes relevantes indicam que pacientes críticos devem iniciar a nutrição enteral em 24 a 72 horas após a admissão.

Fibra alimentar

A fermentação da fibra alimentar no cólon pode produzir ácidos graxos de cadeia curta, que podem melhorar a função imunológica intestinal e regular a motilidade gastrointestinal. Ao mesmo tempo, pode prolongar o tempo de trânsito dos alimentos no trato gastrointestinal, reduzir a ocorrência de diarreia e, então, melhorar a tolerância à nutrição enteral.

Alguns estudos mostraram que a adição de fibra alimentar à nutrição enteral em pacientes graves pode reduzir a resposta inflamatória, melhorar a resposta imunológica e corrigir a disfunção da barreira da mucosa intestinal. 

Atualmente, as diretrizes não apontam claramente se a fibra alimentar deve ser adicionada às preparações de nutrição enteral para pacientes graves.

Ventilação mecânica

A ventilação mecânica causa uma diminuição no suprimento de fluido sanguíneo gastrointestinal, resultando em anoxia e isquemia da mucosa gastrointestinal, e em danos à função gastrointestinal. 

Além disso, a ventilação mecânica aumenta a pressão intra-abdominal e causa o distúrbio da função gastrointestinal do paciente. 

Portanto, para pacientes com ventilação mecânica, é necessário observar de perto a tolerância gastrointestinal, avaliar a função respiratória a tempo e interromper o tratamento de ventilação mecânica o mais rápido possível para pacientes com recuperação espontânea da função respiratória, de modo a reduzir a ocorrência de intolerância à alimentação com nutrição enteral.

Conclusão

Em resumo, fatores de risco para intolerância à nutrição enteral incluem idade (< 2 anos e > 60 anos), pontuação APACHE II ≥ 20, hipocalemia, tempo de início da nutrição enteral > 72 horas, nenhuma fibra alimentar, pressão intra-abdominal > 15 mmHg, pressão venosa central > 10 cmH2O e ventilação mecânica. 

Portanto, profissionais de saúde devem identificar tais fatores e tomar medidas positivas e eficazes de prevenção e tratamento.  Reduzir a incidência de intolerância à nutrição enteral permite atingir o volume de alimentação alvo o mais rápido possível, promovendo a recuperação dos pacientes.

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

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Referência:

Xu J, Shi W, Xie L, Xu J, Bian L. Feeding Intolerance in Critically Ill Patients with Enteral Nutrition: A Meta-Analysis and Systematic Review. J Crit Care Med (Targu Mures). 2024 Jan 30;10(1):7-15. doi: 10.2478/jccm-2024-0007. PMID: 39108795; PMCID: PMC11193960.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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