
O envelhecimento populacional traz uma complexa dualidade: a necessidade de combater a sarcopenia, essencial para a funcionalidade e qualidade de vida, e o crescente risco de obesidade. A ingestão de proteína sempre foi vista como o pilar na preservação da massa e função muscular, crucial para a síntese proteica.
Porém, um novo estudo prospectivo elucida um paradoxo: o que protege o músculo pode, a longo prazo, promover o acúmulo de gordura. Continue lendo para saber mais:
Sobre o estudo
Foram incluídos 4.576 participantes do Estudo de Rotterdam, uma coorte prospectiva de base populacional, com pacientes com idade média de 65,1 anos. A ingestão de proteína total, animal e vegetal foi medida no início do estudo (2004–2009) usando questionários de frequência alimentar (QFA).
Também foram avaliadas a composição corporal através do DXA (densitometria por absorciometria de raios-X de dupla energia) e a presença de sarcopenia, baseada na baixa massa muscular esquelética e na baixa força de aperto de mão.
A dualidade da ingestão de proteína na composição corporal
A ingestão média total de proteína foi de 1,13 g/kg de peso corporal/dia, correspondendo a 15,7% da energia total, o que é um nível semelhante a outras coortes ocidentais. Contudo, os resultados apontaram que o aumento da ingestão de proteína (substituindo carboidratos e mantendo a energia total constante) teve efeitos opostos a longo prazo:
Proteção muscular vs. acúmulo de gordura
Uma maior ingestão total de proteína foi consistentemente associada a um menor risco de sarcopenia. No entanto, essa mesma ingestão total de proteína aumentada foi associada a um aumento significativo no IMC e na porcentagem de gordura corporal ao longo do tempo.
O fator chave: a proteína animal
A análise mostrou que a maioria dessas associações desfavoráveis foi impulsionada pela proteína animal que também esteve associada a um maior risco de obesidade sarcopênica.
Isso sugere que, embora proteja contra a sarcopenia, a alta ingestão de proteína animal pode levar ao acúmulo de gordura e obesidade.
O que podemos concluir?
Este estudo reforça que o aconselhamento sobre a ingestão de proteína deve ir além da quantidade e se concentrar na qualidade e na fonte para otimizar os resultados na saúde do idoso.
A proteção contra a sarcopenia é de extrema importância, mas o risco aumentado de acúmulo de gordura e obesidade sarcopênica ligado à proteína animal sugere que precisamos refinar as fontes.
As recomendações de ingestão de proteína devem ser formuladas com base nas necessidades individuais, no estado de saúde e nos objetivos de composição corporal, visando prevenir simultaneamente a sarcopenia e a obesidade sarcopênica.
Ao fazer os planos alimentares de idosos, é prudente assegurar uma ingestão proteica adequada, incentivando o equilíbrio e a incorporação estratégica de fontes vegetais ou proteínas animais de alta qualidade e baixo teor de gordura.
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Referência
Wu, Yahong et al. Dietary protein intake and body composition, sarcopenia and sarcopenic obesity: A prospective population-based study. Clinical Nutrition, Volume 53, 26 – 34



