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O tratamento com nutrição enteral exclusiva é benéfico na doença de Crohn em crianças, podendo induzir a remissão em até 80% dos pacientes pediátricos. Contudo, mesmo com a NE, menos pacientes apresentam normalização de biomarcadores inflamatórios intestinais, como calprotectina fecal (FCal).
Nesse sentido, como saber quais serão os pacientes responsivos (ou não) à terapia nutricional? Quais fatores influenciam a resposta a este tratamento?
Uma nova pesquisa buscou solucionar esta questão, analisando um extenso grupo de fatores pré-tratamento que poderiam predizer a resposta à NE na doença de Crohn em crianças. Continue lendo para descobri-los.
37 crianças com doença de Crohn participaram da pesquisa
Neste estudo inovador, pesquisadores recrutaram 37 crianças com doença de Crohn ativa, que passariam por 8 semanas de nutrição enteral exclusiva (NEE).
Assim, antes do início da NEE, os autores mediram alguns fatores que potencialmente poderiam predizer a resposta ao tratamento. Foram eles:
- Parâmetros clínicos
- Antropometria
- Ingestão alimentar (por questionário de frequência alimentar)
- 19 citocinas inflamatórias plasmáticas
- 92 marcadores proteômicos relacionados à inflamação
- Metabólitos relacionados à dieta
- Metabolômica e microbiota nas fezes
Para medir a eficácia da nutrição enteral, os pesquisadores utilizaram o Fcal, medido ao final do estudo. O FCal, ou calprotectina fecal, é um marcador de inflamação intestinal utilizado principalmente na avaliação de doenças inflamatórias intestinais (DII), como a doença de Crohn.
Altos níveis de calprotectina fecal geralmente estão associados a uma maior inflamação no intestino, indicando atividade ou recaída da doença em pacientes com DII. Assim, temos que:
- FCal < 250 μg/g: respondentes à nutrição enteral;
- FCal > 250 μg/g: não respondentes à nutrição enteral.
Dieta, metaboloma e microbiota previram a resposta ao tratamento
Dos 37 pacientes, 15 responderam e 22 não responderam à nutrição enteral.
Em relação à dieta, os respondentes consumiram mais produtos de confeitaria e sorvete, em comparação com os não respondentes (0,55 vs 0,19 porções/100 kcal/dia). Já os não respondentes consumiram mais fibras, frutas e amido.
Sobre os metabólitos relacionados à dieta, os respondentes tiveram menos butirato, acetato e fenilacetato, em comparação com não respondentes. Nesse sentido, o metabólito mais influente foi o butirato, com concentrações muito mais altas nos não respondentes.
Além disso, os respondentes tiveram uma maior riqueza de microbiota nas fezes. Por outro lado, os táxons Bacteroides, Lachnospiraceae, Ruminococcaceae e Anaerococcus estavam em menor abundância.
Por fim, os pesquisadores desenvolveram um modelo multicomponente utilizando parâmetros fecais, dados dietéticos e parâmetros clínicos e imunológicos.
Este modelo foi capaz de prever a resposta à NEE com 78% de precisão, ao passo que as variáveis mais influentes foram os táxons Lachnospiraceae, Ruminococcaceae e Bacteroides, além dos metabólitos fenilacetato, butirato e acetato (todos eles maiores nos não respondentes).
Conclusão
Em resumo, a dieta, o metaboloma e a microbiota intestinal parecem ser os fatores decisivos que influenciam a resposta à nutrição enteral na doença de Crohn em crianças.
O fato de que apenas metabólitos bacterianos e organismos relacionados à dieta diferenciaram entre respondedores e não respondedores sublinha a importância dos fatores dietéticos no manejo da DC ativa.
Segundo os autores, estes achados podem contribuir para a otimização pré-tratamento e para a personalização da terapia nutricional na DC pediátrica. Mais pesquisas são necessárias para confirmar os achados e propor intervenções terapêuticas eficazes.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Nichols, B., Briola, A., Logan, M., Havlik, J., Mascellani, A., Gkikas, K., … & Gerasimidis, K. (2024). Gut metabolome and microbiota signatures predict response to treatment with exclusive enteral nutrition in a prospective study in children with active Crohn’s disease. The American Journal of Clinical Nutrition.