Dieta mediterrânea: impactos para a imunidade dos idosos

Dieta mediterrânea: impactos para a imunidade dos idosos

dieta mediterrânea
Fonte: Canva

Com o envelhecimento, é comum que a imunidade enfraqueça, deixando o corpo mais vulnerável a infecções e doenças. No entanto, a alimentação é uma das áreas mais suscetíveis à intervenção para promover um envelhecimento saudável. 

Mais especificamente, a adesão à dieta mediterrânea tem sido amplamente associada a diversos benefícios na terceira idade, como o envelhecimento cognitivo mais lento, menor mortalidade, redução da fragilidade, preservação de massa e função muscular, melhorias na dor, incapacidade e sintomas depressivos. 

Mas, afinal, como a dieta mediterrânea age no organismo para fortalecer a função imunológica e reduzir o risco de doenças em idosos? Uma nova revisão bibliográfica buscou responder a esta questão. Confira a seguir.

Em primeiro lugar, o que é a dieta mediterrânea?

A Dieta Mediterrânica (DM) é um padrão alimentar caracterizada por:

  • Alto consumo de frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, nozes e azeite de oliva
  • Consumo moderado de peixe e carne magra (aves) e laticínios
  • Consumo limitado de carne vermelha, doces e gorduras saturadas

Vale ressaltar que a DM abrange mais do que apenas alimentos, mas também valores, como o aspecto social de jantar com a família ou amigos, e uma ênfase na sustentabilidade ao preferir alimentos sazonais e produzidos localmente. 

Como a dieta mediterrânea pode afetar a imunidade?

O sistema imunológico está constantemente trabalhando para proteger nossos corpos da exposição a fatores externos e internos, sendo que a alimentação faz parte dos desafios externos. Vale ressaltar que a imunidade humana é amplamente modulada pela microbiota intestinal, que por sua vez é modulada pela dieta

Certos grupos alimentares, aditivos ou produtos alimentícios ultraprocessados ​​podem perturbar o equilíbrio da microbiota intestinal, resultando em alterações na barreira intestinal e ativação do sistema imunológico. 

Por exemplo, o vazamento de substâncias tóxicas provenientes da microbiota intestinal pelo eixo-intestino-cérebro aumenta o risco de doenças como Alzheimer ou Parkinson, além de promover sintomas depressivos, ansiedade e níveis de estresse.

Por outro lado, a dieta mediterrânea promove a proliferação de espécies bacterianas benéficas na microbiota intestinal, reduzindo a inflamação e melhorando a função imunológica. 

A figura abaixo ilustra como a dieta mediterrânea pode beneficiar a função imunológica. 

Fatores de estilo de vida
Fonte: Ecarnot & Maggi, 2024.

 

 

Componentes da dieta mediterrânea e efeitos na imunidade

Abaixo, estão descritos os principais componentes da DM responsáveis pelos seus efeitos na imunidade.

Vitamina E: Presente em nozes e óleos vegetais, é um antioxidante potente presente nas membranas celulares, que protege os ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs) contra os danos causados ​​pelos radicais livres e estresse oxidativo.

Vitamina A: Essencial para a integridade estrutural e funcional das células mucosas, especialmente nas barreiras como pele, além do funcionamento normal das células imunes. Seus precursores (carotenoides) são encontrados na dieta mediterrânea em vegetais como cenouras, tomates e vegetais folhosos.

Vitamina D: Promove a integridade das barreiras intestinais, além de regular a proliferação de células imunológicas e o equilíbrio do cálcio no organismo.

Vitamina C: Promove a integridade das barreiras epiteliais ao aumentar a síntese de colágeno e atua em conjunto com outros antioxidantes, como a vitamina E.

Zinco: Presente em alimentos como grãos integrais e leguminosas, é essencial para a homeostase do sistema imunológico, promovendo o desenvolvimento de células Treg e suprimindo a diferenciação de linfócitos pró-inflamatórios. Também possui atividade antiviral.

Selênio: Participa da resposta antioxidante e modula a função imunológica, sendo importante na proteção contra infecções virais. Tanto a imunidade adaptativa quanto a inata são afetadas por ele, incluindo a capacidade de sinalização inflamatória e atividade antipatogênica de macrófagos. É encontrado em alimentos como nozes e grãos.

Ômega-3: Possui propriedades anti-inflamatórias por meio de várias vias, incluindo a supressão da produção de citocinas e produção aumentada de resolvinas. Podem promover a apresentação eficiente de antígenos, permitindo assim uma resolução imunológica mais rápida. 

Por fim, também influenciam várias populações celulares envolvidas na imunidade (como macrófagos, monócitos, neutrófilos e linfócitos), aumentando a fagocitose e melhorando a remoção de resíduos celulares, e fazendo a transição dos macrófagos para um fenótipo anti-inflamatório.

Polifenóis: Compostos bioativos encontrados em frutas, vegetais, chás, e vinhos, que promovem a proliferação de bactérias benéficas na microbiota intestinal, ao mesmo tempo que dificulta a proliferação de bactérias nocivas. 

Fibras: Presente em frutas, vegetais, e grãos integrais, a fibra promove a diversidade da microbiota intestinal, auxiliando na produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) que regulam a inflamação e a integridade da barreira intestinal. Além disso, promovem a expansão e diferenciação de células Tregs, que desempenham um papel fundamental na manutenção da homeostase imunológica.

O que podemos concluir?

Em conclusão, a dieta mediterrânea surge como uma aliada poderosa para a saúde imunológica dos idosos, atuando de maneira abrangente no organismo. Seus componentes alimentares, ricos em vitaminas, minerais, fibras, ômega-3 e polifenóis, não apenas promovem a integridade de barreiras, como modulam positivamente a microbiota intestinal. 

Dessa forma, a DM contribui para a redução da inflamação crônica e fortalece a função imunológica, protegendo contra infecções e doenças comuns na terceira idade. Incorporar esse padrão alimentar ao dia a dia dos idosos pode ser uma estratégia eficaz para promover um envelhecimento saudável e resiliente.

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Referência:

Ecarnot F, Maggi S. The impact of the Mediterranean diet on immune function in older adults. Aging Clin Exp Res. 2024 May 23;36(1):117. doi: 10.1007/s40520-024-02753-3. PMID: 38780713; PMCID: PMC11116168.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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