Organizações espanholas elaboraram um novo consenso para homogeneizar o manejo nutricional e metabólico de doentes incluídos no programa de recuperação aprimorada após a cirurgia (ERAS). Entre os membros, estão a Área de Nutrição da Sociedade Espanhola de Endocrinologia e Nutrição (SEEN) e o Grupo Espanhol de Reabilitação Multimodal (GERM).
Os protocolos ERAS combinam uma série de estratégias perioperatórias para reduzir a resposta ao estresse cirúrgico e otimizar a recuperação do paciente. Dentre os 79 itens selecionados no consenso, 61 demonstraram concordância consistente.
O painel de especialistas concorda que a resposta endócrino-metabólica ao estresse cirúrgico gera um estado de resistência à insulina que pode promover o desenvolvimento de hiperglicemia pós-operatória, que por sua vez condiciona um aumento na morbidade e mortalidade pós-operatório. Considera-se que programas ERAS podem reduzir a resistência à insulina e, assim, melhorar o controle glicêmico perioperatório.
Particularmente em pacientes oncológicos que serão tratados com cirurgia abdominal de grande porte, a desnutrição é uma situação clínica muito prevalente. Pacientes cirúrgicos são considerados em risco de estado nutricional grave quando apresentam perda de peso >10-15%, ou índice de massa corporal inferior a 18,5 kg/m2, ou uma avaliação global subjetiva grau C, ou um NRS-2002 > 5, ou albumina plasmática <3 g/dl. A redução do valor de albumina plasmática deve ser interpretada no contexto da resposta inflamatória sistêmica causada pelo processo cirúrgico.
Considera-se um paciente cirúrgico desnutrido quando há pelo menos um dos seguintes critérios fenotípicos: perda de peso involuntária maior que 5-10% em um determinado período; índice de massa corporal menor que 20-22 kg/m2 de acordo com a idade ou diminuição da massa muscular; juntamente com um critério etiológico, como diminuição da ingestão/absorção nutricional ou estado inflamatório agudo/crônico.
A colocação rotineira de sonda nasogástrica para descompressão gastrointestinal não é recomendada neste consenso, pois considera-se que esta não reduz as complicações pós-operatórias, pode prolongar a permanência hospitalar e não facilita a recuperação do íleo pós-operatório. Por outro lado, a colocação de sonda nasojejunal ou jejunostomia ao final do procedimento cirúrgico é sugerida em intervenções cirúrgicas complexas ou de longa duração em que se prevê que a ingestão oral precoce não será possível, como é o caso da cirurgia pancreática.
A administração da fluidoterapia deve ser estabelecida de forma individualizada para tentar atingir o equilíbrio zero, evitando sobrecarga hídrica e de sódio. A infusão de volumes excessivos de fluidos intravenosos e cristaloides deve ser evitada, pois demonstrou ser uma das principais causas de lentificação do esvaziamento gástrico e prolongamento do íleo pós-operatório
Outros aspectos importantes do cuidado nutricional também são discutidos, como otimização do período de jejum para procedimentos cirúrgicos e tópicos relacionados a imunonutrição.
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