Quais os efeitos da dieta low carb em pacientes com lipedema?
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O lipedema é uma condição crônica que afeta principalmente mulheres. Ele se manifesta como um acúmulo simétrico de gordura nos membros inferiores, geralmente acompanhado de dor, sensibilidade e prejuízo na qualidade de vida.
Apesar de comum, ainda é subdiagnosticado e difícil de tratar. Acredita-se que o tecido adiposo subcutâneo afetado pelo lipedema seja resistente a dietas convencionais para perda de peso e exercícios, resultando em perda de peso apenas no tecido adiposo não afetado.
Estudos recentes sugerem que dietas low carb podem aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida de pacientes com lipedema. Contudo, como faltavam estudos controlados para investigar esse efeito, um novo ensaio clínico buscou mudar esse cenário. Confira detalhes a seguir.
70 mulheres com lipedema participaram da pesquisa
Este estudo foi um ensaio clínico randomizado (ECT) que comparou uma dieta low carb com uma dieta padrão (controle) em mulheres com lipedema.
No total, 70 pacientes do sexo feminino com diagnóstico de lipedema, com idade entre 18 e 75 anos e IMC entre 30 e 45 kg/m², foram convidadas a participar do estudo.
As participantes foram divididas aleatoriamente em dois grupos, e receberam acompanhamento semanal para monitorar a adesão às dietas.
- Dieta low carb (n=35): 75g de carboidratos (25% das calorias) e 73g de gorduras (55% das calorias). Consistiu principalmente de carne/aves/peixe, ovos, nozes, pequenas quantidades de frutas e vegetais com baixo teor de CHO e laticínios. Manteiga e laticínios integrais foram substituídos por gorduras saudáveis, como azeite de oliva e alimentos ricos em ácidos graxos poli-insaturados (AGPIs).
- Dieta controle (n=35): 180g de carboidratos (60% das calorias) e 27g de gorduras (20% das calorias). Consistiu principalmente de grãos integrais, incluindo pão, macarrão e arroz; leguminosas, frutas e vegetais; e quantidades moderadas de ovos, carne/aves/peixe e laticínios com baixo teor de gordura.
Ambas as dietas continham o mesmo valor energético (1200 kcal/dia) e o mesmo teor de proteína proteína (60 g, 20% das calorias).
As participantes fizeram registros alimentares diários e foram monitoradas semanalmente quanto ao peso, cetose e efeitos colaterais. A cetose foi verificada com tiras de teste de urina e medição de sangue.
Foram avaliados peso, composição corporal (com análise de bioimpedância), dor (usando a Brief Pain Inventory) e qualidade de vida (através de três questionários específicos).
Grupo low carb apresentou melhores resultados
Redução da dor
O grupo low carb relatou uma redução significativa na dor mais forte; dor mais fraca; dor média; dor atual; escore de intensidade da dor; e interferência da dor nas atividades diárias, caminhada, trabalho regular, relacionamentos e sono. Não houve alteração no grupo controle para nenhuma das variáveis.
Ambos os grupos apresentaram uma redução significativa na interferência da dor no humor, na alegria de viver e no escore de interferência da dor.
Perda de peso e composição corporal
Ambos os grupos apresentaram perda significativa de peso, massa de gordura e massa livre de gordura, bem como redução significativa na água intracelular, água extracelular e água corporal total. Entretanto, o grupo low carb teve uma redução significativamente maior no peso corporal (−2,8 kg) e na massa de gordura em comparação com o grupo controle (−2,5 kg).
Não foram encontradas associações entre alterações na dor atual e perda de peso.
Efeitos na qualidade de vida
Ambos os grupos relataram melhorias na qualidade de vida, como no funcionamento físico, energia e saúde geral. No entanto, o grupo low carb apresentou uma melhora significativa em domínios como bem-estar emocional, funcionamento social e até mesmo a vida sexual.
O questionário específico para lipedema (LYMQOL) indicou uma melhoria maior no grupo low carb, sugerindo que a dieta pode ter impactos diretos na condição.
Esses achados estão alinhados com pesquisas anteriores, que mostraram que a dor e a qualidade de vida em pacientes com lipedema podem ser significativamente afetadas por mudanças no estilo de vida, especialmente na dieta.
O que explica esses resultados?
A dor associada ao lipedema é muitas vezes atribuída à pressão sobre os nervos, acúmulo de fluido e inflamação no tecido afetado. Assim, sugere-se que uma dieta low carb pode aliviar a dor reduzindo a água ou o edema tecidual, a inflamação e a fibrose e/ou alterando a função metabólica e hormonal.
O aumento das concentrações de β-hidroxibutirato (β-HB), um corpo cetônico, tem sido associado à diminuição da inflamação, mas não foi observada uma correlação direta com a redução da dor neste estudo, sugerindo que outros mecanismos podem estar em jogo.
Em relação à perda de peso, sugere-se que a adesão à dieta low carb tenha exercido um papel importante. O aumento na saciedade, principalmente pela ingestão maior de proteínas, pode ter sido um fator chave, assim como o efeito da cetose, que previne o aumento do apetite.
Outra possibilidade é que uma dieta low carb aumente o gasto energético; no entanto, esse mecanismo permanece controverso.
O que podemos concluir?
O estudo sugeriu que a dieta low carb pode ser uma boa opção de tratamento para mulheres com lipedema, pois teve um efeito positivo tanto na dor quanto na qualidade de vida. Embora a perda de peso em si não tenha afetado a dor, teve um efeito positivo na qualidade de vida.
Mais estudos com uma amostra maior são necessários para confirmar esses resultados e explorar os mecanismos subjacentes.
Para ler a pesquisa completa, clique aqui.
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