Crianças com TEA podem ser mais baixas que crianças neurotípicas: entenda os motivos
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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por dificuldades de comunicação, habilidades sociais limitadas e comportamentos repetitivos. Nos últimos anos, o TEA vem apresentando uma prevalência crescente, especialmente em países de alta renda.
A população pediátrica com TEA é notória por apresentar hábitos alimentares seletivos, e a incidência de problemas alimentares nessa população é até cinco vezes maior do que em crianças com desenvolvimento típico.
Crianças com TEA consomem menos alimentos do que a ingestão diária recomendada, o que as coloca em maior risco de apresentar déficit de crescimento e deficiências nutricionais de macro e micronutrientes na infância.
Assim, evidências crescentes indicam que intervenções nutricionais e dietéticas ajudam a melhorar o estado nutricional, a função cognitiva e as manifestações do TEA.
Investigando o estado nutricional de crianças com TEA
Recentemente, uma revisão sistemática e metanálise robusta avaliou o estado nutricional de crianças com TEA em comparação com as crianças típicas.
Os autores buscaram comparar:
- Medidas antropométricas, incluindo altura, peso e IMC
- Ingestão de macronutrientes e calorias
- Níveis de vitaminas hidrossolúveis, incluindo folato, riboflavina, tiamina, vitamina B12, vitamina B6, vitamina C e niacina
- Níveis de vitaminas lipossolúveis, incluindo vitamina A, vitamina D, vitamina E e vitamina K
- Níveis de minerais, incluindo cálcio, ferro, zinco, fósforo e sódio
O estudo incluiu 32 artigos, totalizando 18.480 crianças (2.955 com TEA e 15.525 TDC).
Principais achados
Déficits de macronutrientes
A ingestão de proteínas foi reduzida em crianças com TEA. Não foram observadas diferenças significativas no consumo calórico total, na ingestão de carboidratos ou na ingestão total de gorduras.
Déficits de micronutrientes
Crianças com TEA apresentaram uma ingestão reduzida de quase todas as vitaminas lipossolúveis: vitamina A, vitamina D e vitamina K. Curiosamente, crianças com TEA consumiram mais vitamina E.
Vale ressaltar que a vitamina A desempenha um papel fundamental no neurodesenvolvimento, regulando a neurogênese e a sinalização GABAérgica, ambas prejudicadas no TEA. Ela também protege os neurônios do estresse oxidativo e da inflamação, que são elevados no TEA.
Houve também uma ingestão reduzida de algumas vitaminas hidrossolúveis, como folato, riboflavina e tiamina.
O folato, assim como a vitamina D, desempenha um papel essencial no neurodesenvolvimento, apoiando a metilação do DNA e a síntese de neurotransmissores. Sua deficiência tem sido associada ao comprometimento da função cerebral e à regulação epigenética alterada, ambos os quais podem contribuir para a fisiopatologia do TEA.
Em relação aos minerais, o único consumido em quantidade menor foi o cálcio. Outros, como ferro, zinco, fósforo e sódio não diferiam entre as crianças com ou sem TEA.
Antropometria e crescimento
Crianças com TEA foram consideradas significativamente mais baixas do que as crianças com desenvolvimento típico. No entanto, não houve diferença em relação ao peso ou ao Índice de Massa Corporal (IMC) entre os grupos.
Os autores sugerem que a menor estatura pode ser explicada pela menor ingestão de proteínas e pelo status deficiente de vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis.
Em contraste com tais descobertas, vários estudos relataram um IMC maior entre crianças com TEA.
Sintomas gastrointestinais
Crianças com TEA tinham um risco maior de constipação, diarreia e dor abdominal.
Estudos anteriores sugeriram que esses sintomas podem ocorrer devido à microbiota intestinal anormal e ao eixo intestino-cérebro resultantes da ingestão reduzida de fibras e dieta restrita.
O que podemos concluir?
A ciência indica que crianças com TEA tendem a possuir uma menor estatura, que pode estar relacionada à ingestão inadequada de macro e micronutrientes essenciais. Ademais, muitas apresentam sintomas gastrointestinais.
Nesse sentido, o profissional de saúde deve priorizar a condução de uma avaliação antropométrica detalhada, além de investigações bioquímicas frequentes e intervenções nutricionais focadas no indivíduo.
No Transtorno do Espectro Autista, cuidar da nutrição é plantar as sementes para um futuro de crescimento pleno e saudável.
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Referência:
Alhrbi A, Vlachopoulos D, Healey EM, Massoud AT, Morris C, Revuelta Iniesta R. Nutritional Status of Children Diagnosed With Autism Spectrum Disorder: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Hum Nutr Diet. 2025 Aug;38(4):e70099. doi: 10.1111/jhn.70099. PMID: 40708203; PMCID: PMC12290316.











