Em pacientes com câncer incurável, a desnutrição está associada à piora da qualidade de vida, redução das atividades cotidianas, aumento dos sintomas, maiores taxas e tempo de internações hospitalares e menor sobrevida.
Diversas sociedades consideram a terapia de nutrição parenteral domiciliar (TNPD) para pacientes com câncer incurável, particularmente para pacientes com insuficiência intestinal crônica que não podem ser alimentados via enteral e que tenham sobrevida esperada acima de 1 a 3 meses. No entanto, quando o assunto é câncer incurável, há uma variedade de pontos de vista e práticas clínicas sobre o uso de TNPD em pacientes com câncer em cuidados paliativos.
Evidências sobre os benefícios do TNPD na sobrevida são escassas e dados disponíveis são de estudos observacionais e não de ensaios controlados randomizados, já que não é eticamente aceitável ter um grupo controle de pacientes com ingestão crônica insuficiente de alimentos (afágico ou gravemente hipofágico) sem terapia nutricional.
Para determinar os fatores que afetam a prática clínica, as complicações e a evolução desses pacientes, Cotogni e colaboradores acompanharam por muitos anos pacientes com câncer recebendo TNPD. O estudo também incluiu pacientes desnutridos com câncer que eram elegíveis para TNPD, mas que por motivos diversos não receberam este tipo de terapia nutricional. O estudo de coorte prospectivo, classificou pacientes que receberam TNPD como grupo TNPD+ e os pacientes que receberam apenas hidratação artificial (HA) foram incluídos no grupo TNPD-. Em nenhum dos grupos os pacientes recebiam quimioterapia.
Foram avaliados 301 pacientes para elegibilidade de TNPD. Destes, 86 foram excluídos devido disfunção orgânica grave ou Índice de Karnofsky <50 e 90 pacientes foram excluídos por receberem TNPD associado a quimioterapia. Um total de 125 foram incluídos no estudo, sendo 89 no grupo TNPD+ e 36 no grupo TNPD−. A sobrevida dos dois grupos apresentou uma diferença significativa, e pacientes recebendo TNPD apresentaram sobrevida global mediana: 4,3 vs 1,5 meses, (p<0,001).
A análise multivariada dos fatores de risco para mortalidade mostrou que a ausência de TNPD em pacientes com indicação clínica representou o fator de risco mais forte (HR 25,72, IC 95% 13,65 a 48,44).
Os autores concluíram que a sobrevida associada ao uso de TNPD foi significativamente maior em pacientes desnutridos com câncer avançado, comparado a pacientes que receberam apenas HA. Esses dados apoiam a diretriz que recomenda que a nutrição parenteral deve ser considerada quando a desnutrição for a principal ameaça à sobrevivência desses pacientes.
Referência
Cotogni P, Ossola M, Passera R, Monge T, Fadda M, De Francesco A, Bozzetti F. Home parenteral nutrition versus artificial hydration in malnourished patients with cancer in palliative care: a prospective, cohort survival study. BMJ Support Palliat Care. 2022 Mar;12(1):114-120.
