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A água é o nutriente mais essencial para todos os organismos vivos, constituindo aproximadamente 60% do corpo adulto. Sua importância inclui a regulação da temperatura, pressão arterial e transporte de nutrientes.
O conteúdo de água corporal varia lentamente ao longo da vida, sendo mais alto em bebês e crianças, e diminuindo com a idade. Em particular, a desidratação por baixa ingestão é uma condição de saúde comum e crônica em idosos aparentemente saudáveis, principalmente aqueles que precisam de cuidados de longo prazo e hospitalização.
Nesse sentido, a desidratação em idosos pode chegar a até 60%, dependendo do ambiente e dos critérios diagnósticos, com vastas consequências para a saúde.
Uma nova revisão científica buscou reunir o conhecimento atual sobre o estado de hidratação em idosos, além de identificar lacunas que precisam ser preenchidas futuramente. Confira os achados a seguir.
Como ocorre a regulação da água corporal?
Em condições normais, a água corporal total (TBW) é mantida em um equilíbrio dinâmico, sendo dividida entre os compartimentos intracelular (65%) e extracelular (35%). O teor de água varia conforme idade, sexo, composição corporal e condições médicas.
A entrada diária total de água provém de líquidos, alimentos e produção metabólica através da oxidação de macronutrientes. Por outro lado, as perdas ocorrem pela respiração, pele, rins, suor e fezes, e uma pequena quantidade por lágrimas e escarro.
As recomendações para ingestão diária de líquidos por diferentes instituições internacionais são exibidas na tabela abaixo.
Instituição | Ingestão líquida diária | Idade |
European Food Safety Authority (EFSA) – 2010 | ≥1.6 L para mulheres
≥2.0 L para homens |
Adultos (≥18 anos) |
Institute of Medicine (IOM) – 2014 | 2.2 L para mulheres
3.0 L para homens |
Adultos (≥50 anos) |
Chinese Nutrition Society (CNS) – 2019 | 1.5 L para mulheres
1.7 L para homens |
Adultos mais velhos (≥65 anos) |
European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN) – 2022 | ≥1.6 L para mulheres
≥2.0 L para homens |
Adultos mais velhos (≥65 anos) |
Em idosos, a hidratação pode ser mais desafiadora devido a múltiplas doenças crônicas e menor turnover de água, que tende a diminuir com a idade.
Uma recente equação preditiva indicou que o turnover de água atinge o pico entre 20 e 40 anos, reduzindo-se após os 50 anos. Por exemplo, indivíduos com 80 anos tiveram cerca 700 mL a menos de renovação de água do que aqueles com 30 anos, mantendo constantes outras variáveis.
Em termos fisiológicos, o equilíbrio hídrico corporal depende da interação entre a sede e a arginina vasopressina (AVP), hormônio antidiurético.
Quando a osmolaridade do fluido extracelular aumenta, receptores osmóticos fora da barreira hematoencefálica enviam sinais ao cérebro, estimulando a sede e regulando a liberação de AVP pela hipófise posterior.
Definição e causas da desidratação em idosos
A desidratação, embora sem definição universalmente aceita, refere-se geralmente a um déficit de água corporal total (TBW). Ela é identificada quando há perda de >2% da massa corporal (~3% de TBW).
Classifica-se em:
- Hipotônica: quando, proporcionalmente, mais sal é perdido do que água.
- Isotônica: perdas equivalentes de sal e água, como na diarreia.
- Hipertônica (perda de água): causada por ingestão inadequada de líquidos, suor excessivo ou evaporação transcutânea e/ou vômito.
Pessoas mais velhas são mais suscetíveis à desidratação do que pessoas mais jovens. Existem vários fatores que contribuem para a desidratação entre os idosos:
- Redução da sensação de sede;
- Capacidade reduzida de concentração urinária do rim;
- Fatores cognitivos: comprometimentos como demência dificultam lembrar de ingerir líquidos;
- Fatore físicos: mobilidade reduzida, disfagia e incontinência urinária podem limitar a ingestão;
- Fatores ambientais: menor adaptação a condições climáticas desfavoráveis.
Avaliação do estado de hidratação
A avaliação do estado de hidratação em idosos é considerada complexa, pois sinais como frequência cardíaca, turgor da pele, boca seca e sensação de sede não são confiáveis.
Embora índices urinários, como gravidade específica e cor da urina, sejam comumente usados, há evidências substanciais sobre sua ineficácia para indicar desidratação. Assim, a ESPEN recomenda a medição direta da osmolalidade sérica ou plasmática, com um limite para desidratação sugerido em 300 mOsm/kg..
Uma outra alternativa é a fórmula para estimar a osmolalidade, que pode identificar desidratação com 85% de sensibilidade e 59% de especificidade:
Osmolaridade = 1,86 × (Na+ + K+) + 1,15 × glicose + ureia + 14 (convertido em mmol/L).
Outras técnicas incluem:
- Bioimpedância: prever volumes de água corporal (TBW e ECF), mas pode ser imprecisa em mudanças agudas e não é ideal para idosos.
- Técnicas de diluição de traçadores, como D2O e H218O, são o padrão-ouro para medir TBW, mas são custosas e demoradas.
Como nenhum método é totalmente confiável, uma abordagem combinada pode melhorar a precisão do diagnóstico de desidratação. Além disso, novos métodos ou tecnologias com mais disponibilidade, precisão e conveniência precisam ser desenvolvidos no futuro.
Quais as consequências da desidratação em idosos?
A desidratação em idosos pode levar a uma série de problemas de saúde, afetando diversos sistemas fisiológicos.
Alterações metabólicas e degenerativas relacionadas à idade: a desidratação crônica leve contribui para o desenvolvimento de doenças degenerativas relacionadas à idade, prejudicando o metabolismo e encurtando a vida.
Saúde da pele: A desidratação afeta negativamente a hidratação da pele, especialmente na camada externa (estrato córneo), comprometendo a função de barreira e causando ressecamento, um problema comum em idosos.
Função neurológica: A desidratação está associada ao declínio cognitivo, prejudicando a concentração, memória, humor e a velocidade psicomotora em idosos. Assim, afeta negativamente a qualidade de vida e a capacidade de realizar atividades diárias.
Função gastrointestinal: A desidratação em idosos também pode afetar negativamente o sistema gastrointestinal, contribuindo para distúrbios como a constipação.
Função renal: A hidratação adequada é fundamental para a saúde renal, ajudando na filtração e remoção de resíduos.
Saúde metabólica: A desidratação crônica associa-se a um aumento no risco de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2. Beber mais água em vez de bebidas açucaradas pode ajudar a controlar os níveis de glicose e reduzir o risco de doenças crônicas.
Gestão e tratamento da desidratação em idosos
As diretrizes práticas da ESPEN de 2022 sobre nutrição clínica e hidratação em geriatria destacam estratégias essenciais para a prevenção e tratamento da desidratação em idosos. Estas incluem:
Ingestão adequada de líquidos: Os idosos devem consumir ao menos 1,6 L/dia de água para mulheres e 2 L/dia para homens. A ingestão de líquidos pode precisar ser aumentada em climas quentes, durante atividades físicas ou em casos de perdas excessivas de líquidos devido a febre, diarreia ou vômitos. Já em condições como insuficiência cardíaca ou disfunção renal, a ingestão de líquidos pode precisar ser restringida.
Escolha de bebidas: Os idosos podem consumir bebidas hidratantes como chá, café e sucos de frutas.
Estratégias multicomponentes: Para idosos em instituições de cuidados, as estratégias devem incluir a oferta frequente e variada de bebidas, assistência da equipe para garantir hidratação e incentivo ao uso do banheiro.
Tratamento da desidratação: Incentivar os idosos a beber líquidos de sua preferência é fundamental. Caso a desidratação seja grave, a administração subcutânea ou intravenosa de líquidos pode ser necessária para uma reidratação mais rápida. Avaliações regulares de hidratação são essenciais.
Direções futuras na desidratação em idosos
Algumas questões sobre a desidratação em idosos ainda precisam ser respondidas. Estas incluem:
- Qual é a melhor forma de diagnosticar a desidratação neste público?
- Qual é o estado de hidratação ideal? E quanta água devemos beber para atingir esse estado bem hidratado real?
- Qual é a necessidade de líquidos em idosos com doenças como insuficiência cardíaca ou renal?
Além disso, o dispositivo padrão tradicional para medir a osmolaridade sérica é inconveniente e relativamente grande, e é usado principalmente em ambientes hospitalares. Um novo dispositivo portátil que possa ser facilmente aplicado em moradores da comunidade precisa ser desenvolvido para medir a hidratação.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Li S, Xiao X, Zhang X. Hydration Status in Older Adults: Current Knowledge and Future Challenges. Nutrients. 2023 Jun 2;15(11):2609. doi: 10.3390/nu15112609. PMID: 37299572; PMCID: PMC10255140.