Ferimentos são rupturas teciduais que demandam tempo e energia para cicatrização. Esse processo é composto por algumas fases, que vão desde a hemostasia (manutenção do sangue fluido no interior do vaso sanguíneo) até a restauração da função de barreira da pele. Essa é uma dinâmica fisiológica complexa, mas leva em média de 3 a 4 semanas para ser finalizada. Caso as fases mencionadas ocorram de forma desordenada e fora desse período, a ferida é considerada de difícil cicatrização. Esse tipo de complicação geralmente se aplica a lesões por pressão ou feridas nos pés de diabéticos, e pode gerar infecções graves e comprometimento da qualidade de vida.
A cicatrização adequada depende de diversos nutrientes. Aminoácidos como a arginina estimulam a sinalização e proliferação celular que promoverão o reconhecimento e cicatrização da ferida. A arginina é precursora de prolina, uma molécula de sinalização que participa de reações redox em humanos, constituindo junto ao seu metabólito (hidroxiprolina), um terço dos aminoácidos formadores de colágeno, proteína essencial para a cicatrização.
Nesse sentido, sabe-se que a nutrição desempenha um papel importante no poder de cura e cicatrização de feridas. Para melhor explorar esta questão, um grupo de pesquisadores decidiu avaliar a eficácia de suplementos nutricionais orais especializados na reparação de feridas de difícil cicatrização.
Para essa pesquisa, 30 pacientes com lesões de difícil cura foram selecionados e monitorados no ambulatório de feridas e pé diabético do Hospital Pilar, em Curitiba/PR. Foram incluídos homens e mulheres com idade entre 39 e 89 anos. Metade deles tinha diabetes do tipo 2. Aproximadamente 60% dos diabéticos eram hipertensos e outros 6 hipertensos incluídos não eram diabéticos. A maioria (96%) das feridas estavam localizadas nos membros inferiores.
Os pacientes foram divididos em grupo controle e grupo suplemento. O grupo suplemento recebeu suplementação oral com arginina, prolina, vitaminas A, C e E, zinco e selênio, administrada em doses de 200 ml duas vezes ao dia, durante quatro semanas consecutivas.
O monitoramento ocorreu durante esse mesmo período em 5 momentos distintos, nos quais foram avaliados a área da superfície da ferida e o perímetro. Com essas informações, foi possível calcular a taxa de contração da ferida e o crescimento linear de suas bordas.
Os resultados demonstram que o grupo suplemento apresentou crescimento médio semanal da borda da ferida de 3 mm em pacientes não diabéticos e 1,85 mm em pacientes diabéticos, alcançando uma taxa de redução de até 15% por semana. Este resultado foi considerado satisfatório, pois feridas com redução percentual de área de 30 a 50% nas primeiras duas a quatro semanas são potencialmente curáveis.
Os pesquisadores consideram que apesar da complexidade do processo de cicatrização, a nutrição pode contribuir positivamente na recuperação das rupturas teciduais, mesmo aquelas de difícil cura.
Referência
Mehl AA, Damião AO, Viana SD, Andretta CP. Hard-to-heal wounds: a randomised trial of an oral proline-containing supplement to aid repair. J Wound Care. 2021 Jan 2;30(1):26-31.
