Uso de medicação diminui a necessidade de contagem de carboidratos?

Uso de medicação diminui a necessidade de contagem de carboidratos?

No manejo do diabetes tipo 1 (DM1), o teor de carboidratos das refeições é o principal determinante da necessidade de insulina prandial. Consequentemente, a contagem precisa de carboidratos é recomendada para pessoas com DM1 e está associada à melhor controle glicêmico. No entanto, a contagem é considerada um desafio e está associada a um erro médio de aproximadamente 20%, que pode não eliminar a hipoglicemia pós-prandial.

A administração automatizada de insulina em circuito fechado (pâncreas artificial) é uma estratégia clínica que automatiza a administração de insulina por meio de uma bomba de insulina com base nas leituras do sensor de glicose e um algoritmo de dosagem. Comercialmente, os sistemas disponíveis são denominados “sistemas híbridos automatizados de administração de insulina”, pois automatizam a administração de insulina basal, mas exigem que o usuário estime a insulina prandial através de contagem de carboidrato das refeições.

Osinibidores do cotransportador sódio-glicose (SGLTis) podem representar uma estratégia farmacológica para melhorar o desempenho glicêmico de sistemas automatizados de administração de insulina, reduzindo a exposição glicêmica pós-prandial. Esses agentes inibem a reabsorção de glicose no rim, o que permite que mais glicose seja excretada na urina, reduzindo assim os níveis de glicose no sangue através de um mecanismo insulina independente.

Extensos ensaios clínicos de fase 3 de DM1 foram conduzidos com SGLTis, mostrando redução na HbA1c, peso e pressão sanguínea, sem aumentar a hipoglicemia. No entanto, devido seu mecanismo de ação, SGLTis podem induzir cetose e potencializar a cetoacidose diabética. Apesar de não ter sido aprovado nos Estados Unidos ou Canadá, baixas doses de agentes da classe SGLTi foram aprovadas para uso em pessoas com diabetes tipo 1 na União Europeia e no Japão.

Haidar e colaboradores avaliaram se a adição de empagliflozin, um SGLTi, altamente seletivo para sistemas de administração automatizada de insulina, podem reduzir a necessidade de contagem de carboidratos sem degradar o controle da glicose.

Em um estudo aberto e cruzado, 30 adultos com DM1 foram submetidos a intervenções ambulatoriais de administração automatizada de insulina com três estratégias aleatórias de insulina prandial, em 3 dias sequenciais: contagem de carboidratos, anúncio de refeição simples (sem contagem de carboidratos, fornecendo um bolus de insulina prandial parcial de acordo com o peso corporal) e não anúncio de refeição. Durante cada sequência de estratégias de insulina prandial, os participantes foram aleatoriamente atribuídos para receber empagliflozina (25 mg/dia) ou não, e cruzado para o comparador. Ou seja, a contagem de carboidratos sem empagliflozina (controle) foi comparada com nenhum anúncio de refeição com empagliflozina e anúncio de refeição simples com empagliflozina.

Os participantes tinham 40 ± 15 anos, 27 ± 15 anos de diabetes e HbA1c de 7,6% ± 0,7% (59 ± 8 mmol/mol). O sistema sem anúncio de refeição e empagliflozina não era não-inferior para o braço de controle (glicose média 10,0 ± 1,6 vs. 8,5 ± 1,5 mmol/L; não inferioridade p = 0,94), enquanto o anúncio de refeição simples e a empagliflozina não foram inferiores (8,5 ± 1,4 mmol/L; não inferioridade p = 0,003). Uso de empagliflozina em conjunto com administração automatizada de insulina com contagem de carboidratos foi associada a menor glicose média, correspondendo a um tempo 14% maior na faixa alvo. Apesar de não ter sido observada cetoacidose, os níveis médios de cetonas em jejum foram maiores com empagliflozina (0,22 ± 0,18 vs. 0,13 ± 0,11 mmol/L; p < 0,001).

Em conclusão, a empagliflozina adicionada à administração automatizada de insulina tem o potencial de eliminar a necessidade de contagem de carboidratos e melhorar o controle glicêmico em conjunto com a contagem de carboidratos, mas não permite a eliminação do anúncio de refeição.

Referência

Fonte: Haidar A, Yale JF, Lovblom LE et al. Reducing the need for carbohydrate counting in type 1 diabetes using closed-loop automated insulin delivery (artificial pancreas) and empagliflozin: A randomized, controlled, non-inferiority, crossover pilot trial. Diabetes Obes Metab. 2021;23:1272–1281.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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