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Crianças em UTIs pediátricas geralmente não conseguem se alimentar por via oral, devido aos efeitos da doença grave e seu tratamento. Portanto, recomenda-se a nutrição enteral para evitar a desnutrição.
No entanto, há evidências limitadas sobre “o que” prescrever como nutrição enteral para este público, tipos de alimentação e impacto na tolerância, alcance de metas nutricionais e, finalmente, resultados do paciente. Além disso, a prática atual é desconhecida.
Uma recente pesquisa científica buscou preencher essa lacuna. O objetivo principal foi descrever a prescrição de nutrição enteral em crianças ≤2 anos de idade em unidades de terapia intensiva pediátricas (UTIP). Além disso, os autores também buscaram descrever as práticas de terapia nutricional oral entre os pacientes. Confira os detalhes a seguir.
Metodologia
Neste recente estudo de coorte, pesquisadores incluíram 84 crianças ≤2 anos, admitidas em UTIPs da Austrália e Nova Zelândia.
Os dados foram coletados por nutricionistas de cada unidade, nos dias de admissão 1 a 7, 14, 21 e 28. As informações de interesse incluíram:
- Modo de nutrição
- Detalhes da prescrição de nutrição enteral – uso de leite materno ordenhado, alimentação com maior densidade energética e proteica e alimentação “especializada” (específica para cada condição, incluindo fórmulas baseadas em peptídeos, específicas para rins e com gordura modificada)
- Terapia nutricional oral prescrito – ingestão oral com a intenção de fornecer mais energia e/ou proteína (incluindo bebidas de suplemento nutricional oral e fortificação de fluidos consumidos oralmente com fórmula infantil em pó ou módulos de macronutrientes)
- Intervenção do nutricionista
Características da terapia nutricional em UTIs pediátricas
Nutrição enteral
A nutrição enteral (sozinha ou em combinação com outros modos) foi administrada a 79 (94%) crianças. Nesse sentido…
→ 54% (n=43) receberam fórmula enteral.
- 21% (n=9) receberam fórmula enteral especializada.
→ 57% (n=45) receberam leite materno ordenhado como suporte enteral.
- 13% (n=6) receberam leite materno ordenhado com fortificação por meio da adição de fórmula infantil.
→ 1% (n=1) recebeu leite pasteurizado de doadora como suporte enteral.
Como visto, aproximadamente metade das crianças recebeu leite materno ordenhado como nutrição enteral. Entre seus muitos benefícios, a natureza imunológica do leite materno extraído é de importância crescente entre bebês gravemente doentes. No entanto, a extração requer suporte prático e profissional, e pode haver desafios como falta de suporte e equipamento especializado.
Assim, o leite pasteurizado de doadoras oferece uma alternativa, especialmente para bebês com alto risco de enterocolite necrosante (NEC). Contudo, apenas uma criança recebeu essa estratégia.
Terapia nutricional oral
Vinte e duas (26%) crianças receberam ingestão oral durante sua admissão. Nesse sentido…
→ 16 (73%) atingiram <50% de suas necessidades nutricionais estimadas em pelo menos um dia.
→ 14% (n=3) foram prescritas suporte nutricional oral, como leite materno ordenhado fortificado com fórmula infantil em pó ou fórmula infantil concentrada em pó.
Para crianças que estão desmamando a nutrição enteral ou aquelas que podem evitar a NE, a terapia nutricional oral é uma intervenção simples para aumentar a ingestão nutricional. Entretanto, o estudo sugere uso pouco frequente, apesar da maioria das crianças atenderem a menos da metade de suas necessidades estimadas.
A priorização da expertise nutricional para terapia nutricional enteral e parenteral pode explicar essa descoberta.
Aumento da densidade energética e proteica
Quatorze (33%) e 3 (14%) crianças receberam alimentação com aumento da densidade energética e proteica por meio de fórmula administrada enteralmente e terapia nutricional oral, respectivamente.
O fornecimento de nutrição enteral com aumento da densidade energética e proteica foi significativamente maior entre aquelas para as quais o tratamento envolveu um nutricionista.
Conclusão
Em suma, em UTIs pediátricas, o leite materno ordenhado é uma opção frequente de nutrição enteral. Além disso, a prescrição nutricional oral é pouco frequente, e uma maior oferta de energia e proteína parecem ser mais fornecidas para aqueles em que um nutricionista estava envolvido.
Segundo os autores, pesquisas futuras são necessárias para saber quais alimentos orais e enterais podem estar associados a melhores resultados para os pacientes e custos gerais reduzidos.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Winderlich J, Little B, Oberender F, Bollard T, Farrell T, Jenkins S, Landorf E, McCall A, Menzies J, O’Brien K, Rowe C, Sim K, van der Wilk M, Woodgate J, Paul E, Udy AA, Ridley EJ. Characteristics of enteral and oral nutrition support among infants and young children in the pediatric intensive care unit: A descriptive cohort study. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2024 Oct;48(7):803-809. doi: 10.1002/jpen.2672. Epub 2024 Jul 22. PMID: 39037417.