Síndrome pós-terapia intensiva (PICS): definição, fatores de risco e papel da nutrição

Síndrome pós-terapia intensiva (PICS): definição, fatores de risco e papel da nutrição

síndrome pós-terapia intensiva
Fonte: Canva

Durante a internação de pacientes críticos, a inflamação sistêmica, a resposta catabólica e a imobilização prolongada podem levar à fraqueza adquirida na unidade de terapia intensiva (FA-UTI), uma condição caracterizada pela deterioração progressiva da função física.

Quando combinada com comprometimentos cognitivos ou psicológicos, pacientes com FA-UTI correm o risco de desenvolver síndrome pós-tratamento intensivo (PICS).

Uma recente revisão científica buscou identificar o impacto da terapia nutricional na prevenção da PICS e no seu subsequente desenvolvimento. Confira os achados a seguir.

O que é a síndrome pós-terapia intensiva?

A síndrome pós-terapia intensiva, também conhecida como “síndrome pós-cuidados intensivos” ou “PICS” (post-intensive care syndrome) é um termo coletivo que descreve uma tríade de comprometimentos físicos, cognitivos e mentais que ocorrem durante a internação na UTI ou após a alta.

Em um estudo epidemiológico no Japão, a prevalência de PICs 6 meses após a alta da UTI foi de 64%, com:

  • 32% apresentando comprometimento físico
  • 38% – comprometimento cognitivo
  • 15% – comprometimento mental
  • 18% – múltiplos comprometimentos funcionais

A PICS afeta não apenas o prognóstico a longo prazo de um paciente em recuperação de lesão grave; as famílias dos pacientes também podem desenvolver transtornos mentais como resultado de estresse mental severo durante a hospitalização.

Quais os fatores de risco?

Os fatores de risco para o desenvolvimento de síndrome pós-terapia intensiva incluem o paciente, a doença, o tratamento e fatores ambientais.

Os fatores não evitáveis ​​incluem:

  • Gravidade da doença 
  • Comprometimento cognitivo já presente antes da UTI
  • Síndrome da resposta inflamatória sistêmica
  • Sepse
  • Falência de múltiplos órgãos
  • Hiperlactatemia
  • Duração da ventilação mecânica
  • Sexo feminino
  • Idade avançada 

fatores evitáveis ​​incluem:

  • Hiperglicemia associada à inflamação sistêmica
  • Estimulantes do receptor beta
  • Corticosteroides
  • Agentes bloqueadores neuromusculares
  • Antimicrobianos
  • Uso prolongado de sedativos 
  • Fatores ambientais como salas fechadas, iluminação à noite, ruído e ruído de fundo

Papel da nutrição na prevenção da síndrome pós-terapia intensiva

Durante a internação na UTI, o comprometimento da função física está associado à perda muscular que ocorre como resultado da resposta catabólica à utilização de proteínas como fonte de energia, e também como componentes do sistema inflamatório para sustentar a resposta humoral.

Nesse contexto, a nutrição adequada em energia e proteína deve prevenir a perda excessiva de massa muscular e o comprometimento da função física durante doenças críticas, enquanto a desnutrição contribui para a perda muscular e o comprometimento da função física.

Embora a resposta catabólica não seja suficientemente atenuada pelo fornecimento de fontes exógenas de energia, sugere-se que ela ajude a manter a pequena quantidade de resposta anabólica, mitigando a perda excessiva de massa muscular.

Recomendações gerais de nutrição para pacientes críticos incluem:

– Determinar as metas de fornecimento de energia de acordo com o gasto energético medido por calorimetria indireta, considerando as alterações metabólicas durante a fase inicial de pacientes críticos;

– Evitar a superalimentação, com o fornecimento de energia sendo iniciado com uma pequena quantidade e progredindo cuidadosamente até atingir as metas;

– Suplementação proteica de acordo com as metas. Se espera que a suplementação rica em proteínas de 1 a 2 g/kg de peso corporal reduza a perda de massa muscular e preserve a função física. Porém, em pacientes sépticos, recomenda-se uma quantidade reduzida de proteína (< 1 g/kg de peso corporal);

– Nutrição enteral precoce para preservar a integridade intestinal e reduzir o risco de complicações infecciosas;

– Considerar nutrição parenteral para pacientes com desnutrição.

Infelizmente, nenhum ensaio clínico importante teve a PICS como desfecho primário, e evidências para atenuar a condição por terapia nutricional não foram estabelecidas até o momento.

Dificuldades e soluções relacionadas à síndrome pós-terapia intensiva 

A dificuldade na prevenção de PICS reside no difícil reconhecimento até que os sintomas se desenvolvam e os pacientes estejam estabilizados o suficiente para o desmame de sedativos e terapias de suporte mecânico de órgãos. Nesse momento, os sintomas já progrediram a ponto de tornar inevitáveis ​​internações prolongadas na UTI e no hospital.

Também é difícil prever quais pacientes se tornariam candidatos a PICS, assim como é difícil prever a recuperação ou a deterioração de pacientes gravemente enfermos durante os primeiros dias de tratamento. 

É por isso que a intervenção precoce é recomendada em todos os pacientes gravemente enfermos.

Alimentar pacientes gravemente enfermos de forma eficiente e segura é outra questão. Embora a nutrição enteral precoce seja universalmente recomendada, a intolerância frequentemente impede a ingestão nutricional suficiente. A NE também pode levar a danos em pacientes hemodinamicamente instáveis, na forma de isquemia mesentérica .

Por isso, o monitoramento é crucial para o sucesso dos procedimentos de alimentação. Protocolos de alimentação individualizados, implementados por nutricionistas e enfermeiros como equipes multidisciplinares, têm demonstrado resultados promissores no aumento da adequação do regime alimentar, no aumento da síntese de proteína muscular e na promoção da reabilitação.

Conclusão

Em resumo, a síndrome pós-terapia intensiva é uma ameaça crescente para pacientes críticos, e a prevenção é de extrema importância, dada a dificuldade de tratá-los após o diagnóstico. 

Ainda há muitas questões a serem respondidas sobre o potencial papel da terapia nutricional. Mais estudos são necessários para otimizar as intervenções.

Para ler o artigo científico completo, clique aqui.

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Referência:

Oshima T, Hatakeyama J. Nutritional therapy for the prevention of post-intensive care syndrome. J Intensive Care. 2024 Jul 29;12(1):29. doi: 10.1186/s40560-024-00734-2. PMID: 39075627; PMCID: PMC11285132.

Pós-graduação de Nutrição Clínica

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