A terapia nutricional em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) assume papel determinante para promoção de desfechos clínicos positivos. A compreensão da fisiopatologia da desnutrição energético-protéica entre pacientes de UTI pode auxiliar o desenvolvimento de estratégias para minimizar efeitos deletérios advindos de deficiências nutricionais e promover melhores condições para a terapia nutricional adequada.
Apesar da desnutrição hospitalar ser uma questão muito comum na prática clínica, ainda existem muitas evidências controversas sobre o alcance das necessidades nutricionais em pacientes de UTI. A desnutrição pode resultar de hipermetabolismo ou ingestão inadequada de energia e proteína, mas o estado crítico muitas vezes impõe restrições que limitam o aporte nutricional ideal.
Um estudo recente avaliou a adequação nutricional atual em diversas regiões do Irã, considerando o diagnóstico inicial na admissão, prevalência de desnutrição na admissão, comorbidades associadas e características da UTI. Um total de 1.321 pacientes foram avaliados em cinquenta UTIs de hospitais públicos. A adequação nutricional foi definida como a diferença entre a ingestão e as necessidades de energia e macronutrientes, que foram calculadas considerando 25-35 kcal / kg de peso corporal ideal, 1,2-2 g de proteína/ kg de peso corporal ideal, 50% da necessidade total de energia de carboidratos e 30% da necessidade total de de energia de lipídios (Diretriz da American Society for Parenteral and Enteral Nutrition – A.S.P.E.N.).
Os pacientes foram divididos em três grupos: subalimentação (<80% das necessidades), alimentação adequada (80-110% das necessidades) e superalimentação (> 110% das necessidades). Durante a internação na UTI, a maioria dos pacientes (66%) receberam terapia nutricional, principalmente por via enteral (57,2%) ou oral (37%). A taxa de desnutrição foi de 32,6%. Os pacientes receberam 59,2% (± 37,78) das calorias e 55,5% (± 30,04) das proteínas necessárias e a ingestão adequada de energia e proteína foi fornecida para 16,2% e 10,7% dos pacientes, respectivamente.
As necessidades nutricionais não foram devidamente atendidas para a maioria dos pacientes tanto em termos de energia (p <0,001) quanto de proteína (p <0,001). Apenas 20% da população estudada recebeu nutrição adequada, mas os pacientes com maior risco nutricional (medido por NUTRIC Score) apresentaram maiores taxas de adequação da terapia nutricional.
De acordo com os resultados do estudo, os autores indicam que a avaliação nutricional completa deve ser preconizada desde o primeiro dia de internação, a fim de aplicar as recomendações das diretrizes existentes para reduzir a lacuna entre as necessidades nutricionais e a ingestão do paciente.
Por Natasha Machado
Referência:
Javid Z, et al. Nutritional adequacy in critically ill patients: Result of PNSI study. Clin Nutr. 2021 Feb;40(2):511-517. doi: 10.1016/j.clnu.2020.05.047.
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