A síndrome do intestino curto (SIC) geralmente decorre de uma ressecção extensa de intestino e uma metragem residual menor que 200 cm já define a síndrome. As consequências gastrointestinais são diversas e vamos prepará-lo para identificar essas condições e tratá-las adequadamente. Um estudo de revisão francês descreveu todas as alterações gastrointestinais decorrentes da SIC que vamos resumir a seguir: A evolução após uma ressecação extensa de intestino pode ser dividida em 3 fases:
- Fase Aguda – Pós-operatório até 6 semanas:
- Importância em manejar os distúrbios hidroeletrolíticos e decorrentes da diarreia, das perdas em ostomia, cursando com desidratação, alteração em eletrólitos e má absorção de nutrientes
- Fase de Adaptação – por volta de 2 anos após a ressecção:
- A adaptação intestinal acontece especialmente nos pacientes com a presença dos cólons em continuidade no trânsito intestinal
- Ocorre, em geral, um mecanismo de hiperfagia compensatória, com tendência à melhora no equilíbrio energético e hidroeletrolítico
- As mudanças intestinais contam com hiperplasia do epitélio intestinal, hiperplasia de criptas com aumento de sua celularidade
- Manutenção dos cólons na continuidade do trânsito intestinal pode auxiliar na absorção de sódio e água, bem como ser fonte adicional de energia pela utilização dos ácidos graxos de cadeia curta pelos colonócitos
- Fase de Estabilidade:
- Seguem-se as complicações da Nutrição Parenteral Domiciliar, como as infecções e tromboses de cateter venoso central,
- A doença hepática e as afecções de vias biliares decorrentes da insuficiência intestinal e uso prolongado de NP
- Se os colons permanecera em continuidade, há possível formação de cálculos renais de oxalato de cálcio e formação de acidose d-lática
- Desnutrição, deficiências de micronutrientes e osteopenia/osteoporose
As condutas frente a essas alterações relacionam-se ao uso de Inibidores de bomba de prótons frente à hipersecreção gástrica; uso de solução reidratante oral para otimizar absorção de água e eletrólitos; suplementação de micronutrientes; uso de terapias nutricionais com dieta oral adaptada, nutrição enteral e/ou parenteral; uso de medicações para aumentar o tempo de trânsito, como a loperamida e codeína; uso de análogos do GLP2, um enterohormônio que estimula o aumento das vilosidades intestinais, aumenta a profundidade das criptas, reforça a função de barreira intestinal e diminui a velocidade de trânsito. O estudo reforça a complexidade no manejo dos pacientes com SIC e nos convida à atualização e estudos constantes no tema para realmente podermos auxiliar na condução desses pacientes. Referência: Dreuille B, Fourati S, Joly F, Bihar JB, gall M. Le Syndrome de Grêle Court Chez l’Adulte. De I’Insufficience Intestinale à L’Adaptation Intestinale. Médicine Sciences. 2021: 37(8-9): 742-751.