Pressão intra-abdominal é marcador de intolerância à nutrição enteral em pacientes críticos?

Pressão intra-abdominal é marcador de intolerância à nutrição enteral em pacientes críticos?

Nutrição enteral (NE) é a via de acesso preferencial para nutrir pacientes críticos que não conseguem se alimentar por via oral. Apesar de estar associada a inúmeros benefícios clínicos, a NE não é totalmente isenta de complicações gastrointestinais (CGI). Dessa forma, um estudo recente conduzido por Bordejé objetivou determinar se a elevada pressão intra-abdominal (PIA) poderia ser um marcador de intolerância a dieta e estaria associado com uma maior taxa de complicações gastrointestinais relacionadas a NE.

O estudo observacional prospectivo foi realizado em 28 Unidades de Terapia Intensiva durante o período de quatro meses. Os pacientes foram examinados diariamente para detectar a presença de CGI, e caso apresentasse, o paciente era considerado como apresentando intolerância a NE. A pressão intra-abdominal foi mensurada através da anexação do Sistema de pressão abdominal® (CONVATEC®) ao cateter vesical. As medidas eram realizadas a cada 6 horas com o paciente em decúbito dorsal sem contração abdominal. A PIA da pré CGI foi definida como o valor de PIA mais próximo possível a uma complicação subsequente. As variáveis de desfecho investigadas foram dias em ventilação mecânica, tempo de permanência na UTI, pontuação do escore de gravidade SOFA nas primeiras 24 horas, pontuação no SOFA no dia 5, pontuação final no SOFA (SOFA no final de NE) e resultado final do paciente.

Fizeram parte do estudo 247 pacientes, os quais foram divididos em Grupo A (pacientes sem complicação GI – 119) e Grupo B (pacientes com complicação GI – 128). Foram monitorados um total de 2.494 dias de dieta enteral. O tipo de dieta utilizada não determinou a ocorrência de complicações. O volume diário médio de dieta enteral infundida foi semelhante entre os dois grupos. A proporção de volume foi maior em pacientes sem CGI.

Mais pacientes do grupo A foram retirados da NE e mudados para uma dieta oral. Diarreia foi a principal complicação gastrintestinal do Grupo B (19%), seguido por constipação. Pacientes com CGI (grupo B) tiveram mais dias de NE, de ventilação mecânica e tempo de permanência na UTI do que pacientes sem complicações gastrointestinais (grupo A).

A mortalidade na UTI foi semelhante nos dois grupos. A PIA média diária foi semelhante entre os grupos, mas a PIA máxima diária foi maior nos pacientes do grupo B. Para pacientes do grupo B, o valor médio da PIA antes das complicações gastrointestinais foi maior: 15,8 ± 4,8 mmHg. A curva ROC indicou baixo poder diagnóstico da PIA para predizer a ocorrência de complicações gastrointestinais. Um valor de PIA de 14 mmHg foi identificado nas curvas de sensibilidade versus especificidade como o melhor corte para predizem complicações gastrointestinais, mas apresentam baixa sensibilidade (58,6%) e baixa especificidade (48,7%).

Assim, os autores concluiram que os valores de PIA estão aumentados em pacientes críticos com intolerância a NE. No entanto, não foi encontrado um ponto de corte para a PIA que pudesse predizer intolerância a NE, não sendo esta um bom marcador de intolerância a dieta enteral.

Referência: Bordejé ML et al. Intra-Abdominal Pressure as a Marker of Enteral Nutrition Intolerance in Critically Ill Patients. The PIANE Study. Nutrients. 2019, 1;11(11).

Por: Marcella Gava

Pós-graduação de Nutrição Clínica

Compartilhe este post