A American Heart Association (AHA) publicou recentemente um posicionamento sobre obesidade e doenças cardiovasculares (DCV). O intuito do documento é reunir a literatura sobre o impacto da obesidade no diagnóstico, manejo clínico e desfechos cardiovasculares, bem como descrever os efeitos de intervenções para perda de peso relacionados às DCVs.
O documento reforça que diversas organizações formadas por um painel de especialistas recomendam a aferição da circunferência da cintura na avaliação clínica como marcador de risco para DCV, devido ao excesso de tecido adiposo visceral (TAV) relacionar-se com o aumento deste risco. Além disto, a adiposidade visceral avaliada pela razão cintura- quadril ou exames de imagem são marcadores de risco cardiovascular, independente do IMC. Igualmente, o aumento da adiposidade nos tecidos pericárdico e epicárdico também se relaciona com maior risco de DCV. As intervenções no estilo de vida, em especial quando se combina mudanças dietéticas e exercícios físicos aeróbicos, tem impacto na redução do TAV e nos tecidos pericárdico e epicárdico.
São abordados algumas doenças e desfechos cardiovasculares específicos, como a doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca (IC) e morte súbita. A fisiopatologia da DAC na obesidade envolve diversos mecanismos, incluindo a resistência insulínica e a inflamação crônica de baixo grau, que aceleram o processo de aterosclerose. Os objetivos principais do manejo da obesidade na DAC são: redução de peso corporal, prevenir o reganho de peso e manter peso corporal adequado ao longo do tempo. A dieta mediterrânea já está bem estabelecida para redução do risco de eventos coronarianos maiores em pacientes com altos riscos cardiovasculares.
O excesso de adiposidade promove alterações diretas e indiretas sobre o miocárdio, podendo resultar em IC. O aumento do IMC aumenta o risco de incidência de IC. Demais parâmetros antropométricos são associados com a doença, como circunferência da cintura, razão cintura-altura e relação cintura-quadril. A prática de exercícios físicos regulares está associada com melhores prognósticos da IC, independente do IMC. Em idosos obesos com risco aumentado para IC, é recomendado a manutenção do peso, focando na melhora de desfechos funcionais, ao invés da perda de peso. Na IC avançada, maior massa muscular e tecido adiposo em excesso são protetores de caquexia e sarcopenia, que por sua vez, estão associados com pior prognóstico da IC. Por outro lado, a obesidade mórbida está associada a piores desfechos da IC avançada, além de ser contraindicado o transplante cardíaco nesta condição. Assim, a perda de peso nestes pacientes promovida de forma multidisciplinar, incluindo restrição calórica, exercícios físicos e até a cirurgia bariátrica, permite a realização de transplante cardíaco.
Ademais, a obesidade é fator de risco para morte súbita, sendo que o aumento de 5 unidades no IMC associa-se a 16% no aumento do risco. Sabe-se que a morte súbita é responsável por aproximadamente metade de todas as mortes decorrentes de DCV e, portanto, a obesidade deve ser o alvo central para a prevenção deste desfecho fatal.
Por fim, o documento sumariza algumas recomendações para pesquisas futuras, como por exemplo o desenvolvimento de intervenções dietéticas em grandes estudos randomizados controlados a fim de identificar padrões alimentares adequados ou dietas personalizadas para redução do risco cardiovascular na obesidade.
O posicionamento completo pode ser acessado, clicando aqui.