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Mundialmente, um número substancial de mortes infantis ocorrem após a alta de uma unidade de saúde, dentre de 6 meses. Entretanto, os esforços para lidar com tais mortes não recebem o devido nível de atenção, e as razões são multifacetadas.
Uma revisão sistemática e meta-análise, com 46 estudos únicos, buscou atualizar o conjunto de evidências sobre a carga e os fatores de risco associados à mortalidade pediátrica pós-alta após doença aguda em ambientes com poucos recursos.
A maioria dos estudos analisados pelos pesquisadores foram conduzidos na África, Sudeste Asiático ou ambos. Os delineamentos incluíram coortes prospectivas, ensaios clínicos randomizados, e coortes retrospectivas. O período de acompanhamento variou de 7 dias a 5 anos.
A seguir, confira os principais achados.
Quais as principais condições que levam a mortalidade pediátrica pós-alta?
Crianças internadas por malária, doença diarreica, doença aguda e pneumonia apresentaram a maioria dos óbitos nos primeiros 3 meses após a alta. No entanto, crianças internadas com anemia grave, desnutrição grave e infecção pelo HIV apresentaram taxas de mortalidade persistentes ao longo de todo o período de 12 meses após a alta.
O tempo mediano até a morte entre esses subgrupos de doenças variou de 3,3 a 8,5 semanas, sendo a diarreia o menor tempo mediano até a morte e a anemia o maior.
Utilizando curvas de mortalidade combinadas, a mortalidade pós-alta estimada em um, três, seis e doze meses foi de 1,5%, 3,0%, 4,3% e 5,5%, respectivamente.
Dos estudos em subgrupos de doenças individuais, as maiores estimativas combinadas de mortalidade de 6 meses após a alta foram relatadas para:
- Crianças admitidas com desnutrição grave (12,2%)
- Crianças infectadas com HIV (10,2%)
- Crianças com anemia grave (6,4%)
Os achados reafirmam que aproximadamente uma em cada vinte crianças internadas com doença aguda geral morre dentro de 6 meses após a alta.
Entre os estudos que mediram as mortes ocorridas durante e após o período de hospitalização, as mortes pós-alta foram responsáveis por uma proporção significativa do total de mortes, mas isso foi particularmente alto entre crianças admitidas com anemia grave ou desnutrição grave, onde o período pós-alta contribuiu para 70,9% e 55,4% do total de mortes, respectivamente.
A proporção de mortalidade pós-alta em relação à mortalidade hospitalar foi menor para pneumonia (27,5%), embora isso tenha sido baseado apenas nos resultados de um estudo.
Por que o risco aumenta após a alta?
A chave para entender a mortalidade pediátrica pós-lata reside no ciclo vicioso de doença e desnutrição. O próprio processo de hospitalização e a doença aguda impõem um estresse metabólico significativo, muitas vezes resultando em uma piora do estado nutricional, mesmo após o sucesso clínico.
Os principais fatores de risco identificados que se estendem para o ambiente domiciliar incluem:
- Desnutrição persistente: o enfraquecimento do sistema imunológico pela má nutrição prévia e durante a internação torna a criança suscetível a reinfecções.
- Falta de acompanhamento: pouco acesso a cuidados de saúde primários, incluindo vigilância nutricional e suplementação, no período pós-alta.
- Fatores socioeconômicos: pobreza, insegurança alimentar e falta de saneamento básico, que são as raízes da desnutrição.
Para os profissionais de saúde, isso exige uma mudança de foco: o cuidado não pode terminar na porta do hospital. A intervenção nutricional deve ser uma prioridade absoluta no planejamento da alta.
Leia também: Cuidados com a nutrição pós-alta hospitalar
O que podemos concluir?
Em conclusão, a meta-análise confirma as altas taxas de mortalidade pediátrica pós-alta, principalmente em países com poucos recursos.
O desenvolvimento de estratégias de gestão, particularmente focadas em grupos de risco, como aqueles com desnutrição ou anemia, é urgentemente necessário.
A estratégia e o investimento em saúde global devem, portanto, incluir a mortalidade pediátrica pós-alta como uma área-chave para pesquisa e inovação política.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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