A desnutrição é um grande desafio para profissionais e para o sistema de saúde. Além de sua alta prevalência no ambiente hospitalar, está relacionada a maiores complicações, tempo de internação, custos hospitalares e mortalidade.
A impedância bioelétrica (BIA) é um método não invasivo e de baixo custo que, por meio da passagem de correntes elétricas de baixa frequência, é capaz de estimar a composição corporal. Medidas de impedância, resistência, reactância e ângulo de fase (AF) oferecem os dados utilizados para determinação de gordura corporal, massa livre de gordura, água intra e extracelular que são parâmetros muito úteis para o acompanhamento nutricional. Além disso, ao derivar de parâmetros medidos diretamente (razão da reactância para a resistência), o AF não depende de dados de peso e da altura e é considerado índice da integridade de membranas celulares e medida da saúde celular.
Com o objetivo de investigar o valor preditivo do AF da bioimpedância e sua relação com desfechos clínicos, Giorno e colaboradores realizaram um estudo observacional retrospectivo em 168 pacientes adultos (52,9% mulheres, 47,1% homens), com idade média (± DP) de 73,9 ± 15,9 anos, admitidos em um hospital da Suíça durante o ano de 2019.
Os pacientes foram analisados na admissão pela triagem nutricional Nutritional Risk Screening 2002 (NRS 2002), dados antropométricos, exames laboratoriais, doenças crônicas e BIA foram registrados. Pacientes com menor AF apresentaram menor massa livre de gordura e maior proporção de água extracelular para água corporal total (P <0,001). Os quartis de AF foram associados ao estado nutricional, conforme avaliado pelo NRS-2002: NRS ≥3 (P ≤ 0,001). O AF foi menor nos pacientes com hipertensão (P ≤ 0,001), e as taxas de diabetes mellitus, doença cardiovascular, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica e câncer não diferiram em relação ao AF.
O tempo médio de permanência hospitalar foi de 11,0 ± 7,8 dias. Modelos de regressão linear multivariada mostraram que o tempo de internação foi inversamente proporcional ao AF (P ≤ 0,001). Ao longo de um período de 9 meses, as razões de risco para readmissão, quedas no hospital e mortalidade foram associadas com o ângulo de fase mais baixo (AF quartil 1 versus quartis 2-4) – respectivamente, 2,07 (intervalo de confiança de 95% [CI], 1,28–3,35), 2,36 (95% CI, 1,05–5,33) e 2,85 (95% CI, 1,01–7,39).
Os autores concluíram que o AF foi preditor de tempo de internação hospitalar, readmissão hospitalar, quedas e mortalidade. Deste modo, é sugerido que a avaliação de AF pode ser útil na identificação de pacientes com maior risco e que precisam de terapia nutricional específica no ambiente hospitalar.
Referência:Giorno R., et. al. Phase angle is associated with length of hospital stay, readmissions, mortality, and falls in patients hospitalized in internal-medicine wards: a retrospective cohort study. Nutrition, 2021. v. 85, p.111068.