Está bem estabelecido a importância da mudança do estilo de vida na redução de risco do diabetes mellitus tipo 2 (DM2), porém, até recentemente, nenhum estudo clínico randomizado havia avaliado o impacto da intervenção no estilo de vida em pré-diabéticos envolvendo a participação de seus familiares no seu tratamento.
Nesse sentido, um ensaio clínico randomizado comparou o impacto da mudança do estilo de vida em indivíduos com pré-diabetes avaliando duas formas de conduta: intervenção interdisciplinar familiar (IF) versus intervenção individual, sem participação direta da família (II).
Foram acompanhados 122 indivíduos pré-diabéticos e 101 familiares, tanto no grupo FI quanto no grupo II. No grupo FI, o paciente e seus familiares receberam orientações personalizadas de dieta e exercício. Tanto os pacientes quanto os familiares frequentaram mensalmente um programa de aprimoramento do estilo de vida. No grupo II, apenas os pacientes receberam orientações personalizadas, porém seus familiares foram acompanhados no início e final do estudo. O período de seguimento do estudo foi de 12 meses. Glicose, curva de glicose (AUC), resistência à insulina (RI), função das células β-pancreáticas, composição corporal e perfil lipídico foram avaliados no início do estudo (0 meses), 6 e 12 meses.
Os resultados da pesquisa mostraram que, aos 6 meses de acompanhamento, todas as características antropométricas melhoraram significativamente nos dois grupos, sem diferenças estatísticas entre eles. O consumo calórico diminuiu 3% no grupo II, enquanto houve diminuição de 7% no grupo FI. Em relação aos macronutrientes, o grupo FI teve redução em lipídeos, carboidratos e proteínas; enquanto o grupo II apresentou menor consumo de lipídeos comparado ao FI, e maior consumo de carboidratos e proteínas em relação ao FI. A prática de atividade física aumentou 12% no grupo FI e reduziu no grupo II.
Ambos os grupos apresentaram melhora significativas na glicose de jejum e da função das células β pancreáticas. No grupo FI, foi também observado a melhora da curva de glicose (AUC) e do perfil lipídico (LDL-c e colesterol total) comparado ao grupo II. Os membros da família de ambos os grupos não apresentaram alterações significativas até os 6 meses de seguimento.
Ao longo do período de estudo, a melhora dos parâmetros metabólicos foi mantida no grupo FI, porém não foi observada no grupo II. Nos familiares do grupo II, as mudanças antropométricas (peso, circunferência da cintura, percentual de gordura e índice visceral) alcançadas até os 6 meses de estudo, não foram mantidas ou até pioraram no período de 12 meses de seguimento em relação aos valores iniciais. Por outro lado, no grupo FI, os membros da família mantiveram as medidas corporais até os 12 meses de acompanhamento. Os autores concluíram que a intervenção interdisciplinar familiar contribui para maior engajamento no tratamento preventivo do DM2. Além disso, além do paciente, os membros da família apresentaram manutenção da composição corporal até 12 meses de acompanhamento, podendo, portanto, ser interessante como estratégia preventiva de doenças crônicas como o DM2.
Referência: Vargas-Ortiz K, Lira-Mendiola G, Gómez-Navarro CM, et al. Effect of a family and interdisciplinary intervention to prevent T2D: randomized clinical trial. BMC Public Health. 2020;20(1):97.