O cenário cirúrgico bariátrico mudou significativamente na última década, com a banda gástrica ajustável laparoscópica, sendo substituída por gastrectomia vertical laparoscópica, bypass gástrico e outros procedimentos. Entretanto, esses procedimentos carregam consigo diferentes riscos que podem afetar a fertilidade, a gravidez e o parto.
Revisão sistemática publicada recentemente incluiu estudos de 2000 a 2021 com objetivo de avaliar o impacto da cirurgia bariátrica na gestação e fertilidade.
Viu-se que na população em geral, a taxa de concepção é de cerca de 20% por ciclo, com uma taxa cumulativa de sucesso de 84% em um ano. A literatura atual relata que o risco relativo de infertilidade é três vezes maior em mulheres com obesidade em comparação com mulheres sem obesidade e uma redução estimada na probabilidade de gravidez de 5% por unidade de IMC superior a 29 kg/m². Mulheres com obesidade também experimentam um tempo duas vezes maior para conceber em comparação com mulheres sem obesidade.
A cirurgia bariátrica no que diz respeito à fertilidade e gravidez têm potenciais complicações e benefícios.
Há evidências crescentes sugerindo que a cirurgia bariátrica melhora os riscos de complicações da gravidez. Revisão sistemática de 2008 encontrou três estudos de coorte mostrando uma diminuição na taxa de diabetes mellitus gestacional (0% v 22,1%; p < 0,05) e pré-eclâmpsia (0% v 3,1%; p < 0,05) em pacientes submetidas a cirurgia bariátrica em comparação a mulheres com obesidade que não foram submetidas à cirurgia. Além disso, a cirurgia bariátrica também demonstrou melhorar os resultados neonatais, especificamente a macrossomia (7,7% v 14,6; p < 0,05) e bebês grandes para a idade gestacional (OR, 0,31; 95% CI, 0,17–0,59).
No entanto, é importante observar que existe um risco aumentado de recém-nascido pequeno para a idade gestacional (PIG) em pacientes submetidas a certos tipos de cirurgia bariátrica antes da gravidez, pois um estudo de coorte retrospectivo de controle pareado encontrou um risco significativamente maior de PIG neonatos em mulheres após RYGB (OR, 2,16; IC 95%, 1,43–3,32; p = 0,0003).
Em relação aos cuidados para a condução da gestação em pacientes bariátricos, a diretriz de prática clínica da Associação Americana de Endocrinologia Clínica e Sociedade de Obesidade recomenda que a gravidez seja adiada de 12 a 18 meses após a cirurgia, devido à perda de peso rápida e significativa e insuficiências nutricionais que podem levar a resultados adversos da gravidez.
Além disso, os pacientes pós-cirurgia bariátrica devem ser submetidos a monitoramento rigoroso de sua dieta e nutrição desde a fase pré-concepcional até o período pós-natal. Antes da concepção ou na primeira consulta pré-natal, as pacientes devem ter seu hemograma completo, ferritina, ferro, vitamina B12, folato, tiamina, cálcio e vitamina D verificados, com repetição do teste pelo menos uma vez por trimestre e durante o período pós-parto se estiver amamentando. As associações de endocrinologia e obesidade recomendam que o acompanhamento obstétrico seja complementado com abordagem multidisciplinar.
Os autores concluem que a cirurgia bariátrica pode melhorar as taxas de fertilidade e reduzir o risco de complicações relacionadas à gravidez. No entanto, as gestantes pós-cirurgia bariátrica apresentam maior risco de insuficiências nutricionais durante a gestação e de fetos pré-termo ou PIG. É importante que essas mulheres sejam tratadas no início do período pré-natal com uma equipe multidisciplinar além dos obstetras tradicionais e especialistas em maternidade, envolvendo também cirurgiões bariátricos, médicos bariátricos, nutricionistas bariátricos e o clínico geral da paciente para melhorar os resultados relacionados à gravidez.
Por: Giliane Belarmino
Referencia: Sarah Cheah,Yijun Gao,Shirley Mo,Georgia Rigas,Oliver Fisher,Daniel L Chan,Michael G Chapman,Michael L Talbot. Fertility, pregnancy and post partum management after bariatric surgery: a narrative review. MJA 16 January 2022