O diabetes tipo 1 (DM1) é uma das doenças crônicas mais comuns da infância. O controle glicêmico, a terapia nutricional e a atividade física são os três pilares do manejo do DM1, e são aplicados para manutenção da glicemia, redução da frequência de hipo e hiperglicemia, e diminuição de complicações macro e microvasculares.
Jovens acometidos por pré-diabetes ou diabetes têm risco aumentado de distúrbios metabólicos na idade adulta, especialmente hipertensão, dislipidemia e síndrome metabólica, condições que podem predispor doenças cardiovasculares.
O controle glicêmico é influenciado pela composição da dieta, mas o papel específico da ingestão de diferentes nutrientes ainda é motivo de debate, particularmente no que se refere à ingestão de gordura. Nesse sentido, uma revisão recente foi conduzida para avaliar a relação entre a ingestão de macronutrientes e controle glicêmico, doenças cardiovasculares, inflamação e modificações da microbiota em jovens com DM1.
O estudo considerou que a contagem de carboidratos é uma abordagem muito indicada para controle glicêmico, pois considera o efeito de carboidratos sobre a glicemia pós-prandial e pode facilitar escolhas alimentares e a dosagem de insulina nas refeições. Contudo, a redução da ingestão de carboidratos deve ser compensada pelo aumento da ingestão de proteínas e lipídios e isso pode impactar negativamente o controle metabólico.
Dietas com baixo teor de carboidratos geralmente contêm menos de 100 g de carboidratos por dia, com distribuição de macronutrientes de 50 a 60% de gordura, menos de 30% de carboidratos e 20 a 30% de proteínas. Variações de glicemia também ocorrem após refeições ricas em gorduras e/ou proteínas, e pode haver necessidade de ajuste da dose de insulina para contrabalançar a hiperglicemia tardia.
Na população em geral, são indicadas dietas com 50-55% de energia proveniente de carboidratos, mas estudos indicam possíveis benefícios de dietas com baixo teor de carboidratos em pessoas com DM1. Dentre eles, destacam-se melhora do controle glicêmico, a redução dos níveis de Hb1Ac e da necessidade de insulina, além de atuarem como estratégia para perda de peso.
Na população geral, a relação entre dieta e doenças cardiovasculares tem sido amplamente explorada e se foca na ingestão de lipídeos, devido sua correlação com aumento de colesterol total e LDL. Em indivíduos com DM1, o aumento da inflamação e consequente risco de doenças cardiovasculares também pode ser causado por variações da glicose e hiperglicemia.
Para as organizações de saúde, restrições direcionadas a um macronutriente específico são desencorajadas. As principais recomendações para manejo do DM1 em crianças e adolescentes incluem ingestão de carboidratos em 45-50%; ingestão de gordura não superior a 30-35% (gordura saturada < 10%); ingestão de proteínas 15-20%; ingestão adequada de energia para um ótimo crescimento e manutenção de um peso corporal ideal.
O consumo de alto teor de gordura está associado a uma resposta pós-prandial pró-inflamatória por meio de diferentes mecanismos, incluindo alterações na microbiota intestinal. Esses processos promovem um aumento do risco cardiovascular que já está associado ao diabetes.
Referência:
Garonzi C, Forsander G, Maffeis C. Impact of Fat Intake on Blood Glucose Control and Cardiovascular Risk Factors in Children and Adolescents with Type 1 Diabetes. Nutrients. 2021 Jul 29;13(8):2625.