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A atrofia cerebral relacionada à idade, natural do envelhecimento, é caracterizada por uma redução no volume cerebral. Esse processo foi identificado como um biomarcador precoce para declínio cognitivo, característica de doenças como Alzheimer.
Embora a atrofia cerebral seja um processo inevitável, algumas condições como diabetes tipo 2 e inflamação, podem acelerá-la.
Recentemente, relatou-se que alguns padrões alimentares, como as dietas mediterrânea (MED) e mediterrânea verde (verde-MED) atenuaram significativamente a atrofia cerebral relacionada à idade em cerca de 50% em 18 meses.
Com base nessas descobertas, um recente estudo buscou descobrir quais parâmetros específicos induzidos pela dieta podem contribuir para o desvio do volume cerebral. Conheça os detalhes a seguir.
Dieta saudável x mediterrânea x verde-mediterrânea
Em uma análise post hoc do 18º estudo DIRECT PLUS, pesquisadores reuniram 224 participantes. Os critérios de inclusão foram idade ≥30 anos com obesidade abdominal ou dislipidemia.
Na proporção de 1:1:1, os participantes foram designados entre 3 grupos de intervenção:
- Alimentação saudável de acordo com diretrizes dietéticas (HDG): participantes receberam orientações básicas de promoção da saúde para manter uma dieta saudável.
- Dieta mediterrânea tradicional (MED): dieta mediterrânea com restrição calórica, baixa em carboidratos simples, rica em vegetais, com carne bovina e de cordeiro sendo substituídas por aves e peixes.
- Dieta mediterrânea “verde” (verde-MED): dieta mediterrânea restrita em calorias, rica em polifenóis e pobre em carne vermelha e processada. Consumo de chá verde (3 a 4 xícaras/dia) e shake verde Mankai (produto de lentilha-d’água, 500 ml/dia), totalizando mais de 800 mg/dia de polifenois.
Vale ressaltar que ambos os grupos da dieta mediterrânea consumiram 28 g de nozes/dia (+440 mg/dia de polifenois).
Além da alimentação, todos os participantes receberam intervenções adicionais de estilo de vida, como sessões de atividade física.
Biomarcadores clínicos e antropométricos foram medidos no início do estudo e 18 meses depois. Estes incluíram altura, peso, circunferência de cintura (CC), pressão arterial (PA), medições de frequência cardíaca, amostras de sangue e volumes das estruturas cerebrais por meio de ressonância magnética (RM).
Utilizamos a pontuação de ocupação hipocampal (HOC) (razão entre os volumes do hipocampo e do ventrículo lateral inferior) como um marcador de neurodegeneração e idade cerebral.
Controle glicêmico e dieta MED-verde beneficiaram idade cerebral
Em primeiro lugar, os autores observaram que os participantes maiores desvios do HOC (ou seja, idade cerebral mais jovem) apresentaram menor peso corporal, circunferência da cintura, pressão arterial sistólica e diastólica, níveis de insulina e HbA1c.
Após 18 meses de estudo, maiores mudanças nos desvios do HOC (ou seja, atenuação do declínio da idade cerebral) foram independentemente associadas à melhora nos níveis de:
- HbA1c
- HOMA-IR
- Glicemia de jejum
- Proteína c-reativa
A melhora no estado do diabetes também foi associada a maiores mudanças no desvio do HOC, em comparação a nenhuma mudança ou mudança desfavorável. Essas alterações favoráveis no status do diabetes foram definidas como uma redução nos níveis de HbA1c (mmol/mol) de ≥38,8 (5,7%), correspondente a pré-diabetes/diabetes, para níveis normais de HbA1c (mmol/mol) <38,8 (5,7%).
Um declínio na HbA1c foi ainda associado a maiores alterações de desvio no tálamo, núcleo caudado e cerebelo.
Desse modo, fica evidente que o controle glicêmico melhorado pode ter um efeito benéfico independente na idade cerebral avaliada por ressonância magnética.
Em particular, a maior melhora glicêmica foi observada entre os grupos da dieta MED, especialmente o da dieta mediterrânea verde, onde 58.33% dos participantes apresentaram tal melhora, em comparação com 31.62% e 28.57% dos participantes da dieta MED e HDG, respectivamente.
Por fim, o maior consumo de Mankai e chá verde associou-se a maiores mudanças no desvio do HOC além da perda de peso. Especificamente, o consumo do shake Mankai > 3 vezes/semana e ≥2 xícaras/dia de chá verde apresentaram melhores resultados.
O que explica esses resultados?
O controle glicêmico desempenha um papel central na preservação da saúde cerebral. Sabe-se que o metabolismo prejudicado da glicose aumenta o estresse oxidativo, resultando no acúmulo de proteína β-amiloide e na neurodegeneração cerebral.
Além disso, altas concentrações de insulina no cérebro podem aumentar a secreção de proteína β-amiloide e inibir sua degradação, competindo por enzimas que degradam a insulina.
Dada a distribuição seletiva dos receptores de insulina no hipocampo, a resistência à insulina e a hiperinsulinemia podem contribuir particularmente para a atrofia nessas áreas.
Sendo assim, o controle glicêmico pode reduzir os mecanismos de dano associados ao estresse oxidativo, proteger áreas vulneráveis como o hipocampo e evitar a progressão da neurodegeneração.
Ademais, o potencial mecanismo que explica os benefícios da dieta MED-verde pode ser parcialmente atribuído ao alto teor de polifenois. A planta Mankai inclui mais de 200 polifenóis e metabólitos fenólicos, e tem alto teor fenólico e antioxidante. O chá verde contém catequinas, especificamente epigalocatequina, galato de epicatequina e polifenóis de galato de epigalocatequina.
Sabe-se que os polifenóis são capazes de atravessar a barreira hemato-encefálica (BHE), reduzir a neuroinflamação e induzir a proliferação celular e a neurogênese de início adulto no hipocampo.
Conclusão
Em resumo, a pesquisa mostrou que, em participantes com obesidade abdominal ou dislipidemia, o controle glicêmico melhorado após intervenções para perda de peso pode ter um efeito benéfico na idade cerebral.
O controle glicêmico contribui para os efeitos neuroprotetores na idade cerebral das dietas MED, principalmente a dieta verde-MED. Componentes alimentares ricos em polifenóis, como Mankai e chá verde, podem contribuir para uma idade cerebral mais jovem.
Para ler o artigo científico completo, clique aqui.
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Referência:
Glycemic control contributes to the neuroprotective effects of Mediterranean and green-Mediterranean diets on brain age: the DIRECT PLUS brain-magnetic resonance imaging randomized controlled trial. Pachter, Dafna et al. The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 120, Issue 5, 1029 – 1036.